O Vestido lilás de Valentine

O Vestido lilás de Valentine Françoise Sagan




Resenhas - O Vestido lilás de Valentine


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deacva 06/04/2022

"Eu não tenho um ar feliz?"
Depois da leitura de "Bom dia tristeza", fiquei bastante interessada na obra da Françoise Sagan. Adquiri alguns de seus livros em sebos, pois não são mais publicados.
"O vestido lilás de Valentine" é um roteiro de teatro. Este é um estilo de leitura a que não estou muito acostumada, porém a experiência foi bem agradável, pois fui imaginando os personagens e cenas durante a leitura. Vi que teve uma adaptação para a TV em 1969.
O livro começa com Valentine, de 35 anos, indo passar uns dias com sua prima Marie, viúva de 43 anos, e seu "sobrinho" (filho de Marie) Serge, de 23. Os demais personagens são Laurence (interesse amoroso de Serge), Doutor Fleurt (interesse amoroso de Marie e tabelião), Saint-Gobain (o mordomo bonapartista) e Jean-Lou (marido de Valentine). Por alguns fatos históricos sitados, me parece que a história se passa no Séc. XIX, mas tirando essa parte, acho que poderia se passar tranquilamente nos dias atuais. Caso alguém se interesse pela leitura e compre esta mesma edição que eu li (Edição de 1965 - Difusão Européia do Livro), aconselho que não leia a orelha do livro nem a contra capa, pois há um spoiler gigante.
Alguns pontos que gostei:
- Valentine a primeira vista parece muito superficial a ponto de ser caricata, porém no decorrer do texto notamos que essa superficialidade é uma forma de fuga dos sofrimentos e frustrações da vida. Durante quase todo o texto, ela é tratada pelos demais personagens como alguém alegre e espirituosa, porém frágil e que precisa ser protegida.
- Em um determinado momento a autora faz uma troca de papéis entre Valentine e seu marido, onde a coloca numa posição que associamos com maior frequência a homens, e vice versa. Achei bem interessante a forma que ela trata esta situação dentro de um contexto familiar acolhedor. Sem defender ninguém, imagino que Valentine seria julgada de uma forma muito diferente caso estivesse cercada por pessoas que não a quisessem tão bem.
- Conflito de gerações: Existem alguns momentos bem marcantes em que Marie ou Valentine se referem a geração de Serge que me lembraram muito as críticas Gen X vs Millenials ou Gen Y vs Gen Z. Cheguei a conclusão que é comum uma geração achar que a outra é mais acomodada ou mais "cheia de mimimi". "Esta geração é tão mais desconcertante do que a nossa. São tão indiferentes que, quando por acaso sofrem, é um verdadeiro drama. O que é que você quer: sofrimento para eles, é chocante..."
- Serge vive um conflito entre seu sonho, que é se tornar um pintor, e a vida prática, que no caso dele é se tornar um publicitário. Valentine deu uma sugestão bem curiosa para este dilema: "Ora, é muito simples. Se você tiver talento, pinte. Caso contrário, sonhe que pinta. Eu sempre sonho ter sido pianista."
- Minha personagem favorita foi Marie, firme e determinada ao mesmo tempo que suave e protetora. Ela também foi responsável pelas cenas mais engraçadas.
Não foi tão bom como "Bom dia, tristeza", mas foi uma leitura excelente.
Minha avaliação: 4/5
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