Pérolas dão azar

Pérolas dão azar Raymond Chandler




Resenhas - Pérolas dão azar


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Emerson 30/05/2022

Inteligente, mas cansativo
O autor escreve seus contos e casos com muita inteligência e seus personagens são realmente perspicazes, tendo sacadas muito boas ao longo das tramas. Além disso, os diálogos são bem trabalhados, sendo um dos principais atrativos dos contos, tornando-os interessantes e divertidos e revelando bastante do caráter dos personagens.
Apesar desses pontos positivos, a maior parte do livro, composta pelos três contos do detetive Dalmas, se mostraram muito maçantes. Esses contos foram inflados com descrições desnecessárias para as tramas, enquanto os enredos não desenvolviam tão bem os personagens, abaixo mesmo dos limites que um conto permite que se desenvolva personagens. Por esse motivo, os três contos não nos aproximam da história e a leitura se torna bastante cansativa. Nem mesmo o detetive Dalmas tem um desenvolvimento tão sólido, se constituindo apenas a partir da solução de casos, como se a definição dele fosse "detetive inteligente" e nada mais.
Felizmente os dois últimos contos me revelaram que o autor também acerta, trazendo dois personagens mais vivos e tramas mais envolventes. Aqui as descrições ainda se estendem um pouco, mas nada que não se equilibre com a riqueza das narrativas.
O meu conto favorito foi definitivamente o último conto, que dá nome ao livro, "Pérolas dão azar", sendo o mais divertido e engraçado, além do inteligente mistério, com um personagem carismático e interações envolventes, provando que o autor consegue enriquecer sim seus contos mesmo em poucas páginas e sem excessos de descrições(que, vai por mim, não colaboraram em nada no suspense e trouxeram um efeito inverso, sendo uma quebra de tensão).
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Israel145 22/05/2016

Os contos deste volume publicado pela Best Bolso oriundos da mente de um dos maiores gênios da literatura policial e de suspense, o incomparável Raymond Chandler, traz mais casos escabrosos resolvidos por um cast fantástico de detetives saídos da imaginação do autor: Johnny Dalmas, Johnny de Ruse e Walter Gage. Enquanto o outro volume publicado pela editora (Encrenca é o meu negócio) foca no maior detetive já criado por Chandler, Phillip Marlowe, protagonista de contos e romances, neste o foco recai sobre sua segunda melhor criação: Johnny Dalmas.
Apesar de vermos os clichês que influenciaram o noir e grande parte da cultura pop até os dias de hoje, usados de maneira desregrada durante dezenas de anos, até a saturação, se voltarmos para a década de 30, o que se percebe é a originalidade.
Juntamente com o outro grande mestre da literatura policial, Dashiell Hammett, Chandler definiu os clichês do gênero. O mundo sujo habitado pelos marginais e os desiludidos da sociedade, que saem à noite em busca de solucionar crimes pelo mero prazer de resolvê-los, ou pela grana que podem ganhar foi concebido inicialmente por mentes como a de Chandler, que retratou bem o submundo em seus contos. Beberrões, trapaceiros, drogados, pilantras e trambiqueiros sucumbem à justiça das ruas mantida por caras como Johhny Dalmas que não se furtam à necessidade de quebrar um queixo ou meter bala em alguém se for para solucionar um crime.
Nos 3 contos estrelados por Dalmas, apesar de terem a mesma estrutura (o crime, a investigação, a suposta solução e a reviravolta final), cada linha segura o leitor e mantém uma história concisa e com desenvolvimento rápido e exponencial, o autor sempre acha de surpreender o leitor no final conferindo uma reviravolta no último instante. O que faz com que os contos fiquem ainda mais saborosos.
O conto com Johnny de Ruse é divertido, mas um pouco parecido com as histórias de Dalmas, serve pra preparar o leitor para o melhor do livro, o conto que o batiza (Pérolas dão azar) com o divertido arremedo de detetive Walter Gage. Carregado com um humor despretensioso, Gage, beberrão por natureza, se mete a investigar o roubo de um colar de pérolas da patroa de sua namorada apenas para impressioná-la e em meio a bebedeiras e uma divertida linha de raciocínio inspirada nos contos de Sherlock Holmes (Gage tem até sotaque britânico), o improvável detetive conhece seu mais novo amigo de farras, Henry Eichelberger, e se metem numa odisseia regada a uísque barato, se embrenhando em hotéis vagabundos e rastejando junto com a escória da cidade. O mais legal é que Henry é o principal suspeito do roubo do colar de pérolas.
Esse é o mundo de Chandler com seus contos e romances despretensiosos que definiram o gênero. Nascido das revistas Pulp, sendo o carro chefe da publicação Black Mask, Chandler saiu das revistas vagabundas para entrar na história definindo o que viria a ser o Noir e alimentando o que viria a ser a cultura pop nas décadas seguintes em tudo que possa envolver suspense e ação policial. Antes mesmo do gênero se tornar caricatural e repetitivo, o original pode ser lido nas páginas desses contos. Esses são os verdadeiros anti-heróis: párias, espertos, durões e beberrões. Essa é a fauna urbana de Chandler criada para habitar seu mundo-cão e marcar a literatura policial com alguns pequenos clássicos. Material despretensioso e diversão garantida.
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