Patrick 02/09/2017
Sobre o orgasmo, sobre Reich, sobre liberdade, sobre ciência
Gosto de autores que não somente citam outros autores que eles próprios leram e tomaram como inspiração e ponto de partida, como também citam os respectivos livros que foram lidos e suas impressões deles, ao invés de apenas divagar vomitando conceitos e ideias como se tivessem surgido de suas brilhantes cabeças.
Um trecho do livro:
''De início Peer Gynt tem muitas idéias fantásticas e se sente forte. Está fora de sintonia com a vida de todos os dias; é um sonhador, um ocioso. Os outros vão diligentemente à escola ou ao trabalho e riem do sonhador. Bem no fundo, eles todos são também Peer Gynts. Peer Gynt sente o pulso da vida, que arremete impetuosamente. A vida de todos os dias é estreita e exige um método rígido. De um lado se encontra a imaginação de Peer Gynt; do outro, a Realpolitik. Temendo o infinito, o homem prático se tranca em um pedacinho da terra e procura segurança para a sua vida. É um problema simples a que ele, como cientista, dedica a sua vida inteira. É um comércio modesto de que se ocupa como sapateiro. Ele não deve pensar a respeito da vida: vai ao escritório, ao campo, à fábrica; visita os pacientes; vai à escola. Cumpre o seu dever e tem a sua paz. Matou há muito tempo o Peer Gynt que havia nele. Pensar é muito cansativo e muito perigoso. Os Peer Gynts são uma ameaça à sua paz de espírito. Seria muito tentador parecer-se com eles. Na verdade ele (o homem prático) se está tornando cada vez mais impotente, mas tem um "espírito crítico", estéril embora; tem ideologias ou tem a autoconfiança fascista. É um escravo, um ninguém, mas a sua raça é uma "raça pura" ou nórdica; ele sabe que o "espírito" governa o corpo e que os generais defendem a "honra".
(...) Peer Gynt acabará com o pescoço quebrado com a sua loucura — pois as pessoas cuidarão para que ele acabe com o pescoço quebrado. Isso vai ser metido pelos seus ouvidos adentro repetidas vezes! O sapateiro deve ficar nos seus sapatos. O mundo é mau, ou não haveria Peer Gynts.
(...) Assim era Ibsen, e assim era o seu Peer Gynt. É um drama que só perderá a sua pertinência quando os Peer Gynt finalmente vencerem. Até lá o bom e o justo serão escarnecidos. ''