Esther 22/11/2021Livro bom para iniciantes porém deve ser complementadoO livro é voltado para leigos/iniciantes e pincela temas filosóficos com diversas citações, sem, porém, aprofundar em muita coisa.
O autor se propõe a inserir o leitor dentro das principais discussões filosóficas, contrapondo lados mas sem deixar de se posicionar. O título é para corajosos porque segundo o autor, enfrentar essa contradição e algumas das perguntas do livro requer coragem pois no tira da nossa zona de conforto.
Gostei da abordagem, diferente de outros livros de filosofia que li, por (1) tentar trazer as discussões para o cotidiano sem se aprofundar tanto em discussões metafísicas (para quem se inicia na área), por (2) não seguir uma linearidade cronológica que é tão comum nos livros da área. Ao invés de ser abordada filosofia clássica, medieval ou moderna, o autor vai de temas em temas.
A linguagem, entretanto, achei um pouco forçada e talvez tenha sido a causa de tanta gente reclamar do livro como “doutrinador”. Isso porque o autor força uma linguagem despojada e espirituosa (como os antigos textos de adultos para adolescentes) o que gera um afastamento e porque não tem medo de assumir seus posicionamentos mesmo que não sejam “politicamente corretos” ou mais socialmente aceitáveis. E isso num mundo em que as aparências comandam e os vigilantes de opiniões estão sempre a postos, gera estranheza.
É preciso destacar que o autor possui uma visão pessimista da sociedade atual e isso se reflete repetidamente em sua escrita e na montagem dos capítulos. Acaba que o livro foca em temas que tocam em feridas que a sociedade não conseguiu corrigir ainda (desprezo pelos idosos que ainda percebemos em alguns lugares, o materialismo e consumismo, etc) ou em novos problemas desenvolvidos com o tempo (ex. atomização familiar).
“A democracia é um regime de quantidades, e os idiotas (como dizia nosso brilhante Nelson Rodrigues) são sempre maioria.” – Pag 94
Pondé segue por temas espinhosos mostrando cruamente as raízes do pensamento moderno. Com isso ele cria um panorama do porquê pensamos e agimos como fazemos, muitas vezes sem nos darmos conta das cordas que controlam nossos valores, sonhos e mudanças de paradigmas.
“A modernidade, e seu ódio à ideia de tradição e permanência no tempo, anseia por valores, mas é arredia a própria ideia de valores morais, porque os considera opressores. A paixão pelo novo, traço brega da modernidade, a impede que valorize qualquer noção de passado, e os valores, para funcionar, precisam estar ancorados numa experiência de perenidade.” – Pag 86
A transição da parte 2 para a 3 se deu através da perda de conteúdo e aumento das considerações pessoais do autor o que fez cair um pouco meu interesse. No entanto, após 1-2 capítulos, retoma o fluxo anterior voltando a temas do cotidiano pautado por considerações filosóficas e pessoais do autor.
Se esse livro não terminou lhe causando mal estar, é porque não foi lido direito. Seja esse mal estar por reconhecer as mazelas em que nos enfiamos com nossa mentalidade material e estética ou por discordarmos de quase tudo que Pondé afirma.
“Essa dependência da opinião pública, que leva todos a adular os idiotas faz da democracia um simples regime de mercado. Ela é, na verdade, um mercado de opiniões a serem defendidas (compradas) ou recusadas (não compradas)”. Pg 94
Pondé tem opiniões fortes e não se furta de expô-las e defende-las com argumentos de outros pensadores. Cabe a nós julgarmos o que lemos, aquilo que vai com nossos valores e nos aprofundarmos para melhor debatermos as ideias do livro.
“E existe mais um problema aqui: as pessoas não são iguais. A igualdade deve existir diante da lei, mas acaba aí. Algumas pessoas são mais inteligentes, mais disciplinadas, acordam mais cedo, tem mais saúde, nasceram em famílias melhores, e isso nada tem a ver com justiça social.” – Pag 123
Em resumo, uma boa obra para quem tem pouco conhecimento de filosofia porém deseja ler algo diferente do que é encontrado nos livros da área. Deve ser complementado e servir como ponto de partida para aprofundamento nos temas de interesse.
“A razão é algo que se busca com o mesmo sofrimento que a santidade.” – Pagina 69