Vivir Para Contarla

Vivir Para Contarla Gabriel García Márquez




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Suerllen 29/06/2020

“A vida não é a que se vive, mas sim a que se recorda e como a recorda para contar” – Gabriel García Márquez
Ler “Vivir para contarla” sem conhecer ou não ter lido nenhuma obra do Gabriel é, provavelmente, uma atividade bem interessante, mas para quem já leu algo e conhece bem o conteúdo da sua vasta obra, imergir no seu livro de memórias se torna uma experiência fantástica!

Lançado em 2002, Vivir para contarla deveria ser o volume um de suas memórias, contemplando desde a infância até o início de sua carreira como jornalista, por volta dos 28 anos de idade. Mas acabou se tornando volume único em decorrência da saúde frágil do autor, que morreu em abril de 2014.

Tenho de admitir que comprei este livro por acaso para treinar a minha leitura em espanhol, ainda em 2015 e por apenas R$ 4,99 na Saraiva. Provavelmente algum bug no site, já que o seu preço normal é bem mais alto. Enfim, quando comecei a lê-lo este ano, foi também de uma forma bem despretensiosa, mais uma vez para treinar o que me restou do conhecimento no idioma. Bastou o primeiro capítulo, pra eu chegar à conclusão, que ele seria o meu grande companheiro nessas madrugadas de quarentena. E assim foi!

Navegar pelas memórias do Gabo é, antes de qualquer coisa, descobrir que as suas obras são quase que inteiramente autobiográficas! Sim, sabe a personagem de Cem Anos de Solidão que comia terra? Então, livremente inspirada na sua irmã Margot. E o patriarca da estirpe José Arcadio Buendía, uma grande homenagem ao seu avô Coronel Márquez. Assim como Úrsula, à sua mãe Luísa Santiago.

A grande virada na sua vida como escritor e diria também em sua vida pessoal, é o enredo principal dos primeiros capítulos deste livro. Nele, mãe e filho voltam a casa da família em Aracataca - onde Gabito passou a sua primeira infância - para tentar vendê-la. Ao chegar ao povoado o escritor rememora tudo o que viveu naqueles anos e sente que aquilo deve ser contado. Daí por diante, como dizem, o resto é história.

E é graças a esta volta às suas origens, que ele escreve o seu primeiro romance, intitulado de A Revoada. Inclusive acompanhamos em suas memórias, todo o processo criativo para a produção desta obra. Não apenas A Revoada e Cem Anos de solidão são citados em Vivir para contarla, ele também faz questão de contextualizar como e o porquê de ter escrito Amor nos tempos do cólera; O coronel não tem quem lhe escreva; Crônica de uma morta anunciada; Em má hora; O general em seu labirinto; Do amor e outros demônios; Doze contos peregrinos e Relato de um náufrago. Este derradeiro, coincidentemente, foi o último que li dele, e mais coincidência ainda, é que a sua história é que a fecha o livro por completo. Coisas da vida, né...

É importante dizer que não são memórias contadas de maneira linear. Normalmente os capítulos se alternam entre infância e a vida de jornalista do escritor. Vida de jornalista esta que também é explorada ao máximo neste livro. Desde as suas mudanças constantes de cidade (Aracataca, Sucre, Barranquilla, Cartagena e Bogotá) por N motivos, até as suas passagens pelos principais jornais da Colômbia e as grandes amizades que se mantiveram até o fim de sua vida.

Vivir para contarla também é um prato cheio para os leitores que buscam dicas de uma boa leitura. Gabo cita constantemente as suas referências como escritor, entre eles: Faulkner, James Joyce, Shakespeare, Hemingway e muito mais!

Este livro de memórias é muito mais do que apenas as recordações de um renomado escritor. É muito mais do que um recorte da Colômbia que tanto sofreu com ditaduras, governos autoritários e corruptos. Mas sim, são as memórias de um jovem de família pobre que sempre valorizou as suas origens, e justamente por isso, soube transcrever com maestria a vivência, excentricidades e particularidades de um mundo fantástico que tão bem se encaixa com a nossa querida América Latina. Tenho certeza que eu, ou você, temos histórias parecidas como as dele, e é isso que o coloca no patamar de gênio da literatura mundial, porque ele fala com simplicidade e sensibilidade de tudo o que vivemos, mas de uma maneira que apenas ele, Gabriel García Márquez, Gabo ou Gabito conseguia.

LEIAM GABRIEL GARCÍA MÁRQUEZ!
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