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Gabriel Patrick Wesolowski
Resenhas - Gabriel
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francisco.venan 23/01/2016
Gabriel, de Patrick Wesolowski
Como bem escreveu Confúcio, antes de sair à procura de vingança deve-se abrir duas covas, pois a ira que se aloja no íntimo de quem procura vingar-se o faz voltar a sua atenção apenas para aquilo que há de mais feio no ser humano e a memória o transporta apenas para os momentos mais difíceis e mais dolorosos da vida. Logo, mesmo que viva já está morto, pois que prazer pode encontrar alguém que está cego e cujos objetivos são apenas a destruição? Lembrar, contar e reviver as feridas não faz com que elas cicatrizem, ao contrário, apenas aumenta o sofrimento que cessaria facilmente se fossemos seres inclinados ao perdão.
Em Gabriel encontramos várias faces de uma vingança anunciada: Gabriel é um policial quase aposentado que acorda um dia qualquer e descobre que está prisioneiro de um suposto psicopata. Júlio é uma espécie de justiceiro com sede de vingança e por quem o ditado ‘olho por olho, dente por dente’ é levado ao máximo de sistematização. A frase que abre o texto é enigmática e sugestiva: “Gabriel devia estar morto, mas não estava.” Neste ponto é notória a indicação do narrador de que a personagem protagonista não é uma pessoa tão virtuosa, pois em sua opinião sua vida não tem muito valor e não deveria ter se prolongado tanto. O cenário em que Gabriel está inserido não tem muita cor ou decoração o que indica também uma falta. Afora essas indicações, nota-se muito claramente que o protagonista sofre de uma espécie de distúrbio ou uma alteração frequente de sensações que são nomeadas pelo narrador como os ‘eus’ de Gabriel: “Gabriel sentimental, Gabriel comédia, Gabriel engenheiro, Gabriel policial, Gabriel em pânico” são algumas das diversas faces da personagem frente a um problema quando precisa ser resolvido; cada uma delas apontando para uma solução possível, mas que sempre opta pela visão opinativa do Gabriel policial. A face policial de Gabriel impera sobre todas as outras e o faz escolher sempre a saída mais sensata.
A narrativa se passa no decorrer de poucos dias, em capítulos contínuos, enovelados e com uma carga dramática e terror psicológico que leva o leitor a se interessar facilmente pelo desfecho da trama. Aos poucos o drama de Gabriel vai-se inserindo na história de outras personagens que são trazidas ao cenário para serem julgadas pelo policial Gabriel. A questão da escolha encontra-se muito presente na narrativa, dela depende o destino das outras personagens como se fosse um jogo macabro em que não importa o que se faça, as pessoas continuarão a morrer, a única decisão de Gabriel é como elas devem morrer porque salvá-las é impossível. Quanto à própria vida, há escolha, mas dela depende também o futuro de sua família.
Protagonista e antagonista inserem-se no mesmo patamar e com a mesma força de atuação: Gabriel está sob a custódia de Júlio e ambos são sujeitos propensos à vingança. Talvez o fato de Gabriel ter sofrimento agressões físicas de sua tia durante a infância o tenha tornado agressivo e arredio, pois mesmo nos momentos menos tortuosos, seu pensamento é apenas vingar-se de Júlio. Mas Júlio tem consciência de que aquele jogo não terminará bem e que no final ambos sairão pela mesma porta, desfalecidos, pois vingados.
A novela traz referências de vários campos artísticos desde o famoso médico psiquiatra forense e psicopata Hannibal Lecter à melodia de Chopin. Do cinema atual à música clássica esta novela policial traz um enredo simples, mas que surpreende pela coerência e pelo desfecho. Patrick Wesolowski é o autor primário e talentoso, responsável pelas horas de prazer que o livro me propôs. Quem quiser conhecer um pouco mais sobre suas preferências literárias basta procurar neste site as resenhas por ele escritas e adentrar um pouco no universo deste escritor que jovem, mas promissor.
