@blogleiturasdiarias 01/10/2018Resenha | Gelo e FogoComo relutei para terminar esse segundo volume da trilogia Neve e Cinzas, admito rs. Acho que a antiga fala de que o do exemplar do meio de trilogias é sempre o pior se concretiza com Gelo e Fogo. Não é que em sua totalidade seja ruim, mas peca em trazer mais quando poderia ser menos.
Após três meses do fim de Neve e Cinzas, os invernianos apenas querem reconstruir seu Reino e viver em liberdade. Entretanto sua condutora, Meira, e povo ainda possui uma grande dívida com Cordell, e no retorno para seu Reino eles serão obrigados a buscar o abismo de magia perdido de Primoria. E não será surpresa quando a procura pelo abismo retornar com informações positivas, que ao mesmo tempo demandará preocupação afinal Cordell não está em Inverno com boas intenções e cordialidades somente. Dentro de batalhas sobre poder e domínios de terra, antigos inimigos poderão retornar, colocando toda uma guerra vencida em risco. Será capaz de Meira resistir a esse intenso jogo político? Será que a Ruína foi completada destruída? E Angra?
Geralmente enredos intermediários de uma série ou trilogia tendem a ter grandes falhas em desenvolvimento, e aqui não foi diferente. Não cheguei a desgostar, contudo o início e o meio são extremamente arrastados — ao limite de quase abandonar. Sei que para a construção de uma aventura maior, que tornou-se o carro chefe do livro, é necessário explicações longas. Porém, em alguns momentos a autora exagerou demais. Tem-se uma boa quantidade de páginas que enrola, que traz descrições e cenas descartáveis ou desinteressantes; tem um ar permeante de dúvidas da própria Sara Raasch por onde seguir. Quando as respostas do enredo começam a aparecer, e ela aparenta direcionar uma escolha definitiva, a trama surpreende.
Algumas reviravoltas já me eram aguardadas. O andar da narrativa deixava no ar a possível volta de um personagem, e a sacada foi a forma de como e o porquê houve sua volta. Nos é transpassado mais elementos do universo, de modo instigante e que desperta o interesse do leitor. Não imaginei as informações que culminaram em um dos maiores plots twists do exemplar, se não o maior, o que espera-se de uma boa fantasia. Tem um quê de clichê com relação a esse componente, entretanto quem lê bastante o gênero geralmente não se incomoda.
"É isso que eu quero, um desejo que nem mesmo sabia que cultivava — governar Inverno sem precisar de magia. Ser rainha, ser eu mesma sem precisar depender de magia imprevisível e assustadoramente poderosa que habita meu peito." pág. 152
Sobre a personagem principal, o quanto tinha elogiado anteriormente, decaí um pouco. Suas indecisões e algumas atitudes questionáveis tornaram-a mais humana e simultaneamente chata. Por boa parte da história estamos dentro da sua cabeça, e é constante lermos seus pensamentos e sua insegurança expressivamente. Foi muito frustrante em pontos específicos porque se tinha enormes potenciais dela melhorar, e ela se afundava mais e mais nas convicções erradas. Sobe alguns pontos quando admiti e enxerga seus erros no final, só que não compensa a boa parte da história que passamos com raiva. Por isso não posso falar em totalidade que foi maravilhosa. Suas características e personalidade são melhores construídas no primeiro volume. Anseio pelo retorno desse meu encantamento no terceiro e último.
Temos um personagem "secundário" que ganha mais voz, o Mather, que pela abertura de espaço dá a entender o seu destino. Confesso que não me foi gerado muita simpatia por ele. É mediano, e seus pedaços na narrativa só são interessantes porque nos passa o que ocorre em Inverno quando Meira não está lá. Acho suas aparições fracas em questão de relevância e personalidade, e acredito que pode evoluir se a autora souber trabalhar.
O final é que talvez faça valer a pena toda a espera. Uma ressalva positiva que se pode fazer, é que aqueles que gostam da descoberta de novos lugares, das descrições de ambientes antes não explorados — neste sobre reinos e locais — irão ter uma maior conectividade com a obra. Como nossa protagonista viaja ao redor do seu mundo com um objetivo em mente, teremos a abertura de um leque da nossa visão sobre este universo conhecendo os Reinos Estações e Ritmos.
De uma forma geral, não supera o antecessor Neve e Cinzas, no entanto temos um trabalho primoroso em deixar o leitor curioso com o que virá. Se elaborarmos uma linha de evolução, acredito que na parte fantástica ela cresce e soube motivar o leitor a conhecer mais sobre o enredo. Algumas críticas e retificações?! Sim! É difícil trilogias agradarem 100%. Eu só espero que a qualidade que me apaixonei mais forte no primeiro, volte com Geada e Noite, pois tem a faca e o queijo na mão para brilhar! Então recomendo sim a leitura, do primeiro e segundo!
"Posso ser as duas coisas. Serei as duas coisas. Estou cansada de lutar contra mim mesma — tendo inimigos demais, obstáculos demais , para gastar tanta energia lutando contra mim mesma para que me submeta." pág. 252
Na parte física a capa segue o padrão da anterior, assim como a diagramação interna. O que muda é basicamente a descoberta de um novo reino, e com isso a imagem representativa de um chakram ganha mais um plano de fundo (o centro dela será subdividido mais uma vez). Essa ideia de manter uma identidade original e que se liga ao conteúdo é bacana. Encontrei alguns erros de revisão e ortográficos — nada relevante que impeça a leitura. A narrativa é feita em primeira pessoa pelo ponto de vista da Meira e do Mather.
Pretensão temos de terminar a trilogia ainda em 2018. Por bem ou mal, segundo volume demorou a engrenar, todavia saiu. Então teremos esperança do terceiro de ainda me manter o interesse em 2018. Espero que tenham gostado!
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