spoiler visualizarLucy 21/03/2021
Um Martini meio aguado
Eu passei a amar tramas de máfia a partir de uma trilogia que li ano passado. Sou cria de Tarantino e filmes trash B. Amo e considero tramas de vingança o tipo de história mais promissora. Então, não foi difícil acabar esperando apenas o melhor de Um Martini com o Diabo. Ele prometia tudo que mais gosto em um só lugar.
Charlie é um bananão. Gostei dele inicialmente. Ele era impulsivo, e impulsionado por ódio, foi atrás de vingança contra o homem que estuprou sua mãe e a engravidou. Um monstro. Mas ficou evidente quando ele entra na máfia que ele iria amarelar. Tudo bem que isso já estava no prólogo, mas continuei tentando acreditar que ele não faria por algum empecilho. Por temer pela vida e o trabalho do amigo, Viking, por exemplo. Mas não demorou pra mostrar que ele faria qualquer coisa pra ganhar a aprovação do pai. Ele não queria vingança. Queria ser amado como um filho. E eu, rancorosa como sou, achei isso um porre. Você é fruto de diversos estupros! Cadê o sangue!?
Mas houve sangue. Houve violência. Muita. Mas de inocentes. E eu tive que aturar aquilo por horas, sem um alívio. Era desgraça atrás de desgraça, e nada da vingança que eu queria. Nada de ver um mafiosinho, só um, se ferrando. E temos um romance. Um romance cru e real entre duas pessoas se autodestruindo. Mas comprei esse casal, torci por eles, queria o melhor pra eles. Mas, claro, o melhor ainda estava por vir. E eu só estava na metade.
Marion. No prólogo, que li duas vezes, Charlie fala dela como se vivesse em um dilema de amor e ódio. Ele a chama de "desgraçada" e diz que ela pode ter tentado se matar nua de propósito. Porque ela não liga que a vejam naquele estado. Talvez apenas quisesse atenção. Quando li isso, a imagem que tive dela não foi das melhores possíveis. Então, ela finalmente entra na história. Marion foi convidada a ir a casa de Tony, ela se recusa, mas muda de ideia quando conhece Charlie. O que é bem suspeito. Na manhã seguinte, ela anda pela casa como se já fosse dona. Quando Charlie vai cumprir a ordem de lhe entregar um presente, ela se irrita, diz que as coisas não serão da maneira que Tony quer. Mas, magicamente, muda de ideia quando se depara com um casaco de pele caríssimo. Depois de três meses saindo, ela aparece com um anel de noivado gigantesco e um sorriso de Gato de Cheshire. Quando vai comprar o vestido, igualmente caro e extravagante, começa com um papinho que a leva ao choro. Dois segundos depois, não lhe resta uma lágrima e ela passa a viagem apreciando seu belo anel. Depois de tudo isso, você quer me fazer acreditar que essa mulher, essa que passou todo esse tipo de sinal, na verdade, era uma inocente apaixonada, que foi manipulada? Oi!? Depois nos deparamos com os horrores de seu casamento. Charlie viu de perto o inferno que ela viveu até a tentativa de suicídio. Então, qual o sentido de chamá-la de "desgraçada"? Parece que a autora a imaginou de uma forma, mas, no meio do caminho, mudou de ideia. Você pode dizer que suas atitudes iniciais eram uma máscara que ela usava para aparentar ser forte, mas... Não, não consegui ver nada mais nela do que uma mulher oportunista, que sabia e não se importava em se envolver com um mafioso, se isso lhe desse todo luxo, e lhe rendesse um casinho com o guarda-costas do marido. Foi essa a primeira imagem e foi difícil de me desvencilhar dela. Mas me senti mal por ela, sofri com ela, mas não consegui me envolver no romance entre eles da mesma forma que com Graeme.
