Eduarda Graciano do Nascimento 15/05/2018Melhor que torta!Juliet Ashton é uma londrina de 32 anos que escreve artigos para o jornal The Times. No ano de 1946, após o fim da guerra, com uma coletânea de artigos publicada e buscando um tema para seu próximo livro, a moça recebe uma carta de Dawsey Adams, um morador da ilha britânica de Guernsey que tem em mãos um livro de Charles Lamb que já pertenceu a Juliet. O rapaz escreve com a intenção de pedir informações sobre o livro e conversa vai, conversa vem, Juliet descobre que Dawsey faz parte de um clube do livro formado durante a ocupação alemã na ilha. Ela fica cada vez mais fascinada pelo local e seus moradores (outros membros do clube com quem passa a se corresponder), sobretudo com a história da fundadora Elizabeth McKenna, que foi levada para um campo de concentração e deixou sua filha de quatro anos sob os cuidados dos amigos. Assim, com uma fascinante história para seu próximo livro em mãos, Juliet viaja para Guernsey, sem saber que sua vida estaria prestes a mudar.
Já duvido que esse livro não vá figurar nas minhas melhores leituras do ano. Li sobre ele num grupo do facebook que participo e apesar do nome comprido e inusitado, minhas colegas garantiram que era muito bom. Ainda assim, estava enrolando um pouco para ler, porque se trata de um romance epistolar e não, não tenho nada contra, mas não é meu estilo de livro favorito. Em abril o filme adaptado do livro foi lançado no Reino Unido e quando vi o trailer não pude deixar a curiosidade de lado. Que decisão acertada!
Qualquer livro que tenha como pano de fundo uma guerra emociona. “A Sociedade Literária...” não só nos emociona, mas nos enche de esperança ao contar a história dos moradores da ilha de Guernsey e como eles estão no pós-guerra, tentando se recuperar das atrocidades que aconteceram ali. Esse livro vem com esse gostinho a mais de fé, união e amizade. É linda a relação dos membros da sociedade entre si e mais ainda quando se trata do elo que os une: Kit McKenna, uma garotinha de quatro anos que é o xodó de todos ali. Ela foi o resultado do amor proibido entre Elizabeth, a fundadora do clube literário – sabe aquelas personagens inspiradoras? Não é só a Juliet que ela instiga – e Christian Hellman, um soldado alemão. Elizabeth, que segue sem dar notícias, presa em um campo de concentração, não pode deixar de ser citada como uma das protagonistas dessa história. Eu diria até mesmo que ela é a base de tudo.
No prefácio e no posfácio do livro conhecemos um pouco da história da autora, Mary Ann Shaffer, que infelizmente faleceu antes da publicação e teve a ajuda da sobrinha Annie Barrows para finalizá-lo. Não sei quais foram os retoques que Barrows fez, mas não dá nem para perceber que foi escrito por duas pessoas. A narrativa e a vivacidade dos personagens me lembraram bastante a série Anne de Green Gables, inclusive sua estrutura epistolar, presente no quarto volume, Anne of Windy Poplars. A história é fluida, leve, emocionante e repleta de personalidades carismáticas. Não vou nem começar a falar do Dawsey, que ganhou o selo Gabriel Oak de mocinho e também o meu coração!
Recomendo que não se deixem levar pelo estranhamento causado pelo título (no Brasil, o livro foi publicado pela Rocco em 2009 e se chama A Sociedade Literária e a Torta de Casca de Batata) e leiam mais do que depressa esse sensível e emocionante retrato do pós-guerra contado pelo tipo de pessoas que mais amamos e nos identificamos: os amantes de livros!
site:
https://www.cafeidilico.com/2018/05/the-guernsey-literary-and-potato-peel.html