Resenhas - O Trauma Alemão

Eros 10/05/2022

Reflexão Histórica
Gitta Sereny reúne neste volume vários escritos anteriormente publicados em periódicos, tratando do funesto legado do Nacional Socialismo experimentado pelos alemães do pós-guerra. Não obstante ser uma coletânea, foi dado a obra uma organização primorosa e os capítulos são cronologicamente dispostos, trazendo contextualização à leitura. Mas o grande atrativo do livro está no convide e condução da autora à reflexão histórica e filosófica sobre a responsabilidade e culpa de acontecimentos ocorridos sob extremada tensão. Gosto da imparcialidade relativa de Gitta e sua pesquisa apaixonada com que nos brindou em tais crônicas. Trouxe luz sobre a vida de descendentes de nazistas famosos, elucidou questões sobre o revisionismo histórico, acompanhou importantes julgamentos de crimes de guerra e entrevistou pessoas que testemunharam eventos políticos significativos ou crimes bizarros. Uma obra importante para quem deseja complementar o conhecimento histórico da Segunda Guerra Mundial no Teatro Europeu.

Helena.Jablonski 11/08/2020

Excelente coletânea de ensaios de Gitta Sereny sobre a temática da Alemanha Nazista.

Há algumas razões para o livro ser especial e bem diferente dos escritos acadêmicos e históricos sobre o mesmo tema:
- os artigos abordam eventos poucos explorados e conhecidos, mesmo a quem já está familiarizado com o tema;
- os artigos abordam personalidades que tiveram - com razão - pouca voz no período pós 1945: antigos membros proeminentes do partido nazista (Stangl e Speer), figuras fortemente ligadas com o nazismo, e os filhos e filhas de grandes oficiais do Reich;
- a autora ter escrito sobre eventos e organizações das quais participou, mostrando um conhecimento prático e pessoal;
- a autora ter escrito sobre pessoas importantes que conheceu, investigou e entrevistou, com as quais estabeleceu contato direto.

Ao mesmo tempo em que pude conhecer mais sobre o período nazista, também pude conhecer mais do incrível trabalho de Gitta Sereny.

luke 13/07/2012

No ano passado, por ser apaixonado não somente pela história, mas também pelo país, tive a oportunidade de visitar a maravilhosa Alemanha e, infelizmente, pude perceber que tudo o que fora descrito neste livro pela autora Gitta Sereny sobre a traumatizada sociedade alemã é a mais pura verdade. Toda essa questão do nazismo, do holocausto e do anti-semitismo ainda reverbera e muito nas gerações do pós-guerra que procuram, ou encubrir a verdadeira história do resto do mundo, ou dizer que os crimes ocorridos naquela época foram cometidos não por eles, mas pelos seus pais ou avós.

Um bom exemplo disso é que quando fui ao campo de concentração de Dachau, próximo a Munique, apenas com a finalidade única de aprimorar meus poucos conhecimentos, percebi que a pessoa que me levou até lá, um alemão, me perguntou por diversas vezes por qual motivo eu queria tanto ir a um campo concentração. Ao chegar lá, por ser esse fato uma grande vergonha para o povo alemão, ele tentou a todo instante dizer que não foi exatamente aquilo que aconteceu.

Todavia, como sempre há um lado bom, pude observar também que naquela mesma ocasião, muitas professoras estavam debatendo sobre tudo isso com muitos jovens, para que as gerações futuras (creio eu) não voltem a repetir os erros do passado que foram cometidos pelos seu avós ou bisavós.

É claro que essa é uma questão extremamente delicada e que requer conhecimento e principalmente bastante prudência para poder emitir uma opinião, pois os nazistas mexeram e muito, nos alicerceres de toda uma sociedade. A própria autora que estava na Áustria quando esta foi anexada a Alemanha disse que não havia como não se encantar pela marcha, pela organização e pela disciplina dos nazistas.

Convém lembrar ainda, que após o término da I Guerra Mundial a Alemanha estava altamente endividada e humilhada quando Adolf Hitler, com seu sentimento nacionalista, "tirou" a Alemanha daquela condição de alta inflação e endividamento e a colocou no topo como potência bélica e econômica. Ademais, o povo alemão, na sua maioria, sabia da existência dos campos de concentração e, de forma consensual, deu apoio aos nazistas.

