Tamirez | @resenhandosonhos 12/08/2016A Maldição do VencedorKestrel é uma jovem de 17 anos, filha de um dos mais importante generais entre os valorianos. Com ainda três anos antes de precisar tomar uma decisão, a jovem tenta evitar a pressão do pai para optar pela carreira militar, seguindo os passos dele. Ela gosta de perambular pela cidade e participar de alguns jogos que a tirem da sua realidade.
Numa dessas suas escapadas, ela e sua amiga Jess acabam parando em um leilão de escravos. Lá, sem entender direito o que a motiva, Kestrel dá um lance absurdo em um escravo chamado Smith. Segundo aquele que orquestrava o leilão, o jovem era bom como ferreiro e tinha o dom do canto. Nesse mundo, os Herrani, há alguns anos atrás, foram vencidos em uma guerra pelo povo valoriano e se tornaram seus escravos. Junto com eles, grande parte do gosto da arte também desapareceu, já que os valorianos consideram isso algo abaixo da sua posição. Porém, Kestrel adora tocar piano, e mesmo sendo vista com maus olhos, mantém o habito.
“A felicidade depende de ser livre, o pai de Kestrel sempre dizia, e a liberdade depende de ter coragem.”
Sem saber direito o que fazer com seu novo escravo, que mais tarde ela descobre se chamar Arin, a jovem acaba o tomando como acompanhante, já que ela não pode perambular sozinha. Em meio a um jogo perigoso de política e uma eminente revolta entre o povo escravo, Kestrel terá de tomar decisões muito acertadas sobre suas ações, ou poderá perder aquilo que que lhe é mais familiar: liberdade e poder. E aqueles que a cercam, sejam da elite valoriana ou escravos misteriosos, também escondem cartas na manga.
MINHA OPINIÃO
O hype em volta desse livro estava enorme, primeiro por ser uma trilogia super comentada lá fora e, segundo por que ele estreia o novo selo da V&R, a Plataforma 21. Mesmo tendo ouvido que as continuações eram melhores que o primeiro livro, fui com bastante expectativa e acabei saindo da leitura um pouco decepcionada. A Maldição do Vencedor apresentou pra mim um background interessante, mas um desfecho bastante previsível. Ao ser questionada perto da página cem o que achava que iria acontecer no livro, consegui adivinhar a trama sem nenhuma dificuldade, simplesmente optando pelo caminho mais fácil e clichê.
Kestrel é uma jovem cheia de si. Ela é bem posicionada socialmente com todo o pompo e, também, limitações, e o que isso lhe traz em termos de “liberdade” a incomoda bastante. Como forma de escape, ela passeia pela cidade as vezes de forma negligente, ou participa de jogos com pessoas que nem deveria conhecer. Ela é apresentada como alguém inteligente e que pode carregar o dom militar do pai, porém não é bem assim que a coisa se apresenta.
“Todo inimigo devia ser vigiado. Sempre identifique as vantagens e fraquezas de seu oponente.”
Ao chegar ao fim do livro vi o quanto a jovem, proposta como manipuladora e super inteligente, tinha sido uma peça no jogo político do livro. Todos os seus movimentos foram previstos por outros jogadores, salvo uma ou outra exceção. A trama se desenvolve como se ela tivesse alguns fios pra mexer, mas num olhar mais profundo, parecia que ela era a marionete e que os fios na verdade eram controlados por outra pessoa. Tendo em vista isso, minha opinião sobre ela mudou um pouco. Ela é mimada, mas quer ser vista como inteligente. Não quer se tornar um soldado, mas também rejeita todos aqueles que podem lhe propor casamento, sua outra opção. Menospreza os escravos, ao mesmo tempo em que tem alguns em alta estima. Percebe coisas importantes sobre a personalidade das pessoas, mas não dá atenção aos fatos, fazendo com que eles venham a lhe prejudicar no futuro.
Das jogadas que ela fez no livro, talvez apenas uma tenha me surpreendido, de resto, a personagem super forte, esperta e cheia de artimanhas que Marie Rutkoski tentou impor, não me convenceu. Ao mesmo tempo em que sabemos tantos pontos sobre sua personalidade, também é possível ver o quanto ela é rasa e tem pouco domínio sobre a expressão dos seus sentimentos.
Smith ou Arin é um personagem bem unilateral, seguindo também um caminho óbvio durante o livro. Pode soar como spoiler, mas qual seria o natural? O escravo se apaixona pela moça bonita que lhe comprou e que ele não pode ter e isso acaba atrapalhando os planos ocultos que ele tem, fazendo com que no fim ele se prejudique para ajudá-la. Alguma novidade aqui? Não. Já vimos isso em uma infinidade de outros livros e nem mesmo o cenário salva a falta de personalidade dos personagens.
A fantasia em si também é pouco desenvolvida. Sabemos dos jogos políticos, mas descobrimos pouco sobre esse mundo novo, tudo é muito dosado e a visão pouco se amplia. Sabemos que há outros lugares, outros povos, mas eles não nos são apresentados. Há um shift do meio pro fim da história onde a trama sai um pouco do foco político para entrar num âmbito mais romântico. Soou natural a partir do momento em que percebi que a “trama política” que eu estava acompanhando era somente uma parte da visão, já que Kestrel não estava de todo envolvida nesses assuntos. E, portanto, tendo juntado tudo isso, acabei me frustrando um pouco com o livro.
“Os pensamentos ameaçavam sua sanidade, propondo soluções que no fim só revelavam problemas, provocando-o com a certeza de que ele perderia tudo o que queria proteger.”
Como eu sempre digo, a experiência de cada um com cada história sempre será diferente. A Maldição do Vencedor não é um livro ruim de forma alguma, mas não trouxe a história surpreendente que eu estava esperando e que todo o cenário poderia desenvolver. Eu sou uma fã de fantasia e já li várias dezenas de livros do gênero, portanto também estou mais inclinada a prever alguns pontos óbvios que podem acontecer na história, se eles já tiverem sido usados várias vezes anteriormente. O clichê e o óbvio são diferentes para cada um dependendo da sua experiência literária.
Todo mundo diz que os próximos dois livros são bem melhores, então com toda a certeza seguirei acompanhando a história, e espero ser surpreendida. Kestrel e Arin tem muito potencial, porém precisam ser mais ousados em suas decisões para que a trama tenha mais reviravoltas e que não dê ao leitor a oportunidade de fazer tantos palpites acertáveis. Livros imprevisíveis são sempre a melhor opção, mesmo que por vezes histórias simples e bem contadas também tenham o poder de conquistar o leitor. Mas algo que é definitivamente bom nesse livro é a edição. A capa é super bonita e tem aquele toque emborrachado, assim como a diagramação é super confortável, o que facilita a leitura. E posso dizer que esse é um dos mapas de livros de fantasia mais bonitos que já vi, e eu adoro um mapa :)
Acredito que para um jovem fã de fantasia ou para quem está começando agora a se aventurar no gênero, A Maldição do Vencedor soe como algo completamente diferente e uma boa experiência. Para os mais calejados, recomendo não ir com tanta sede ao pote, para poder aproveitar o que o livro tem a oferecer.
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