Dani do Book Galaxy 24/03/2020Era só tirar a protagonista que o livro ficava bom"Dez Mil Céus Sobre Você", segundo livro da trilogia Firebird, é uma continuação justa para um primeiro livro que prometeu coisas interessantes, mas não as cumpriu. Assim como seu livro antecessor, "Dez Mil Céus..." tem uma premissa bem bacana, prometendo uma aventura sci-fi cheia de suspense e pormenores científicos, mas entrega um romance adolescente com um flerte com o sci-fi - que é tão sutil que eu nem me sinto confortável em encaixar esse livro no gênero de sci-fi.
Vou começar com o problema mais óbvio que é a personagem principal. Marguerite é uma personagem narradora que não me despertou nenhuma simpatia; além de ser impulsiva e inconsequente como qualquer adolescente, o foco dela é seu namorado, Paul.
Dessa forma, apesar de a história se passar em diferentes dimensões, em TODAS somos obrigados a aguentar os sentimentos de Marguerite sobre Paul.
Sendo justa, o maior problema do livro não é o romance em si. Acho que, se fosse bem executado, uma história com foco em amantes separados pelo espaço-tempo seria SIM bem bacana, mas não é isso o que acontece aqui.
Claudia Gray deixa sua personagem entediante nos guiar em viagens interdimensionais que, na verdade, mais parecem como viagens no tempo ou uma volta ao mundo.
A autora, em minha opinião, poderia ter sido muito, MUITO mais criativa ao criar novas dimensões para inserir suas personagens nessas viagens. Me pareceu um tanto preguiçoso o modo como ela imaginou essas diferentes dimensões, e, principalmente, o modo como as personagens interagem em cada uma dessas dimensões.
Outro ponto que me incomodou bastante foi sua aparente negligência com a contextualização de elementos importantes no livro. Já explico: essas viagens entre dimensões são possíveis por conta do Firebird, um dispositivo criado pelos pais de Marguerite, cientistas renomados, e seus assistentes cientistas. O problema é que, como a narrativa é feita por Marguerite - que não é cientista, e sim, artista -, ela admite "não entender nada" de como essa tecnologia funciona e... a coisa fica por aí mesmo.
Em diversas passagens a autora usa esse recurso, de fazer a narradora desprezar ou não explicar algo por simplesmente não saber. Achei uma saída bem preguiçosa e ligeiramente decepcionante. Afinal, leitores de sci-fi geralmente costumam ter respostas elucidativas sobre aspectos importantes nos livros - mesmo que sejam absurdos ou completamente viajados.
Por fim, o que me fez não odiar o livro e ainda assim querer ler o terceiro e último volume foi uma certa reviravolta lá no final. Pelo menos isso a autora conseguiu fazer - criou um último gancho que me manteve levemente interessada em ler o último volume.
Mas só consigo dar graças a Deus que só tem mais um livro, porque eu, sinceramente, não vou aguentar muito mais dessa Marguerite...