Vanessa Vieira 02/05/2016
Operação Perfeito - Rachel Joyce
O livro Operação Perfeito, de Rachel Joyce, nos traz um romance comovente e terno, que mostra toda a inocência de uma criança, bem como o amor abnegado por sua mãe. Entrelaçando a história de dois personagens - Byron e Jim - e escrito com uma delicadeza ímpar, o enredo se mostrou sutil e emocionante, além de um tanto quanto surpreendente.
Em 1972, Byron Hemmings, um garoto de 11 anos, descobre que dois segundos foram adicionados ao tempo, pois aquele ano era bissexto e o horário estava desencontrado com o movimento da Terra. A tal adição do tempo deixou Byron aterrorizado, principalmente quando ele acredita que o acréscimo levou sua mãe, Diana, a atropelar uma criança. Tentando à todo custo proteger a mãe de um acidente que apenas ele e seu melhor amigo James viram, ele inicia uma cadeia de eventos e estratégias, intitulada Operação Perfeito.
Porém, nesse ínterim, Diana fica cada vez mais desconexa e infeliz. É como se toda a sua alegria e vontade de viver fosse se dissolvendo pouco a pouco, tal como uma torneira aberta pingando incessantemente. Por mais que o filho faça de tudo para ajudá-la, uma depressão profunda se abateu sobre ela, fazendo com que tudo o mais perca o sentido.
Paralelamente à isso, conhecemos a história de Jim, um senhor que mora em um trailer e sofre de TOC. Ele já passou por várias clínicas psiquiátricas e agora trabalha em um café, onde conhece a excêntrica e espevitada Eileen, que logo ganha a sua afeição. A bondade e a simplicidade do velho senhor encanta todos ao seu redor, mas ninguém imagina o quanto sua trajetória foi marcada por dor e sofrimento...
Operação Perfeito, à primeira vista, não conseguiu ganhar tanto a minha afeição. No começo do livro, achei a história lenta e até mesmo um pouco maçante, mas com o decorrer da leitura acabei me surpreendendo. A escrita da autora é muito sutil e por mais que ela tenha carregado a trama no início, tais detalhes se mostraram essenciais para o que estaria por vir. Narrado em terceira pessoa com capítulos alternados entre Byron e Jim, acompanhamos uma história imperfeita e repleta de segredos, erros e claro, amor.
Byron é um garoto extremamente inteligente e esperto. Quando ele acredita que acidentalmente sua mãe atropelou uma garotinha, decide fazer de tudo para protegê-la e salvá-la de uma possível punição e, para isso, decide criar junto com seu melhor amigo o projeto Operação Perfeito. Porém, quando ele relata para Diana que ela atropelou uma criança, uma cadeia de eventos se sucede. A mãe da suposta vítima, Beverly, acaba se infiltrando cada vez mais na vida de Diana, como uma espécie de vírus e de um modo complacente e subliminar, lhe imputando culpa e remorso. Diana é uma mulher de espírito livre e aventureiro, que acabou se prendendo a um casamento e a rotina de dona de casa. Com toda a acusação "maquiada" de Beverly e com o seu dia-a-dia infeliz, ela se sente cada vez mais como um pássaro enjaulado e anseia por sua liberdade com cada fibra de seu ser, o que a leva a mergulhar em um estado de entorpecimento profundo.
Jim, por sua vez, é um personagem um tanto quanto enigmático. O que mais o marca ao longo da história é sua bondade nata e desmedida. Ele é daquele tipo de personagem que lhe desperta uma compaixão profunda e um carinho sem limites. Me surpreendi bastante ao perceber que sua trajetória estava intrinsecamente ligada à do garoto Byron e isso me comoveu de forma profunda, ao ponto de me emocionar.
Em síntese, Operação Perfeito é um livro bem escrito, com um começo um pouco lento e que acaba se descortinando magistralmente, tal como um céu ensolarado se abre após uma tempestade. Sua história é emocionante e a interligação entre os dois personagens principais da trama deu um brilho todo majestoso ao enredo. A capa é tênue e singela, tal como o conteúdo da obra e a diagramação está ótima, com fonte em bom tamanho, revisão de qualidade e ilustrações fofas no começo de cada capítulo. Recomendo.
site: http://www.newsnessa.com/2016/05/resenha-operacao-perfeito-rachel-joyce.html