alinenotalien 01/03/2020
Louvado seja Mortain pela existência desse livro!
Perdão Mortal era um dos livros que estava há tempos na minha lista, mas tinha certo receio em ler, por achar que seria ruim. E esse foi o motivo de eu ter adiado a leitura por tanto tempo, hah! Entretanto, finalmente li essa beleza de livro e só ficou aquela famosa questão no ar: "por que eu não li esse livro antes?"
Ismae Rienne é uma pária. Sua mãe tentou expulsá-la de seu útero com veneno, rendendo a Ismae uma cicatriz grotesca, fazendo com que as pessoas a temessem e a mantivessem isolada do convívio social; seu pai a tratava de forma cruel e a vendeu para casar-se com Grillo. Este, ao se sentir enganado, a agrediu e a prendeu. Após tudo isso, Ismae é resgatada por uma curandeira e um padre misterioso, levada diretamente para o Convento de St. Mortain.
O Convento de St. Mortain não é um convento convencional, veja bem. E é aqui que entra meu profundo amor pela mitologia criada pela Robin LaFevers e também um pouco da minha raiva por ela não focar nessa mitologia da devida forma, infelizmente (falarei disso mais adiante, taokey?). Cada convento é destinado para um dos 9 santos antigos (ou deuses, para os seus devotos). Mortain, no caso, é o padroeiro da Morte.
Com a ajuda das irmãs e da abadessa, Ismae é treinada para servir Mortain e realizar seus desejos em terra. Ismae é treinada para ser uma assassina.
"Você não pode esperar que uma rainha lave as próprias roupas ou amarre o próprio vestido. Ela tem suas damas de companhia para isso. É a mesma coisa conosco: nós servimos como damas de companhia de Mortain. Quando guiadas por Sua vontade, matar é um sacramento."
Gavriel Duval é um bastardo, completamente fiel à duquesa Anne e tudo o que ela representa. Tão fiel quanto Ismae e sua fidelidade para com seu santo. E se num primeiro momento a relação entre os dois é de desprezo e desconfiança mútua, logo torna-se compreensão ao longo do desenvolvimento dos dois. Se você tem uma alma romântica já fica o aviso: o relacionamento deles não é aberto demais. Veja bem que o foco é Ismae e sua jornada para cumprir sua missão e, principalmente, descobrir a si mesma. E Duval está ali para ajudá-la.
"Era imune a venenos e sabia uma dezena de modos de me livrar de um estrangulamento ou do fio de um garrote. Mas simpatia? Não sabia como me defender contra isso."
A religiosidade está presente em Perdão Mortal a todo momento. Os santos, vistos como deuses menores para aqueles que são seus devotos, são de extrema importância para Ismae e suas irmãs de St. Mortain. É muito interessante seguir o desenvolvimento de Ismae ao longo da história, perceber o quanto sua fé em Mortain era cega e desesperada, assim como a confiança depositada em suas irmãs e, principalmente, na Madre Superiora; e como isso vai se transformando pouco a pouco em dúvidas, muitas plantadas em sua cabeça pelo próprio Duval.
"Não é do santo que desconfio, demoiselle, só dos humanos que interpretam Seus desejos. Em minha experiência, os humanos são todos muito falíveis."
Toda a trama política também é incrível! Desde o império bretão e seus aliados e rivais, à corrida para ganhar a mão da duquesa; os planos de traições, planos para evitar uma guerra. Perdão Mortal tem tudo isso, numa narrativa de tirar o fôlego e com uma verossimilhança forte com a história real. Ismae e Duval trabalhando juntos para conseguir descobrir o traidor e salvar a duquesa, ainda que regada por desconfiança num primeiro momento, é muito bem desenvolvida.
Um ponto negativo é a falta de um foco maior no Convento de St. Mortain. O treinamento de Ismae, a relação dela com suas outras irmãs é descrita muito rapidamente, logo nos primeiros capítulos. Fiquei muito curiosa para saber mais sobre o treinamento nas muitas "artes" citadas no livro com maior profundidade, queria conhecer mais as outras irmãs que agem como professoras das noviças. Mas tirando esse ponto, o livro é maravilhoso do começo ao fim!
Perdão Mortal é um livro incrível, inesquecível e de tirar o fôlego. Ismae é uma das melhores personagens que já tive o prazer de acompanhar, Duval se mostrou ser um personagem magnifico também, apesar de todas minhas desconfianças iniciais. A mitologia criada por LaFevers é maravilhosa. Mal posso esperar para iniciar a leitura do segundo volume da série, Divina Vingança.
"Pois a morte não é assustadora, nem má, nem impiedosa, é simplesmente a morte."
"Era isso o que eu queria ser. Um instrumento de misericórdia, não de vingança."