Mal de arquivo

Mal de arquivo Jacques Derrida




Resenhas - Mal de arquivo


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@riggifabio 14/12/2021

Este entra pro top 5 livros mais difíceis que já li. Para mim, o estilo de Derrida, com suas indas, vindas e quases beira o insuportável. Na mesma reflexão você encontra Psicanálise, Sociologia, Etimologia, a questão da identidade judaica, o avanço da técnica e da tecnologia da informação sem que os assuntos se fechem por completo ou que tais associações se resolvam no âmbito do texto. Ainda sim, dentro do contexto em que a conferência foi proferida, pelas questões que traz à tona, torna-se basilar para compreendermos o século XX e aprofundarmos a noções de arquivo e memória.
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Arsantes 21/03/2021

Primeiro contato
É o meu primeiro contato com um dos escritos de Jacques Derrida, foi uma leitura bem densa e cansativa para mim, por não estar acostumado com as ideias apresentadas, mas mesmo assim fiz anotações que me serão proveitosas no futuro.
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Zkymicx 11/06/2020

Analisando a citação de uma citação, Derrida defende a tese de que todo conhecimento é constituído de referências. Assim, nossos arquivos são imensos, sempre ficando maiores com os mais variados tipos de ligações.
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Tauana Mariana 24/05/2012

