spoiler visualizarElenthya 16/03/2024
Eu tenho tantas opiniões sobre esse livro?
Gabriela Cravo e Canela ou O dia em que Nacib ficou sem cozinheira.
Tenho muitos pensamentos sobre esse livro, alguns deles conflitantes. Admiro a escrita do Jorge, foi o primeiro livro dele que li e a história prende bastante. Na verdade é como se fosse uma enorme fofoca e você acaba ficando com a sensação de que os personagens são seus vizinhos e que a qualquer momento você vai topar com o Coronel Ramiro na porta da sua casa, com Gloria na janela ou Gabriela andando pelas ruas com uma flor no cabelo. Gostei especialmente da parte da politica, eu adoro história, e gostei de ver em forma de romance como aconteciam as disputas politicas antigamente, em detalhes. Até porquê , sou baiana, então é impossível não se identificar com os antigos costumes, costumes esses que ainda hoje estão arraigados na sociedade, por baixo de muitas camadas é claro, mas ainda assim existem.
Jorge é um homem à frente de seu tempo, por ter escrito um livro em 1958 que trata tão explicitamente sobre a sexualidade, a liberdade feminina, a erradicação de certos costumes, a política corrupta. Jorge é clínico, mostrando a realidade nua e crua de tempos em que muitos não viveram e hoje se atrevem a julgar sua escrita. Sim, vai haver muitas passagens machistas, mas eram os costumes da época, e em nenhum momento o autor exalta ou defende esses costumes; muito pelo contrário, ele cria um personagem (Nacib) que vai ao encontro das antigas ?leis? e resolve perdoar a traição da esposa, quando na época o costume era de que se tirasse a vida da mulher. Jorge vem falar do progresso de uma cidade, ao mesmo tempo em que critica que não há progresso nos costumes dos homens.
Não posso dizer que me identifiquei com Gabriela, porém. Muito do que Jorge fala sobre ela é a respeito de sua beleza e culinária. Senti falta de um foco maior na única militância dela no livro (ter salvo Fagundes) e possíveis consequências a isso. Faltou um pouco falar da coragem de Gabriela, dar a ela mais oportunidade de fala, com seu jeito teimoso e obstinado, seria uma heroína inesquecível.
Malvina para mim rouba a cena no livro, não se atendo a casamento, namoros ou corações partidos, menina corajosa, fugindo para morar sozinha e estudar. Uma personagem que também poderia ter sido mais trabalhada, torci por uma amizade entre ela e Gabriela.
Um clássico brasileiro que me fez relembrar o quanto gosto de uma leitura clássica, quase totalmente esquecida por mim nos últimos anos. Certamente passarei a ler mais clássicos, especialmente de autores brasileiros.