Paulo Silas 19/04/2021Com a proposta de investigar a relação entre o amor e o desejo na perspectiva da psicanálise, Ana Suy Sesarino Kuss toma como base as teorias de Freud e Lacan para demonstrar como se dá a relação de aproximação e afastamento desses dois conceitos. Sendo dois termos que representam coisas que surgem como resposta para a falta (que nunca é eliminada), a conceituação de cada qual é articulada a fim de que a relação objetivada na obra possa ocorrer levando em conta tudo aquilo que forma cada um desses conceitos, resultando assim num interessante e estimulante estudo psicanalítico que dialoga com a questão dessa conjunção.
Ao longo de quatro capítulos, o livro caminha na direção do apontamento das distinções e aproximações do amor e do desejo. No primeiro, "Desejo, demanda e necessidade", a estrutura da qual nasce o desejo é explicada, expondo ainda alguns importante conceitos psicanalíticos como "das ding" e a fantasia. No capítulo seguinte, "O nascimento do amor", o protótipo infantil que funda a ideia do amor (que vai repercutir no 'eu' como primeiro amor) é exposto em seu desenvolvimento até a fase do amor transferencial. No terceiro capítulo, "O amor como tentativa de resposta ao desejo", algumas considerações sobre a Teoria da Falta de Objeto são feitas, resultando na explanação sobre a ideia do amor cortês. No último capítulo, "Amor, desejo e gozo", a noção lacaniana de gozo é apresentada em seus diversos paradigmas, possibilitando assim que se realize um enlace pelas palavras entre amor, desejo e gozo. É dessa forma que a autora trilha sua exposição de ideias no decorrer da obra com o fim (notoriamente alcançado) de resultar no êxito da pretensão anunciada.
O desejo circula, deslizando de objeto em objeto, buscando suprir a falta - a qual nunca é preenchida. De igual modo o amor não pode eliminar a falta. A falta constitui a psique, pelo que tanto o desejo quanto o amor significam respostas diferentes que buscam afastar a falta, mas sempre sem sucesso. Para além dessa aproximação, amor e desejo se constituem como coisas distintas, não sendo possível unir de forma estável esses dois conceitos. É justamente nesse sentido que se dá a conclusão dessa ótima obra: "é pela impossibilidade da existência da relação sexual que encontramos a possibilidade do amor", pois são justamente as disjunções entre esses que os mantém operantes enquanto tais - "o amor aparece como aquilo que faz uma pausa na metonímia do desejo, mas não a paralisa em definitivo".