Mal de Arquivo, Jacques Derrida
No ano de 2001, com uma linguagem muito próxima de seu leitor, Jacques Derrida publica a obra Mal de Arquivo: uma impressão freudiana, trazendo à discussão, o conceito de “arquivo”. O que é um arquivo? O que arquivamos? A tecnologia pelo qual arquivamos, interfere no arquivo? Derrida acredita que sim. Apresentando a obra como um ensaio, Derrida (2001, p. 07, grifo do autor) a inicia com uma indagação (aliás, seu texto é sempre nutrido de indagações): “Por que relembrar hoje um conceito de arquivo?”. O autor fala-nos que tal obra irá assinalar “discretamente o horizonte desta questão”.
Derrida (2001, p. 07-08, grifo do autor), inicialmente, distingue o “arquivo” de acordo com seus sentidos, relacionando o termo com a memória, a origem, o arcaico, o arqueológico. Ou seja, o arquivo relacionado a um “lugar de autoridade”. Para o autor, neste contexto se enlaçam dois fios condutores: a psicanálise e a comunicação. A psicanálise aborda a “estocagem de ‘impressões’”, bem como a censura e o recalcamento. Para Derrida (2001, p. 08), a “instituição do projeto da psicanálise” pertence “a um momento na história da técnica e sobretudo aos dispositivos ou aos ritmos daquilo que chamamos confusamente de ‘comunicação’”. O autor indaga-se de como será o futuro da psicanálise, na era do correio eletrônico. Como falar de “comunicação de arquivos”, sem falar dos arquivos dos meios de comunicação? O que ele afirma, é que, “não há arquivo sem o espaço instituído de um lugar de impressão”, ou seja, um suporte externo, tanto material quanto virtual. Então, o nosso corpo pode ser um arquivo, como por exemplo, uma circuncisão?
O subtítulo de seu ensaio é “uma impressão freudiana”, nada mais condinzente, já que sabemos que Derrida é um filósofo francês fortemente influenciado pelas ideias de Freud. No entanto, o autor afirma-nos que seu Mal de Arquivo poderá transcorrer com Freud, sem Freud e até mesmo, contra Freud. É um ensaio que evoca um “sintoma, um sofrimento, uma paixão: o arquivo do mal, mas também aquilo que arruína, que destrói o próprio princípio do arquivo, a saber, o mal radical” (DERRIDA, 2001, p. 09).
Derrida (2001, p. 12) nota que a palavra “arquivo” advém de “arkhê”, palavra esta que designa uma ordem de começo e uma ordem de comando. Domina também o princípio da natureza e o princípio da história: ali onde as coisas começam; e o princípio da lei: ali onde os homens e os deuses mandam. Derrida (2001, p. 11) questiona-nos novamente: “Ali onde, foi o que dissemos, e nesse lugar. Como pensar esse ali? E como pensar este ter lugar ou este tomar o lugar do arkhê?”. O autor fala-nos que, de uma maneira ou de outra, tal vocábulo remete bem ao “arkhê no sentido físico, histórico ou ontológico, isto é, ao originário, ao primeiro, ao principal, ao primitivo, em sua, ao começo”.
É interessante compreendermos, de onde vem nossa denominação de arquivo. De acordo com Derrida (2001, p. 12), o sentido de “arquivo” advém do termo grego “arkheîon”, ou seja, “inicialmente uma casa, um domicílio, um endereço, a residência dos magistrados superiores, aqueles que comandavam”. O autor conta-nos que a casa dos cidadãos que tinham o poder de representar a lei era onde se depositavam os “documentos oficiais”. Tais cidadãos eram chamados de “arcontes”, ou seja, os guardiões de tais documentos. Os arcontes não somente eram responsáveis pela segurança física do material, como também detinham o poder de interpreta-lhos. Esses documentos, sob a segurança e domínio dos arcontes, era de fato, a lei. Tal lei, então, para ser “arquivada”, necessitava de um guardião (os arcontes) e uma localização (a casa dos arcontes), sendo que não podiam “prescindir de suporte nem de residência”. E foi neste contexto que os arquivos nasceram. Derrida (2001, p. 13) salienta, porém, que o arquivo necessita, além de um suporte estável e de uma autoridade, a consignação, ou seja, o ato de consignar, de reunir signos, pois o “princípio arcôntico do arquivo é também um princípio de consignação, isto é, de reunião”.
Já sobre “exergo”, Derrida (2001, p. 17, grifo do autor) assinala que tal termo é uma “convenção sagrada”, sendo que o “o exergo se articula com a citação. Citar antes de começar é dar o tom deixando ressoar algumas palavras cujo sentido ou forma deveria dominar a cena”. Ainda, “um enxergo estoca por antecipação e pré-arquiva um léxico que, a partir daí, deverá fazer a lei e dar a ordem contentando-se em nomear o problema, isto é, o tema”. Então, o exergo é a “primeira figura de um arquivo, pois todo arquivo [...] é ao mesmo tempo instituidor e conservador”. Nas palavras de Derrida (2001, p. 18, grifo do autor), “o primeiro destes exergos seria o mais tipográfico. Nele o arquivo aparece mais de acordo com o seu conceito. Pois o confiamos aqui ao que se acha fora, a um suporte externo e não, como o signo da aliança na circuncisão, a uma marca íntima diretamente sobre o corpo”.
