Viagem ao Espírito Santo e Rio Doce

Viagem ao Espírito Santo e Rio Doce Auguste de Saint-Hilaire




Resenhas - Viagem ao Espírito Santo e Rio Doce


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JPHoppe 23/08/2019

Vários naturalistas viajantes visitaram o Brasil após a descoberta de seu território pelos portugueses, especialmente durante os anos do Brasil Império. A terra distante e desconhecida, as paisagens exuberantes, o clima tropical, fauna e flora estranhas, seus habitantes naturais. Essas qualidades tornavam os países sul americanos, entre eles o Brasil, destino de viagens desses europeus, atraídos pelo quadro pitoresco.

Vários naturalistas viajantes tiveram o Brasil como destino ou passagem, com o território do Espírito Santo frequentemente incluso nos roteiros. O francês Auguste de Saint-Hilaire foi um deles.

Um botânico em primeiro lugar, o esplendor e diversidade das florestas tropicais o fascinaram sem igual. E, talvez por isso, foi um dos primeiros a chamar atenção para o problema de sua destruição. A miopia dos brasileiros é duramente apontada por Auguste, ao afirmar que os brasileiros "só pensam em fazer dinheiro de tudo, destroem as matas e apenas deixarão a seus sucessores terras inúteis" (p.41). É uma mensagem tanto profética, uma vez que a Mata Atlântica foi muitíssimo fragmentada, quanto dolorosamente ainda atual. Basta ver a gradual destruição de outra floresta tropical em território nacional, a Floresta Amazônica.

Um outro ponto interessante é quando fala das águas do Rio Doce, que em certas épocas do ano ficam intragáveis, "carregadas de um limo avermelhado, que é simplesmente o resíduo da mineração da Província de Minas" (p.73). Vimos recentemente o maior desastre ambiental brasileiro com o rompimento das barragens de Mariana, que tornaram a situação descrita em 1818 permanente.

Ainda, Saint-Hilaire foi outro que se preocupou com a questão dos índios. Aprendeu o quanto pode seus idiomas, sua cultura e costumes, e por muitas vezes intercedeu a seu favor. Em várias situações fica horrorizado com o tratamento que os luso-brasileiros tem dos habitantes locais, que "A seus olhos [dos luso-brasileiros], (...) não pertenciam à espécie humana; eram animais ferozes" (p.93). Auguste diz que "tentei em vão fazer essas bravias criaturas compreender que tais sentimentos não estavam perfeitamente de acordo com a religião que pretendiam professar" (p.93). Nesse sentido, Auguste de Saint-Hilaire pode ser comparado com o Príncipe de Neuwied, que visitou as mesmas regiões poucos anos antes, e tanto se admirou pelo estudo com humanos que dedicou-se exclusivamente a essa atividade posteriormente.

O livro, excelente, não leva cinco estrelas não por um demérito do autor, mas da edição dessa versão. Essa edição está baseada na tradução de apenas alguns capítulos, referentes ao Espírito Santo, de uma obra maior: "Voyage dans le district des Diamants et sur le litoral du Brésil. Suivi de notes sur quelques plantes caractéristiques et d'un précis de l'histoire des révolutions de l'empire Brésilien (Voyage dans l'intérieur du Brésil. Part 2)". Somente isso não é problema, mas a edição que possuo não cita qual é a fonte original, quais partes escolheu traduzir, ou fez uma adaptação das notas, que frequentemente citam trechos anteriores que, claramente, não estão lá. Uma Introdução situando tempo e espaço também seria muito bem vinda.
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