hempjr 19/02/2010
Super-freakonomics, mais do mesmo...
O livro “Super Freakonomics , o lado oculto do dia a dia" dos escritores, Steven Levitt e Stephen Dubner, retoma a linha do primeiro livro da saga, “Freakonomics”, ou seja, aborda explorando o que eles chamam de economia experimental, genero da economia que tenta explicar coisas/fatos/acontecimentos corriqueiros a partir da ótica econômica. Nas palavras dos autores, Freakonomics é o "casamento da abordagem econômica com curiosidade descomprometida e excêntrica". Segundo Levitt e Dunber, o máximo representante dessa corrente é o economista Gary Becker, ganhador do Prêmio Nobel de Economia, em 1992.
O livro continua com toda a originalidade e criatividade do primeiro, traz uma série de casos entrelaçados os quais são divididos em cinco capítulos. Porém é na introdução, que os autores já iniciam as análises mais instigantes do livro. Descobrem que, por exemplo, é mais perigoso andar bêbado na rua do que dirigir qualquer veículo em estado etílico.
Nessa mesma ótica, analisam o que significa nascer mulher na Índia. Para os autores, nesse país há uma crescente discriminação contra o sexo feminino a qual é demonstrada através de desvantagens econômicas. Ainda nesse aspecto, os autores apontam a uma diminuição dos maltratos à esposas indianas por parte dos maridos, a partir da disseminação da televisão nesse país. Embora muitas feministas acreditem que essa diminuição tenha-se dado pela possibilidade de maior informação e liberdade que esse meio trouxe para as mulheres indianas, para os autores, essa diminuição dos maltratos pode ter sido dada mais pelo maior tempo em que os maridos ficam na frente da TV do que pela sua conscientização específicamente. Os autores ainda zombam dos homens indianos, mostrando que o uso pouco frequente da camisinha, por parte deles, nas relações sexuais se deva mais ao reduzido tamanho do pênis do que a falta de conscientização com a prevenção de doenças contagiosas.
Ainda, na parte introdutória, os autores questionam sobre a necessidade dos esforços dados à proteção dos banhistas em praias infestadas de tubarões. Para eles, a probabilidade de se morrer pisoteado por elefantes bêbados e descontrolados é maior do que ser mordido mortalmente por algum tubarão. Finaliza, essa introdução a reflexão inédita de que a inserção do automóvel no mercado tenha salvado ao mundo desenvolvido dos efeitos e um processo agudos de poluição e disseminação de doenças e pestes, ocasionado pelos excrementos dos cavalos. Nesse mesmo raciocínio os autores mostram que o número de mortes por atropelamento de cavalos, nos anos 1900, equivale ao dobro, proporcionalmente, das mortes em Nova Iorque, por atropelamentos de automóveis atualmente.
Depois da cativante introdução com diversos temas, o primeiro capítulo faz uma análise pormenorizada ao mundo da prostituição. Fatos inéditos são mostrados como a evolução da atividade econômica da prostituição. Chicago é a cidade escolhida para mostrar essa performance. Um dos pontos interessantes é mostrar a diminuição do preço do sexo oral através dos tempos, devido à perda de "glamour" ou banalização da prostituição ou do sexo, especificamente falando. Numa comparção com os corretores de imóveis, chegam a conclusão que é mais vantajoso economicamente que as prostitutas sejam administradas por cafetões do que por elas mesmas. Já para quem for comprar ou vender uma casa, a melhor opção é fazer essas transações sem intermediação de corretores já que os melhores resultados obtidos se dão sem a intermediação desses profissionais.
O segundo capítulo traz um título muito sugestivo: “Por que os homens-bomba devem adquirir seguros de vida?” A resposta que se encontra no livro é taxativa: para que os mesmos não sejam identificados pelas estatísticas anti-terroristas. Depois dos atentados em 11 de setembro, os Estados Unidos e os países afetados pelas ações dos terroristas muçulmanos, partiram para uma série de esforços em prol de identificar e diminuir significativamente esses atos. Uma dessas tentativas foi a de cruzamento der dados de pessoas por nome, sobrenome, transações correntes etc. Um dos dados mais recorrentes dos terroristas que já cometeram crimes foi que nenhum deles tinha seguro de vida. Dai, a dedução de que os terroristas deveriam ter um seguro de vida, mesmo que suas famílias não tenham o direito ao prêmio, os mesmos driblariam a segurança.
Nesse capítulo também há uma série de cruzamentos de dados que são usados. Por exemplo para mostrar que o Ramadam (costume de jejum islâmica) acaba influenciando no nascimento de bebês com problemas de saúde. Isto porque esse costume religioso impõe severos estágios de jejum que afetam diretamente os fetos das mulheres grávidas.
Os autores também apontam as dificuldades que as estatísticas têm para mostrar o rendimento profissional dos médicos. Muitas vezes, os médicos considerados bons possuem maiores casos de mortes nos seus pacientes do que médicos pouco qualificados. A resposta a esse enigma é que os pacientes em estado grave ou terminal procuram os melhores médicos para se atender. Nesses casos, a alta incidência de mortes dos pacientes é maior para os médicos bons. Outro interessante questionamento está ligado ao frequente uso da quimeoterapia nos casos de câncer. Segundo os autores, existem pouquíssimas probabilidades de regredir tipos de câncer mais avançados. Nesse sentido, o custo desse uso não compensaria o resultado.
