Israel145 22/05/2016Os contos deste volume publicado pela Best Bolso oriundos da mente de um dos maiores gênios da literatura policial e de suspense, o incomparável Raymond Chandler, traz mais casos escabrosos resolvidos por um cast fantástico de detetives saídos da imaginação do autor: Johnny Dalmas, Johnny de Ruse e Walter Gage. Enquanto o outro volume publicado pela editora (Encrenca é o meu negócio) foca no maior detetive já criado por Chandler, Phillip Marlowe, protagonista de contos e romances, neste o foco recai sobre sua segunda melhor criação: Johnny Dalmas.
Apesar de vermos os clichês que influenciaram o noir e grande parte da cultura pop até os dias de hoje, usados de maneira desregrada durante dezenas de anos, até a saturação, se voltarmos para a década de 30, o que se percebe é a originalidade.
Juntamente com o outro grande mestre da literatura policial, Dashiell Hammett, Chandler definiu os clichês do gênero. O mundo sujo habitado pelos marginais e os desiludidos da sociedade, que saem à noite em busca de solucionar crimes pelo mero prazer de resolvê-los, ou pela grana que podem ganhar foi concebido inicialmente por mentes como a de Chandler, que retratou bem o submundo em seus contos. Beberrões, trapaceiros, drogados, pilantras e trambiqueiros sucumbem à justiça das ruas mantida por caras como Johhny Dalmas que não se furtam à necessidade de quebrar um queixo ou meter bala em alguém se for para solucionar um crime.
Nos 3 contos estrelados por Dalmas, apesar de terem a mesma estrutura (o crime, a investigação, a suposta solução e a reviravolta final), cada linha segura o leitor e mantém uma história concisa e com desenvolvimento rápido e exponencial, o autor sempre acha de surpreender o leitor no final conferindo uma reviravolta no último instante. O que faz com que os contos fiquem ainda mais saborosos.
O conto com Johnny de Ruse é divertido, mas um pouco parecido com as histórias de Dalmas, serve pra preparar o leitor para o melhor do livro, o conto que o batiza (Pérolas dão azar) com o divertido arremedo de detetive Walter Gage. Carregado com um humor despretensioso, Gage, beberrão por natureza, se mete a investigar o roubo de um colar de pérolas da patroa de sua namorada apenas para impressioná-la e em meio a bebedeiras e uma divertida linha de raciocínio inspirada nos contos de Sherlock Holmes (Gage tem até sotaque britânico), o improvável detetive conhece seu mais novo amigo de farras, Henry Eichelberger, e se metem numa odisseia regada a uísque barato, se embrenhando em hotéis vagabundos e rastejando junto com a escória da cidade. O mais legal é que Henry é o principal suspeito do roubo do colar de pérolas.
Esse é o mundo de Chandler com seus contos e romances despretensiosos que definiram o gênero. Nascido das revistas Pulp, sendo o carro chefe da publicação Black Mask, Chandler saiu das revistas vagabundas para entrar na história definindo o que viria a ser o Noir e alimentando o que viria a ser a cultura pop nas décadas seguintes em tudo que possa envolver suspense e ação policial. Antes mesmo do gênero se tornar caricatural e repetitivo, o original pode ser lido nas páginas desses contos. Esses são os verdadeiros anti-heróis: párias, espertos, durões e beberrões. Essa é a fauna urbana de Chandler criada para habitar seu mundo-cão e marcar a literatura policial com alguns pequenos clássicos. Material despretensioso e diversão garantida.