site: http://indiqueumlivro.literatortura.com/2016/01/22/gabriel-de-patrick-wesolowski/
Gabriel, de Patrick Wesolowski
Como bem escreveu Confúcio, antes de sair à procura de vingança deve-se abrir duas covas, pois a ira que se aloja no íntimo de quem procura vingar-se o faz voltar a sua atenção apenas para aquilo que há de mais feio no ser humano e a memória o transporta apenas para os momentos mais difíceis e mais dolorosos da vida. Logo, mesmo que viva já está morto, pois que prazer pode encontrar alguém que está cego e cujos objetivos são apenas a destruição? Lembrar, contar e reviver as feridas não faz com que elas cicatrizem, ao contrário, apenas aumenta o sofrimento que cessaria facilmente se fossemos seres inclinados ao perdão.
Em Gabriel encontramos várias faces de uma vingança anunciada: Gabriel é um policial quase aposentado que acorda um dia qualquer e descobre que está prisioneiro de um suposto psicopata. Júlio é uma espécie de justiceiro com sede de vingança e por quem o ditado ‘olho por olho, dente por dente’ é levado ao máximo de sistematização. A frase que abre o texto é enigmática e sugestiva: “Gabriel devia estar morto, mas não estava.” Neste ponto é notória a indicação do narrador de que a personagem protagonista não é uma pessoa tão virtuosa, pois em sua opinião sua vida não tem muito valor e não deveria ter se prolongado tanto. O cenário em que Gabriel está inserido não tem muita cor ou decoração o que indica também uma falta. Afora essas indicações, nota-se muito claramente que o protagonista sofre de uma espécie de distúrbio ou uma alteração frequente de sensações que são nomeadas pelo narrador como os ‘eus’ de Gabriel: “Gabriel sentimental, Gabriel comédia, Gabriel engenheiro, Gabriel policial, Gabriel em pânico” são algumas das diversas faces da personagem frente a um problema quando precisa ser resolvido; cada uma delas apontando para uma solução possível, mas que sempre opta pela visão opinativa do Gabriel policial. A face policial de Gabriel impera sobre todas as outras e o faz escolher sempre a saída mais sensata.
A narrativa se passa no decorrer de poucos dias, em capítulos contínuos, enovelados e com uma carga dramática e terror psicológico que leva o leitor a se interessar facilmente pelo desfecho da trama. Aos poucos o drama de Gabriel vai-se inserindo na história de outras personagens que são trazidas ao cenário para serem julgadas pelo policial Gabriel. A questão da escolha encontra-se muito presente na narrativa, dela depende o destino das outras personagens como se fosse um jogo macabro em que não importa o que se faça, as pessoas continuarão a morrer, a única decisão de Gabriel é como elas devem morrer porque salvá-las é impossível. Quanto à própria vida, há escolha, mas dela depende também o futuro de sua família.
Protagonista e antagonista inserem-se no mesmo patamar e com a mesma força de atuação: Gabriel está sob a custódia de Júlio e ambos são sujeitos propensos à vingança. Talvez o fato de Gabriel ter sofrimento agressões físicas de sua tia durante a infância o tenha tornado agressivo e arredio, pois mesmo nos momentos menos tortuosos, seu pensamento é apenas vingar-se de Júlio. Mas Júlio tem consciência de que aquele jogo não terminará bem e que no final ambos sairão pela mesma porta, desfalecidos, pois vingados.
A novela traz referências de vários campos artísticos desde o famoso médico psiquiatra forense e psicopata Hannibal Lecter à melodia de Chopin. Do cinema atual à música clássica esta novela policial traz um enredo simples, mas que surpreende pela coerência e pelo desfecho. Patrick Wesolowski é o autor primário e talentoso, responsável pelas horas de prazer que o livro me propôs. Quem quiser conhecer um pouco mais sobre suas preferências literárias basta procurar neste site as resenhas por ele escritas e adentrar um pouco no universo deste escritor que jovem, mas promissor.
site: http://indiqueumlivro.literatortura.com/2016/01/22/gabriel-de-patrick-wesolowski/
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