O terceiro capítulo é uma crítica direta ao altruísmo. Para os autores, os atos que envolvem práticas altruístas estão fortemente relacionados com a racionalidade individualista. Nessa perspectiva, os autores iniciam o raciocínio relatando um crime que aconteceu nos Estados Unidos em 1964. Uma mulher, Kitty Genovese, teria sido esfaqueada e estuprada em dois momentos numa rua escura. O crime teria 38 testemunhas que em nenhum momento se acionaram "dignaram" chamar a polícia ou tentaram evitar o crime. Esse crime chocou os Estados Unidos depois de ter sido noticiado no grande jornal The New York Times. A partir desse fato, os autores discorrem sobre uma série de acontecimentos, sempre questionando o altruísmo. O principal mote dessa parte do livro recai na afirmação tácita de que o altruísmo é uma prática mais ligada à racionalidade do que ao espírito de doação. Por exemplo, as diversas experiências de doação de órgãos se dão pelo incentivo pecuniário e não pelo espírito de doação humana. Inclusive, recompensas pecuniárias desenvolvem mercados negros de tráfico desses órgãos.
Os autores ainda criticam os experimentos feitos em laboratórios psicológicos sobre o assunto e a discordância dos mesmos com a vida real. No final do capítulo, os autores mostram o desfecho da história do crime de Kitty Genovese. Na realidade não houve omissão das testemunhas (que na realidade foram em torno de 20 e não 38). O que sim existiu foi a história mal contada pelo jornal e a interpretação errada da opinião pública. Com isso, os autores desmistificam o verdadeiro espírito altruísta do homem.
Como resolver grandes problemas com pequenas e simples soluções? Essa é a tônica do quarto capítulo. Os prejuízos humanos e econômicos causados pela não divulgação do forceps para a realização de partos por muitos anos se constitui num dos diversos exemplos dados nesse capítulo. Essa simples ferramenta para ajudar nos nascimentos dos bebês foi inventada muito tempo antes da sua ampla utilização. A descoberta da vacina contra a pólio, a substituição do uso do óleo de baleia pelo petróleo ou talvez a simples lavagem de mãos para evitar o contágio da febre preural nos hospitais, são exemplos básicos de como soluções simples resolvem problemas que trazem prejuízos econômicos e sociais para a humanidade. O exemplo mais significativo de todos os mostrados nesse capítulo é a invenção do cinto de segurança para evitar mortes nos acidentes de trânsito. Os autores rendem homenagem a Robert Strange McNamara, inventor desse apetrecho. Mostram que, nos testes realizados por eles mesmos, o cinto de segurança chega ter a mesma ou maior efetividade do que as cadeirinhas de automóveis para crianças. Finalmente, encerram o capítulo mostrando a ingeniosa idéia de como evitar furacões através de gigantescas boias que seriam lançadas no mar.
O final do quarto capítulo serve como introdução para o último capítulo. O título provocador: O que Al Gore e o Monte Pinatubo têm em comum?, talvez seja o mais original de todas as seções do livro. Com a ajuda da ciência, os autores explicam como a erupção do grande vulcão do monte Pinatubo, nas Filipinas, ocorrida em 1991, conseguiu diminuir a emissão dos raios que provocam o efeito estufa reduzindo assim consideravelmente o impacto negativo sobre o meio-ambiente. Nesse sentido, tem-se uma comparação bastante sarcástica dos efeitos dessa erupção com os desejos e objetivos de prevenção ambiental que o ex-vice presidente dos Estados Unidos, Al Gore têm. Afinal, Al Gore ganhou o prêmio Nobel da paz por esses esforços. Na realidade, o objetivo provocador dos autores é colocar em questionamento a atual política de conscientização que se pretende irradiar para que os habitantes do planeta procurem preservar o planeta. Para os autores, mais efetivo seria procurar, junto a um processo de conscientização sem pavor, os avanços da ciência para diminuir ou anular os causantes do efeito estufa. A partir dessa premissa, os autores mostram diferentes propostas, muitas mirabolantes, científicas realizadas pelo Intellectual Ventures (IV), laboratório especializado em pesquisa avançadas de alta tecnologia, comandada pelo ex-diretor de tecnologia da Microsoft, Nathan Myhrvold. Para tanto, Os autores explicam também explicam o conceito de externalidades como os efeitos, positivos ou negativos, que derivam de ações econômicas ou sociais. A depredação do meio-ambiente, por exemplo, deriva de ações econômicas de acumulação do capital que por um lado, geram empregos e, por outro, contaminam o meio-ambiente.
O epílogo do livro, mostra como a questão econômica não se restringe unicamente a seres humanos. Uma experiência realizada com macacos dão indícios que o espírito de realizar trocas e consumo pode ser aplicado também no mundo animal.
Em resumo, o livro, é uma excelente aula de como usar os conceitos econômicos de forma lúdica e interessante. Vida longa para os Freakonomics!
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