Luis.Libaneo 30/01/2023
Prosa fluida e dinâmica
A cada romance da saga, Sapkowski se supera como escritor. Neste sexto livro, o quarto romance, o autor brinca com as formas e o tempo da narrativa, onde diferentes núcleos de personagens dividem a ação, colaborando juntos para o avanço da história. Em todos os romances, os longos e expositivos diálogos são a principal força motriz do enredo e em A torre da andorinha as coisas não são diferentes; porém, agora Sapkowski faz um jogo dinâmico de cortes entre personagens em diferentes momentos e espaços e tudo flui em um ritmo divertido de acompanhar. É uma abordagem bastante cinematográfica para a prosa e me lembrou muito filmes como Bullet Train (2022) e Snatch (2000).
Para mim, o grande destaque da forma do livro é o capítulo "escrito" por Jaskier, em que o bardo se põe a escrever suas memórias e narra as viagens do grupo de Geralt. A narrativa marcada pela escrita rebuscada e enviesada de Jaskier é entrecortada pelo "retorno" do narrador convencional, que quebra o sistema de linguagem proposto por Jaskier, através dos diálogos e ações das personagens que nós já conhecemos bastante bem e que possuem uma voz bem clara dentro das histórias. É como se Jaskier tentasse criar um sistema de registro mais sublime e poético, que Sapkowski (ou o narrador) puxasse a narrativa para baixo, para o aspecto mais vulgar da condição humana das personagens. É uma forma muito instigante de se trabalhar um romance de fantasia. O final do capítulo também apresenta um outro "choque", mais uma vez brincando com a temporalidade da narrativa e do registro literário, de uma forma que evidencia muito o humor de Sapkowski.
Fico muito animado para começar o próximo romance da saga e espero que o autor surpreenda ainda mais. Sapkowski parece o tipo de escritor que quanto mais espaço ocupa, melhor fica sua escrita.