E temos Graeme. Cinco anos depois ela volta por vingança. Está linda, rica, vivendo em uma mansão com o marido. Mas, e aquela história de não querer ser sustentada por mais ninguém? Ah, mas agora ela tem filho, tem que pensar nos dois, você pode dizer. Mas é aí que ela deveria mesmo pensar em ser independente. Tudo bem usar o dinheiro dele para se instruir, se formar, garantir uma profissão. Mas não pareceu ser o caso aqui. Agora ela tem dinheiro ilimitado nas mãos, mas e se o cara se cansar dela? Ela não abriu mão de ser prostituta, mas abriu mão de ser camareira bem fácil. Enfim... Ela não toca no nome de Charlie em nenhum momento durante seu plano. Se alia à polícia, aos mafiosos rivais, planeja banho de sangue dos dois lados, mas não fala que quer que Charlie saia ileso disso. Parece estranho. E a justificativa está no final. Ela o culpa por sua tortura. Diz que usou cocaína, heroína, cigarro e levou uma facada enquanto grávida por estar no mundo dele. Ok, vamos recapitular: Rocket era stripper e prostituta, ele a conhece e tenta consquistá-la. Ela sabe que ele é da máfia e conhece esse mundo. Eles se aproximam e, vendo-a usando cocaína, começa a usar. Uma tragédia lhe abala e ele pede ajuda. Sua forma de "ajudar" é injetando heroína nele. Ele fica viciado. Ela sabe que tem mais autocontrole do que ele, mas não tenta ajudá-lo. Ela se afunda junto. Ele promete protegê-la. Ele o faz por 1 ano. Até que, após se drogar muito, perde o controle e acaba revelando sua relação com ela. Ela é levada e torturada. Ele não sabe, está enfrentando os próprios demônios para voltar bem pra ela. Ela some. Ele ouve que ela ficou com medo dele e que resolveu ir embora, pois ele passou dos limites. Parece uma justificativa muito razoável. Mas ela queria que ele adivinhasse o que lhe aconteceu. Queria que ele fosse atrás dela. Ele foi, mas não sabia onde procurar e decidiu desistir. Ele respeitou aquilo que ele achou que fosse escolha dela. Como você pode odiá-lo por algo fora de seu controle? Se ele não fosse viciado, provavelmente vocês ficariam bem. Ele sabia que eles não matavam as mulheres e Tony disse que não se importava com quem ele se envolvesse. Ele foi "ingênuo"? Foi, mas não tinha como ele saber. Ela agiu como se não soubesse onde estava se metendo e como se ele tivesse a drogado. Ele era o "careta" antes dela. Ela o afundou. Ele cumpriu sua promessa até a droga lhe consumir. Eu entendo querer que seu filho não tenha contato com esse mundo, mas privá-lo do pai dessa forma, não pareceu justo. No final, achei ela bem hipócrita.
A trama envolvendo o FBI é ridícula. Os caras passaram 24 anos na cola da máfia, 10 anos dentro da família mais poderosa, e não tinham NADA pra desmantelar os caras. Foi algo inútil, mal desenvolvido. Aguardei o livro todo pelas vinganças. Não esperava nada mais do Charlie, mas confiei no destino miserável de Fabricio. Mas só foi dito o que lhe aconteceria. Não tive o gosto de ver ele sofrer. Charlie é tão bundão que havia ido se vingar de Fabricio e teria morrido se o Cage não tivesse chegado. O fim de Mickey foi engraçado (e que diabos de nome de mafioso é esse?). A morte do Tony foi sem graça. Parabéns, figlio.
Eu odeio ler um livro e me decepcionar tanto. E detesto falar mal também, mas é minha opinião. Não foi pior, pois, pelo menos, a trama se movia em um bom ritmo, tinha coisas legais e os personagens não eram ruins. Mas terminei fazendo leitura dinâmica, pois não aguentava mais a decepção que esse livro havia sido a partir da metade. Não terminei feliz pelos protagonistas e não me senti vingada. Vou voltar para meus romances clichês. Eles não me iludem tanto.