NARA DIAS 23/01/2017Canto do UirapuruA história é narrada por Max, ou melhor, Maximiliano, adolescente de 16 anos, que vive próximo a São João da Boa Vista, numa fazenda chamada Canto do Uirapuru, mora junto com o avô paterno Mario e a mãe Nina. O rapaz está chegando à fase adulta e passa por um momento de auto-afirmação, onde necessita lidar com: a ausência do pai, que foi trabalhar na cidade e nunca mais voltou, nem deu notícias, apesar do avô paterno alegar que ele volta; as implicâncias de Bártira e seus irmãos, descendentes indígenas, que inventam diversos apelidos para Max, inclusive foguinho; o fracasso de nunca conseguir pescar um pacu no rio da fazenda; as assanhadices de Deia, garota com a qual cresceu junto; sem falar no sonho de estudar na cidade e fazer faculdade, o que é muito incentivado pela professora Beth.
Uma noite o avô retorna da bocha e Max percebe a ausência de seu velho cachorro, que o acompanha desde muito novo, seu Mario e o neto encontram Tom, o cachorro fora picado por uma cobra e ambos levam o animal para a jari (avó em guarani), além de sua sabedoria centenária, a senhora que é avó de Bártira, presta ajuda à todos no Canto do Uirapuru, isso sem mencionar os causos que conta aos moradores, quando se reúnem à noite.
No dia seguinte jari Inara comenta que os donos da fazenda, os Gárcia retornaram e logo conversarão com todas as famílias que moram no local. Max decide ajudar Lina, a neta de dona Gárcia, pensando que será fácil ajudar uma adolescente anêmica passeando com ela pela região, porém a garota apesar de esquisita, possui uma película de proteção capaz das maiores grosserias com os que a rodeiam. A partir de então outros conflitos surgem, além dos que Max já precisa enfrentar.
Fiquei completamente admirada com essa obra, ela simplesmente conseguiu cativar. Não era a obra que havia escolhido para ler a princípio, mas quando iniciei me senti grata por tê-la em mãos.
“Família é quem está perto, Lina. Quem mora com você e também quem mora em seu coração. Não é coisa pra se saber ou explicar, é sentimento.”
O livro possui 21 capítulos, o título que aparece no rodapé está numa linda fonte. Passei a gostar da capa do livro depois de iniciada a leitura, ela ambienta muito bem o texto, poderia ter algumas ilustrações na parte interna, mas isso de forma nenhuma atrapalhou a imaginação, pelo contrário, a visualização mental de cada acontecimento descrito foi fácil de criar. Durante a narrativa, o protagonista cita algumas poesias de Carlos Drummond e alguns longas brasileiros que teve acesso na escola, essas citações enriquecem o texto.
“Um homem tem o momento de fincar seu pé e fazer o que é certo.”
Érica Bombardi ficou entre os nove finalistas no Prêmio Barco a Vapor de Literatura Juvenil em 2015 com essa história que retrata muito bem a vida da população rural brasileira. Ela enaltece nossa cultura com um texto suave sob a perspectiva de um rapaz simples do campo.
Antes eu achava que perdia meu tempo aqui na Canto do Uirapuru, mas agora, acho que vou perder se for embora. Mas, mesmo se eu não for, a gente vai perder é muito.
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http://www.viagensdepapel.com/2016/09/17/leiturinhas-lancamentos-da-escrita-fina-edicoes/