João Pedro 24/12/2012Corações de NeveVamos lá, depois de muito tempo venho por estas bandas escrever uma resenha. Desculpem-me, então, caso eu tenha perdido a prática. Havia lido "Dragões de Éter - Caçadores de Bruxas" no início deste ano (2012)e posso dizer que me apaixonei pela história de cabo a rabo. Cada letra, cada ponto era encantador e me fazia querer ler mais e mais e saber o que iria acontecer com aqueles personagens tão marcantes e cativantes.
Só agora adquiri e tive tempo de ler a sequência - "Dragões de Éter - Corações de Neve". Olha, Raphael Draccon tem o dom da escrita como poucos escritores têm. Ele consegue expressar a magia que ele mesmo sente ao escrever. Ele consegue nos fazer compreender o quão divino é ser um semideus, e o quão perfeito são todos os mundos etéreos que podem ser criados apenas com o poder da imaginação.
O segundo volume da trama é arrebatador. Entretanto, em minha opinião, não tanto quanto o primeiro. Veja bem, o primeiro volume me marcou tanto que fiz questão de encabeçá-lo em minha lista de livros favoritos. Já este volume (o segundo), não. Calma, calma, logo explicarei o porquê.
Bem, tentarei fazer um breve resumo sem deixar muitos spoilers - não garanto que eles não sairão - sobre o livro. Ah, não continue se você não leu o primeiro livro e, assim como eu, detesta spoilers. "Dragões de Éter - Corações de Neve" segue bem à risca a linha de continuação da trama após o desfecho dos acontecimentos do primeiro livro. Draccon nos mostra as consequências da morte do Maior dos Reis, Primo Branford, e como toda Arzallun - e Nova Ether - sentiram isso. Anísio Branford ganha bastante destaque nessa trama, uma vez que ele assume o trono que antes pertencia a seu pai.
Assim como no livro anterior, Raphael Draccon apresenta diversas "tramas paralelas", que, no final, não se mostram tão desconexas assim. Temos, pois, a história do já conhecido João Hanson, que aparece mais maduro, porém, problemático, e seu maior envolvimento com Ariane Narin, que, por sua vez, está se aprofundando cada vez mais no mundo da bruxaria. Maria Hanson, penso eu, deveria ter ganho mais destaque de uma forma mais imponente, já que neste volume vemos uma Maria chorona, frágil, sem pulso firme. Realmente gostaria que ela fosse uma Maria de grandes feitos, assim como seu irmão, que ganha um destaque maravilhoso.
Além disso, temos toda a questão do torneio de pugilismo, o Punho de Ferro, e é aí que vejo um dos pontos que mais me decepcionou nesta obra. Desde o primeiro volume, nunca fui simpatizante das partes em que o autor descrevia incessantemente os nomes dos movimentos e as lutas de pugilismo de Axel Branford. Entretanto, no segundo volume o pugilismo ganha muito mais destaque, já que Arzallum é a sede do grande torneio que, não entendo o porquê, possui uma conotação política tão grande. Sério, realmente não entra na minha cabeça o porquê de Draccon ter dado TANTA importância a esse torneio, que toma, basicamente, metade do livro inteiro. Será que foi só para encher linguiça?
Outra trama paralela é a de Branca Coração de Neve, e aí também vejo outro ponto fraco da história. Poxa, o título do livro carrega "Corações de Neve" assim, logo de cara. Porém é só nas proximidades do final do Punho de Ferro, com a aparição da condessa Helena de Bravaria, que o enredo dos Corações de Neve ganha força. Achei que Branca e sua história deveria ter tido MUITO mais destaque. O Punho de Ferro toma conta de quase todo o livro e o desfecho ficou bastante corrido, porém não ruim.
Hm, não falarei nada sobre Rumpelstichen ou a chegada da comitiva do continente de Ofir ao continente de Ocaso. Ainda não tenho um pensamento bem definido se essa foi a melhor forma de introduzir esses personagens, muito embora Ruggiero tenha sido de tamanha importância para a trama. Falarei então do que acho que tenha sido o grande trunfo deste livro: Robert de Locksley, ou Robin, para os mais chegados. Sua luta pela libertação de Sherwood, que teve de esperar seu cumprimento de pena de 20 anos na prisão de Stallia, é sensacional, incrível, arrebatador. Acredito que, se Draccon quisesse, poderia ter feito uma obra à parte, um spin-off sobre a saga de Robin. Achei realmente muito bom.
Então, apesar dos pontos negativos que encontrei na obra, não consegui dar menos que cinco estrelas. Raphael Draccon é um gênio da literatura fantástica brasileira, e sua estrela, enquanto brilhar, continuará o iluminando e fazendo com que mais e mais histórias incríveis como essa venham a existir.