Ângelo Von Clemente 07/02/2016Uma retratação histórica arrebatadora Faz demasiado tempo desde que li esta edição pela primeira vez, mas as impressões que ela me ocasionaram perduram intactas até os dias de hoje. Vãs palavras não definem a admiração que me desperta o trabalho de Bernard Vincent como historiador, visto que o que ele realiza nessa obra não é somente um mero trabalho acadêmico vazio e vago, mas algo infinitamente superior; Lutar contra mitos, esmagar caricaturas criadas por mais de duzentos anos de um trabalho intensivo de desconstrução histórica republicana, dentro da qual Louis XVI é lamentavelmente retratado como um ''Glutão frívolo, indeciso, lerdo, comandado pela esposa, volúvel, despótico, lerdo'' dentre outras características desfavoráveis. A narrativa de Bernard Vincent é mais apropriada para leitores que estão habituados ao contexto da revolução francesa, creio que pelo teor acadêmico no qual ele foca... Revela sobre uma luz completamente nova uma figura histórica que por séculos foi massacrada, demonizada, e injustiçada. Com uma coragem e uma seriedade sem precedentes, o autor coloca á prova todos os mitos revolucionários criados após 1789, destruindo-os com uma arma muito mais poderosa que a pseudo-intelectualidade de falsos historiadores hipócritas; Documentos históricos, relatos confiáveis e por natureza incontestáveis, que revelam não somente a figura humana que foi Louis XVI, mas todas as desgraças e injustiça que ele sofreu, e que sua imagem sofre até este século.
† 21 de Janeiro de 1793 - Minha homenagem para aquele cuja coragem e amor à humanidade nunca foram devidamente reconhecidos. Louis XVI †
Glória ao semblante sereno e resignado do homem que neste mesmo dia, há mais de dois séculos, subiu os degraus infames do cadafalso em plena revolução francesa, esse mesmo cuja presença de espírito permaneceu inatingível, mesmo sofrendo as mais ordinárias provações de sua era.
Humilhado, traído, abandonado, enlutado pela morte de dois filhos, incompreendido por seus semelhantes, e vítima de calúnias que ganharam o inconsciente da posteridade. Em seu momento áureo, ao encarar a guilhotina, Louis XVI fez calar a turba parisiense com suas últimas palavras inacabadas, essas destinadas às gerações futuras, que não tardaram em ser interrompidas pelo rufar covarde dos tambores revolucionários:
"Eu morro inocente dos crimes que me imputam. Perdoou os autores de minha morte. Rogo a Deus que o sangue que vocês derramarão jamais recaia sobre a França."
Acusado de despotismo aquele que em plena atividade de seus poderes jamais o utilizou para oprimir ou empregar a força. Ou como teria respondido Madame Elisabeth (irmã de Louis XVI) durante o tribunal revolucionário, quando indagada pelo promotor do comitê de segurança pública sobre a acusação de ser "irmã de um tirano ":
"Se realmente meu irmão tivesse sido um tirano, monsieur, tenha certeza de que eu não me encontraria nessa condição atual, tampouco o senhor na sua."
Meu espírito encontra o luto por este que acima de ter sido somente um mero monarca para a nação francesa, foi um verdadeiro pai para o seu povo, e o amou tão imensamente que por ele sacrificou tudo; Sua coroa, sua existência carnal, e mais admiravelmente ainda: o destino de sua família.
Ignorantes aqueles incapazes de enxergar além das quimeras e dos mitos pretensiosos. A estes satisfaz a palavra de uns dois ou três pseudo-"historiadores", ou de algum livreco didático medíocre, para cuja imagem de Louis XVI nunca passará do esbolço de uma caricatura completamente inverossímil e absurda.
∞ Vive le roi ∞