Quando escrevemos um livro, por exemplo, estamos arquivando. Estamos deixando para a posterioridade nossas pesquisas ou nossas opiniões, por exemplo. Derrida (2001, p. 18-19) fala-nos que em um de seus livros, Freud externou a constatação de que acreditava estar gastando papel, tinta, trabalho do tipógrafo, para falar de algo que já era de conhecimento de todos, para dizer coisas que já seriam óbvias. Para Derrida (2001, p. 19), Freud “deveria ter encontrado algo de novo na psicanálise: uma mutação ou um corte no interior de sua própria instituição teórica. E deveria não somente anunciá-la, mas também arquivá-la: pô-la de alguma maneira no prelo”. Freud conclui, porém, de acordo com Derrida (2001, p. 20) que seu arquivamento não foi em vão, “nem de pura perda, na hipótese de que faria aparecer o que na verdade [...] já sabe que vai fazer aparecer e que não é portanto uma hipótese”. Freud liga-se à “pulsão de morte”, sendo que esta, “trabalha para destruir o arquivo: com a condição de apagar também com vistas de apagar seus próprios traços. Ela devora seu arquivo, antes mesmo de tê-lo produzido externamente” (DERRIDA, 2001, p. 21). Tal pulsão é também uma pulsão de “agressão e de destruição”, ela leva à “aniquilação da memória”, ao “apagamento radical”, é o desejo de destruir o que é exterior, sendo que, “não há arquivo sem exterior” (DERRIDA, 2001, p. 22).
Derrida (2001, p. 25) indaga-se sobre o futuro da psicanálise, salientando que Freud escreveu suas teorias e ideias em um tempo que não dispunha das “máquinas de arquivar” dos anos 2000. O autor pergunta-se: “será que estas novas máquinas mudam alguma coisa? Afetam o discurso de Freud em algum ponto essencial? Indago-me, então, qual seria a percepção de Derrida acerca deste fato, no ano que estamos hoje – 2012. Em 2001, ainda não existia Facebook, Twitter, os blogs eram escassos, e quase não havia “redes sociais digitais” muito conhecidas. Qual seria a concepção de arquivo, em uma época que podemos arquivar, compartilhar e registrar um número cada vez maior de informação? É algo, no mínimo, a se pensar.
Voltando a falar sobre o futuro da psicanálise, percebemos que Derrida (2001, p. 26) afirma que, sobre este, há no mínimo, duas ordens: “1- a primeira ordem de questões envolve a exposição teórica da psicanálise”, ou seja, o autor indaga-se se a teoria de “bloco mágico” de Freud, por exemplo, resite ou não à evolução da tecno-ciência do arquivo. Essas “próteses da memória chamada viva” estão mais refinadas, complicadas, potentes, que o “bloco mágico (microinformatização, eletronização, computorização)”? Segunda ordem: como fica o arquivamento da psicanálise? Como seria se, “em lugar de escrever milhares de cartas à mão”, Freud e seus colaboradores e discípulos contemporâneos, “dispusessem de cartões telefônicos, MCI ou ATT, de gravadores portáteis, computadores, impressoras, fax, televisão, teleconferência e sobre tudo correio eletrônico”? Vou além questionando: como seria se Freud tivesse Facebook e Twitter, por exemplo? Para Derrida (2001, p. 28-29), se Freud dispusesse das “máquinas de arquivas” dos anos 2000, certamente não o entenderíamos como entendemos hoje, pois “a estrutura técnica do arquivo arquivante determina também a estrutura do conteúdo arquivável em seu próprio surgimento e em sua relação com o futuro. O arquivamento tanto produz quanto registra o evento”, enfim, “é também nossa experiência política dos meios chamados de informação”. Em outras palavras, a psicanálise não teria sido o que foi se no passado, existisse e-mail, por exemplo.
Estas novas técnicas de arquivamento também colocam em voga outra questão: qual é o limite entre o privado e o segredo? Qual a nossa propriedade em publicar e reproduzir neste “ritmo inédito”, nesta ampla possibilidade de produção, impressão, conservação e destruição de arquivo? O que é visto é que cada vez mais nos afastamos dos “copistas medievais”, vivendo em uma “revolução sem limites da técnica arquivística”, levando em consideração que a “técnica arquivística não determina mais, e nunca o terá feito, o momento único do registro conservador, mas sim a instituição mesma do acontecimento arquivável”, enfim, tal técnica “comanda aquilo que no próprio passado instituía e construía o que quer que fosse como antecipação do futuro” (DERRIDA, 2001, p. 30-31).
Derrida (2001, p. 32) compreende que “a teoria psicanalítica tornou-se, portanto, uma teoria do arquivo e não somente uma teoria da memória”. Sendo que, para Derrida (2001, p. 32), “o modelo deste singular ‘Bloco Mágico’ incorpora também o que parecia contradizer, sob a forma de uma pulsão de destruição, a pulsão mesma de conservação que poderíamos chamar também pulsão de arquivo”, o que o autor considera como o “mal de arquivo”, pois “não haveria certamente desejo de arquivo sem a finitude radical, sem a possibilidade de um esquecimento que não se limita ao recalcamento”. Além disso, “não haveria mal de arquivo sem a ameaça desta pulsão de morte, da agressão ou de destruição”, “o mal de arquivo toca o mal radical”.
Derrida (2001, p. 32) “incrusta” uma segunda citação ao exergo, esta, menos tipográfica que a primeira, pois, de acordo com o autor, “recorrente e interativa, ela leva a singularidade literal à figuralidade”. O autor afirma também que, “inscrevendo ainda a inscrição, comemora à sua maneira, com efeito, uma circuncisão. Este monumento muito singular é também o documento de um arquivo. De modo reiterado, deixa o rastro de uma incisão diretamente na pele: mais de uma pele, em mais de uma era. Literal ou figurativa”. De início, uma inscrição privada.
Derrida (2001, p. 34) encerra seu primeiro capítulo com o fragmento de uma dedicatória da bíblia que o avô de Freud deu ao seu pai, e este, por sua vez, lhe ofertou. Para o autor, “o que o pai dá ao filho é ao mesmo tempo uma escritura e seu suporte. O suporte era a própria bíblia, o ‘Livro dos livros’, uma Bíblia Philippsohn onde Freud estudara na juventude”.

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