Núbia Esther 22/12/2012Nick Farewell sempre se considerou muito mais leitor que escritor e durante muito tempo protelou a publicação de seu romance, já que começou a escrever muito mais para aprender a se expressar do que com o objetivo de se tornar um escritor (http://osegredodosescritores.blogspot.com.br/2009/10/entrevista-com-nick-farewell.html). Ainda bem que ele tomou coragem e GO marca a sua estreia no mundo literário.
“Mas essa não é a história do homem que lia pensamentos. Acredite, qualquer um pode fazer. O que eu quero contar para você é como um homem comum pode ser, ou se você preferir, ter o que quiser. Afinal o que eu quero da vida? A resposta é mais estúpida e genial possível: eu quero viver.”
A história se passa em São Paulo (sim gente, o autor é brasileiro). Nela conhecemos um cinéfilo, leitor compulsivo, DJ nas “horas vagas”, com problemas de relacionamento e que tem como projeto de vida conseguir terminar o romance que está escrevendo. Ele, que não nos entrega seu nome e atende pela alcunha de Mr. Fahrenheit, se entrega à elucubrações sobre a vida, os conhecidos, sobre como conseguir uma refeição gratuita, meios de trabalho ilegais, literatura e autores beat e outras informações que ele considera necessárias para viver a vida. E o início do livro basicamente se restringe a esses elementos. A história não entrega a que veio e se não podemos imaginar o que esperar para o protagonista, pelo menos, podemos contar com diálogos (ou monólogos como bem pontuado por ele) verborrágicos, filosóficos e humorados, apesar de toda melancolia que parece rondar sua vida. Talvez seja por isso que o início da leitura de GO foi demorada. O romance demora a engrenar e acho que em grande parte isso ocorreu porque demorei a me acostumar com o fluxo de consciência pessimista e com a tendência ao sofrimento que o protagonista vivia a se autoimpor.
Mas, depois que você se acostuma com o narrador e passa a entender seus medos e desilusões, você começa a torcer para que ele consiga superar essa atração irresistível pela solidão e que se permita conhecer pessoas e permitir que elas façam mudanças em sua vida. E talvez a principal torcida seja reservada à Ginger, quem lhe desperta novamente para a vida, lhe faz voltar a escrever e lhe dá uma oportunidade que rendeu um dos momentos mais emocionantes da trama, porque é impossível passar incólume a tanto amor dedicado aos livros. GO é uma palavra de ordem, de seguir sempre adiante e viver. Um grito de alerta contra o conformismo e a falta de reação. No fim, como Mr. Fahrenheit previu, já estava me sentindo sua amiga, na ansiedade para saber se ele conseguiria terminar seu livro e me deliciando com tantas referências literárias, musicais e cinematográficas. Uma grata surpresa que me deixou com vontade de conhecer os outros livros do autor.
“Agora, cinematograficamente, eu gravo frame por frame na minha memória, expondo a luz e meus sentimentos, e projeto na minha retina as imagens que eu voltarei sempre a enxergar toda vez que sentir um dia nublado entre a ausência e o encontro da pessoa que, possivelmente, vai causar mais falta e mais completude, ao mesmo tempo, na minha vida.”
PS1: Como bom DJ, Mr. Fahrenheit nos presenteia com uma excelente setlist. Com músicas de artistas consagrados e desconhecidos, ele é a trilha sonora da história criada por Nick.
PS2: GO conta com uma “continuação” intitulada Mr. Blues & Lady Jazz. Na verdade não é bem uma continuação, mas quase um Inception literário. Neste, Farewell discorre sobre os eventos que se passaram entre o início e o término do namoro de Mr. Fahrenheit e Ginger. Fatos que não estão presentes em GO. E se em GO a solidão foi o foco, Mr. Blues & Lady Jazz parece trazer o amor como artista principal.
[Blablabla Aleatório] - http://feanari.wordpress.com/2012/12/22/go-nick-farewell/