Dayvid Simplicio 29/05/2018
Magda Soares, mineira, graduada em Letras Neolatinas (1953) e doutora em Didática (1962), ambas as formações pela Universidade Federal de Minas Gerais, e também professora titular da mesma. Autora de vários livros na área do ensino de língua materna, dentre os quais destacamos: Cultura escrita e letramento (2010) e Alfabetização e Letramento (2003).
O livro “Letramento: um tema em três gêneros” vem introduzir novos conceitos e discutir outros já trabalhados na área de Educação voltada à alfabetização. É dividida em três partes (daí justifica-se o título), em cada qual vai ser abordado o tema do letramento, em três perspectivas, isto é, em três gêneros textuais. Logo na apresentação, a autora esclarece esta divisão: a primeira parte trabalha a definição de Letramento - um novo conceito introduzido recentemente ao vocabulário da Linguística; a segunda parte dedica-se a tratar do mesmo tema numa perspectiva de práticas didáticas, voltada mais para o professor em seus trabalhos; a terceira, por fim, destinada aos profissionais linguísticos da área, vem discutir o letramento numa tentativa de medição e avaliação, ou seja, para saber como podemos aplicar e medir este conceito nas diversas situações sociais.
A autora começa esclarecendo as definições comumente utilizadas no processo de desenvolver habilidades de leitura e escrita, a saber: alfabetização, analfabetismo, letrado, iletrado, para chegar ao conceito de letramento. Segundo a autora, letramento vai ser definido como a capacidade que um grupo ou um indivíduo tem de utilizar-se bem dos recursos de leitura e escrita, envolvendo-se em práticas sociais que exijam estas habilidades; este conceito vai abarcar a dimensão dos usos. É diferente de alfabetização, que vai ser definido como o processo de ensinar a ler e a escrever. Em outras palavras, o letramento é o resultado da alfabetização. Há pessoas que, segundo a autora, podem não saber ler, nem escrever, mas se fazem uso dessas práticas e reconhecem a sua importância e a sua aplicabilidade, podem ser consideradas letradas.
A autora explica, de modo simples e objetivo, o porquê de se trazer à discussão um novo conceito, alegando que para o surgimento de um novo fato social, exige-se um novo nome. O novo fato social mostrado pela autora é a superação gradativa do problema do analfabetismo ao longo do tempo. Ela constata que, apesar da relatividade dos índices de analfabetismo em cada sociedade, o número de analfabetos hoje é bem menor do que foi há algumas décadas atrás. Por isso um novo fenômeno surge e é necessário defini-lo: já não se preocupa com o índice de analfabetos, mas em que medida os alfabetizados se utilizam daquilo que aprenderam nas práticas sociais.
Soares, ao trabalhar tal conceito, apresenta a ideia de que há diferentes níveis e tipos de letramento que vão variar de acordo com as exigências sociais e as necessidades dos grupos ou do indivíduo. Ao exemplificar, ela afirma que este conceito vai variar entre os países em desenvolvimento e os desenvolvidos, baseando-se nas condições de letramento oferecidas por cada país ou por cada cultura. Em outras palavras, as práticas sociais de leitura e escrita vão ser mais incentivadas nos países desenvolvidos, em detrimento dos outros.
Magda Soares sugere uma base de conceitos sobre o que é letramento, como avaliá-lo e como medi-lo. Começa definindo-o em duas dimensões, a individual e a social. Nesta ela aborda o letramento numa perspectiva cultural que envolve as práticas de leitura e escrita de um grupo; naquela, aborda no âmbito pessoal que envolve as habilidades individuais de cada um. Em seguida ela problematiza a definição de letramento, propondo que consideremo-la no plural, já que envolve mais de uma habilidade.
Por fim a autora procura medir e avaliar os níveis de letramento, e menciona que as avaliações realizadas pelos censos e pela escola são por vezes equivocadas, porque não exploram toda a dimensão deste tema. Porém aponta um problema para esta tentativa, uma vez que não há uma escala fixa que faça o “diagnóstico” do nível de letramento, pois como vimos e como ela mesma afirma, esta definição é relativa. A autora reconhece que seus estudos sobre letramento não estão acabados, e que suas ideias vêm constituir um contributo para uma teoria que é nova e pouco trabalhada, daí porque ela não pode apresentar definições precisas para os termos nem soluções práticas para o problema.
Concluímos que esta obra é muito valiosa para os estudos sobre letramento e ensino de língua materna, porque vai trazer um novo olhar do professor para esse processo de ensino. Também vai servir para a formulação por parte do governo de políticas de alfabetização no Brasil. Além disso, é direcionada para os estudantes de Letras, de Pedagogia e para os pesquisadores da área.