Psychobooks 22/07/2014
Um dia, passeando pela Cultura, dei de cara com esse livro. A capa me chamou atenção e, apesar de ter a maior cara de chick-lit (e eu não sou chegada nesse gênero), resolvi pagar para ver (literalmente!). No final do ano passado li um livro que judiou muito de mim, então queria uma leitura leve e divertida – e não hesitei em pegá-lo para ler. E tive uma baita surpresa!
- Enredo e desenvolvimento do enredo
A história se passa na Califórnia, onde seis pessoas – Jocelyn, Sylvia, Allegra, Prudie, Bernadette e Grigg (o único homem do grupo) – iniciam um clube de leitura das obras de Jane Austen. A primeira coisa que me atraiu para esse livro foi o fato de, no meio de cinco mulheres, a maioria de meia-idade, haver um homem (e jovem) lendo Jane Austen.
Durante seis meses o grupo lê seis romances de Jane Austen: Orgulho e Preconceito, Razão e Sensibilidade, Emma, Mansfield Park, A Abadia de Northanger e Persuasão. Ao longo desse tempo acompanhamos as reuniões e como a leitura das obras se entrelaça com a vida pessoal de cada uma das personagens.
- Narrativa
O livro é dividido em seis partes que levam os nomes dos meses e das obras a serem lidas durante cada mês. Em cada uma dessas partes um dos personagens fica mais em evidência do que os outros e, enquanto acompanhamos o andamento da leitura da obra e as posteriores discussões na reunião do clube, o narrador vai inserindo características dos personagens, contando um pouco de seu passado e dando um panorama da personalidade de cada um. Assim, vemos a maneira com que cada um deles lida com Jane Austen e com os outros membros do clube.
A narrativa é um espetáculo à parte! Ela é feita na terceira pessoa do singular nos momentos dedicados à história dos personagens, mas, ao abordar as reuniões do clube de leitura, ela muda para a terceira pessoa do plural – e isso me surpreendeu bastante! O narrador diz coisas como “nós nos sentamos para discutir Orgulho e Preconceito”, mas não se identifica com nenhuma das seis personagens. Nunca havia lido uma narrativa assim e achei sensacional, porque nesses momentos não apenas acompanhamos a discussão, mas nos sentimos parte dela também. Ponto para a Karen!
- Personagens
Jocelyn tem por volta de 50 anos, é solteira e cria cachorros da raça ridgeback para concursos e procriação. É perfeccionista e gosta de estar no controle da situação. É ela quem tem a ideia do clube de leitura, como forma de distrair sua melhor amiga, Sylvia, que está passando por um divórcio.
Sylvia tem a mesma idade de Jocelyn e está se separando de Daniel, que foi quem pediu o divórcio. O casal tem três filhos adultos, dois rapazes e uma moça, Allegra, que também entra para o clube.
Allegra tem por volta de 30 anos, é solteira e faz artesanato. É aventureira e esconde isso dos pais, que são um tanto superprotetores. Está separada de sua companheira, Corinne, e morando temporariamente com a mãe.
Prudie também tem por volta de 30 anos, é professora de francês e casada com Dean.
Bernadette é a “figurona” do grupo, tem quase 70 anos e está sempre vestindo roupas de ioga. Foi casada várias vezes e ninguém consegue interrompê-la quando ela começa a falar.
Grigg, o único homem do grupo, tem por volta de 40 anos e três irmãs mais velhas. Conheceu Jocelyn quando estava em uma convenção de ficção científica (ela estava em um concurso de ridgebacks, mas os dois estavam hospedados no mesmo hotel) e foi convidado para o clube por causa de Sylvia – o plano de Jocelyn era juntar os dois.
Conforme vamos lendo sobre a história dos personagens, entendemos melhor a forma como eles se relacionam e como encaram as obras de Jane Austen. Todos carregam consigo coisas boas e ruins do passado, que moldam as pessoas que se apresentam para o leitor no momento da leitura. Senti simpatia por todos eles, pois são o tipo de personagem com quem conseguimos nos identificar pelo menos um pouco, mas diria que o meu preferido, levemente à frente dos demais, é o Grigg. Por ser o único homem do grupo, ele fica um tanto deslocado, principalmente no começo, e sofre muita implicância de suas companheiras de leitura até ser completamente aceito. Ele acabou proporcionando, para mim, os momentos mais engraçados – com destaque para a parte em que ele diz que nunca leu Orgulho e Preconceito, para horror da mulherada:
“What should we read next?” Bernadette asked. “Pride and Prejudice is my favorite.”
“So let’s do that,” Sylvia said.
“Are you sure, dear?” Jocelyn asked.
“I am. It’s time. Anyway, Persuasion has the dead mother. I don’t want to subject Prudie to that now. The mother in Pride and Prejudice on the other hand…”
“Don’t give anything away,” Grigg said. “I haven’t read it yet.”
Grigg had never read Pride and Prejudice.
Grigg had never read Pride and Prejudice.
Grigg had read The Mysteries of Udolpho and God knows how much science fiction – there were books all over the cottage – but he’d never found the time or inclination to read Pride and Prejudice. We really didn’t know what to say.
Não é coincidência termos seis personagens lendo seis romances de Jane Austen – cada um deles relaciona-se a uma obra da autora:
Jocelyn – Emma
Sylvia – Persuasão
Allegra – Razão e Sensibilidade
Prudie – Mansfield Park
Bernadette – Orgulho e Preconceito
Grigg – A Abadia de Northanger
- Conclusão
Esperava um chick-lit bobinho e acabei encontrando muita coisa incrível nesse livro, desde a escrita descomplicada e a narrativa diferente até personagens tão humanos que parecem nossos vizinhos. Karen Joy Fowler conseguiu captar nuances do comportamento humano sem deixar nada forçado – e em vários momentos me peguei pensando que fazia certas coisas iguais aos personagens. É uma história leve, por mais que traga alguns elementos pontuais mais pesadinhos, sobre relacionamentos humanos e sobre como nossa personalidade influencia nossas leituras e vice-versa. Um prato cheio para loucos por livros, como nós!
"Wasn't it Kipling who said, "Nothing like Jane when you're in a tight spot"? Or something very like that?"
Página 3
site: www.psychobooks.com.br