A PERGUNTA QUE NÃO QUER CALAR: COMO NÓS BRASILEIROS NOS COMPORTARÍAMOS SE UM HOMEM, NÃO IMPORTA SE FOSSE PRESIDENTE, DITADOR OU REI, ACABASSE COM A CORRUPÇÃO E LEVASSE O BRASIL A UMA CONDIÇÃO DE ALTO DESTAQUE NO CENÁRIO MUNDIAL ????? SERÁ QUE NÓS TAMBÉM NÃO O APOIARÍAMOS ??? MUITO PROVAVELMENTE A MASSA APOIARIA SIM ESSE CARA. POR ISSO QUE É TÃO DIFÍCIL TOCAR NESSE ASSUNTO, POIS ADOLF HITLER ERA UMA ESPÉCIE DE DEUS PARA OS PAIS OU AVÓS DESSA GERAÇÃO QUE AÍ ESTÁ, ISTO É, ELES O VENERAVAM COMO UM DEUS, O "CARA" QUE CONSEGUIU TIRAR A ALEMANHA DA "SARJETA".

Contudo, as "feridas" continuam abertas e acredito que somente o tempo agindo juntamente com muita educação e transparência é que poderão um dia, TALVEZ, remover essa horrível mancha dessa nação.

RECOMENDO E MUITO, mas para os que conhecem as causas e as consequencias da II Guerra Mundial e que pretendem, sobretudo, se aprofundar no assunto.

MasHein? 28/09/2009

Simplesmente indispensável
Há assuntos que não podem ser ignorados e um deles é o nazismo, por sua relevância, pela forma como marcou e moldou toda uma geração e por exemplificar mais uma vez a brutalidade da raça humana. É claro que já ocorreram dezenas de genocídios que de alguma forma foram registrados, desde a colonização espanhola na América Latina até Ruanda, mas o caso do extermínio de judeus e outras etnias é especial para a sociedade atual, pois reuniu vários fatores "favoráveis": foi recente, concentrou a atenção do mundo inteiro, houveram poucos esforços para dissimular o que aconteceu, deixou muita documentação e alguns sobreviventes do "lado de lá".

Tudo isso criou um ambiente propício para o estudo minucioso do tema. Mas mais importante do que acontecimentos, personalidades e datas, devemos entender o por quê e o como uma ideologia racista é posta em prática e milhões são destituídos de suas humanidades, transformados em números e pilhas de restos a serem enterrados. Para isso é necessário alguém que tenha a força de mergulhar em algo tão pertubador (e sair são para contar as descobertas) e a moral de acusar quem deve ser acusado, seja uma pessoa ou uma geração interira, de assassinato ou de conformismo. E Gitta Sereny é esta pessoa.

A autora vivenciou o nazismo em todas as suas fases: era criança quando chegou ao poder, entrava na fase adulta quando a guerra estourou e ao seu final participou intensamente de programas que tentavam minimizar os danos causados pelo período. A partir de então resolveu investigar a fundo as razões desse fenômeno que foi o nazismo, ao mesmo tempo em que registrava seus traumas sobre a geração alemã do pós-guerra.

O livro todo é excelente, e há partes que é quase inacreditável que existam, como a entrevista em que a autora mostra, através do encarregado de um dos campos de extermínio, como o nazismo foi fundo na alma dos alemães e conseguiu fazer com que ignorassem a condição humana de judeus, ucranianos, ciganos e outras minorias, tornando todo o processo em algo bastante impessoal.

Também fala da forma como a sociedade alemã passou a lidar com o assunto, tentando a todo custo livrar-se de tal peso, de ser responsável pela morte de milhões de pessoas. Algumas formas dignas e dolorosas, outras fáceis e covardes, apenas negando o passado.

Impressionante este livro ser tão pouco conhecido aqui no Brasil. Eu mesmo só o comprei por ter desde sempre um interesse pelo tema, e ter esbarrado com ele em uma livraria, quando procurava algo totalmente diferente. Cadastrei aqui no Skoob e agora escrevo essa resenha para que mais pessoas tomem conhecimento desta verdadeira pérola!