Danilo Barbosa Escritor
09/12/2023Qual limite entre o amor e a obsessão? Até que ponto a imagem que você cria de alguém pode te envolver em uma espiral de loucura?
“Vertigo”, da dupla Boileau e Marcejac é um suspense que em todos os momentos faz o leitor caminhar numa linha tênue entre a realidade e a insanidade. Obra que deu origem ao clássico do cinema “Um corpo que cai”, do mestre Alfred Hitchcock, ele dá voz a um personagem cheio de defeitos, carências e anseios, um detetive chamado Flaviéres que carrega consigo o medo de lugares altos, fato que acabou corroborando com a morte de um policial e lhe causando o afastamento do serviço. E é esse homem, conturbado e fragilizado, que é contratado por um ex-companheiro de colégio para que siga sua esposa.
Apesar dos rumos clichês que a história poderia ter tomado a partir desse momento, a história surpreende, mergulhando o leitor cada vez mais fundo na mente do protagonista. Afinal, a mulher vigiada parece acreditar que é a reencarnação de uma antepassada e começa a repetir os mesmos gestos, buscar lugares que a outra mulher frequentou e corre o risco de ter o mesmo fim trágico… enquanto isso, Flaviéres vincula a ela suas carências e medos, criando uma súbita paixão fremente e insana, que parece tirar o nosso fôlego, trazendo na comparação com o medo da altura o receio dele – e nosso – de se afastar e ver as coisas de cima, como realmente são.
Lógico que do meio do livro para a frente, acontece uma ruptura brusca, que nos choca e nos deixa curioso pelo que virá. Mas deste trecho até o final, nossos passos ficam cada vez mais hesitantes no decorrer da trama até a magnífica revelação final. Isso tudo em meio ao cenário caótico da Paris em plena 2ª Guerra.
“Vertigo” é isso, um livro que nos faz duvidar de cada linha, e quando terminamos a última página, as perguntas ainda ecoam dentro de nós.