@livrodegaia 27/03/2012
“Los Angeles”, Marian Keyes – Editora Bertrand Brasil.
Quem me conhece sabe que um dos meus gêneros literários preferidos é o Chick Lit, e que tenho Marian Keyes como autoridade no assunto. Ela é indiscutivelmente a rainha da literatura feminina, que vem ganhado cada vez mais espaço nas prateleiras das livrarias.
Você deve estar ai pensando: Mas existem tantas escritoras fantásticas, como Helen Fielding, Sophie Kinsella, Candace Bushnell, Meg Cabot, etc. Ok! Concordo. Inclusive “O Diário de Bridget Jones” é um dos meus livros favoritos e estou louca para ler “Os Diários de Carrie” da Candace (amo Sex And The City) e “O Segredo de Emma Corrigan” da Sophie, mas a Irlandesa me conquistou de tal forma que não consigo nem explicar.
Marian tem um jeitinho muito particular de escrever e que cativa qualquer um . Às vezes durante a leitura me pego pensando: “Isso é tão Marian Keyes.” Seus livros exalam carisma, humor, sarcasmo, trabalham brilhantemente os dilemas femininos e têm sempre uma lição a ensinar. É impossível não se identificar. E digo mais: suas obras viciam! “Los Angeles” foi o quarto livro que li da autora e já estou flertando com outro que se encontra na estante do meu quarto: “Cheio de Charme”.
Cabe frisar que a Irlandesa tem uma série de livros queridíssimos voltados aos integrantes da divertidíssima Família Walsh e “Los Angeles” é o terceiro volume. Cada um deles fala de uma das cinco filhas dos Walsh. São eles: “Melancia” (Claire), “Férias” (Rachel), “Los Angeles” (Margaret) e o último publicado até o momento “Tem alguém ai?” (Anna). Marian não sabe se vai escrever uma estória sobre Helen em virtude da personalidade peculiar da personagem.
Não há necessidade dos livros supramencionados serem lidos em ordem, uma vez que são estórias singulares e não continuações, mas eu prefiro, porque sempre uma irmã comenta sobre a vida da outra a título de comparação, ou seja, solta um ou outro spoiler. Não é nada que estrague a leitura, mas ainda assim prefiro ler na ordem.
Dentre todos os livros lidos da autora: “Melancia”, “Férias”, “Sushi” e “Los Angeles”, desconfio que o último foi o que menos me conquistou - por motivos que explicarei mais adiante - e certamente o meu preferido segue sendo “Férias” (chorei de tanto rir).
Em L.A, a garota da vez é Margaret Walsh, aquela que em todas as obras anteriores foi rotulada de santinha. Casou com seu primeiro (mas não único) namorado e vive uma vida aparentemente perfeita e irrepreensível, mas logo no início do livro descobrimos que a vida dela é tudo, menos perfeita e a coisa só foi desandando.
Depois de ver o seu casamento ir para o brejo, arrumar as malas e aceitar o convite de sua amiga Emily - uma roteirista que rala para conseguir emplacar seus trabalhos - para passar um mês na terra do bronzeado, dentes, corpos perfeitos e atores desempregados, a vida certinha da nossa santa do pau oco virou um verdadeiro filme Hollywoodiano. Além de descobrir a manicure (inacreditavelmente ela nunca tinha feito as unhas), a design de sobrancelha (ao que parece também nunca tinha sentido as dores de uma pinça) e dizer adeus as suas longas madeixas para dar lugar a um corte de cabelo moderno na tentativa de aderir como pode ao estilo de vida da Califórnia (anorexia e cirurgia plástica estavam fora de cogitação), ela também se deixou envolver em peripécias festivas, românticas e até quebrando galhos profissionais como forma de tampar o buraco em que se encontrava.
Confusa, deslocada e sem nenhuma perspectiva futura, Maggie se deixa conduzir e parece não ligar muito para as possíveis consequências de seus desejos mediatos e impensados. Leva uma rasteira atrás da outra até finalmente se encontrar e organizar seus sentimentos de modo a entender que não se tira um caracol do para-brisa de qualquer pessoa (rs depois vocês vão entender isso) e que era o seu passado que estava comprometendo o seu presente e futuro.
“Los Angeles” tem um enredo atraente que abre espaço para temas sérios, personagens bem construídos, diálogos inteligentes e divertidos característicos da autora, além é claro, de passar uma bela mensagem. Entretanto, a narrativa é cansativa. A estória se arrasta e nada de tão empolgante acontece durante mais da metade do livro. Faltou aquele gancho, algo para atiçar a curiosidade do leitor, aquele “tchan” que nos faz virar as páginas freneticamente. A trama é boa, mas na maior parte é tudo muito parado, recheado de acontecimentos dispensáveis e sonolentos: festas chatas, idas à praia e ao supermercado onde nada de interessante acontece. Coisas sem muito propósito. Acredito que isso ocorreu em virtude da vontade da escritora de querer explorar ao máximo o lugar onde a estória é ambientada.
Como Maggie se vê de uma hora para outra disponível novamente no mundo das solteiras, sua carência e baixa autoestima fazem com que qualquer pessoa que passe na sua frente olhando diferente já seja considerado um pretendente em potencial. Consequência: Embarca em relacionamentos fast-food que só agravam seu quadro. A autora retratou de forma bem real a confusão sentimental que geralmente ocorre nesses casos, mas e o afeto? E o interesse real de ter aquela pessoa por mais de uma noite? E o romance em sua essência? E o amor? Senti falta disso e do jogo de conquista que envolve todo processo. Tem? Sim, mas SÓ NO FINAL DO LIVRO.
Como a narrativa é em primeira pessoa, somos induzidos a comprar o que a personagem pensa, somos parciais, mas se a mesma ainda não entende direito seus sentimentos e atitudes, nós leitores também não e ficamos com a visão distorcida do todo, só matando a charada juntos com ela só NO FINAL DO LIVRO. Durante a leitura fiquei mais perdida do que filha da puta em dia dos pais. Garv, Shay, Troy, Lara? Rs! Alguém tem que fazer essa criatura feliz, mas quem? Essa incerteza amorosa me incomodou. Não sabia para quem torcer. Todos pareciam ter um caráter duvidoso e indigno do nosso “iogurte natural à temperatura ambiente” (apelido dado a Maggie pelas irmãs).
Outra questão importantíssima: A família Walsh! Só tem grande destaque quase NO FINAL DO LIVRO. Como assim, Marian? Um tesouro desses tinha que ser bem distribuído ao longo da trama.
Enfim, como já devem ter percebido, é O FINAL DO LIVRO que nos reserva o melhor de “Los Angeles”. Então, se você ficou pelo caminho, retome a leitura. Em sua maior parte é um tanto quanto cansativa sim, mas em contrapartida nos surpreende com situações engraçadas, diálogos memoráveis e conflitos muito realistas que são dissecados e resolvidos de forma muito inteligente. Tudo isso faz todo resto valer a pena, acredite. Aliás, é bom informar que muitas passagens que parecem ser dispensáveis não são, mas isso só se entende bem depois com o desfecho.
“As estrelas estão sempre lá, mesmo durante o dia. Nós é que nem sempre conseguimos vê-las”.