Vinicius 21/03/2019
NÃO JULGUE O LIVRO PELA CAPA
Antes de mais nada, vou desfazer o equívoco quanto ao livro. As autoras, Eugenia Roccella de 45 anos e Lucetta Scaraffia de 70, são católicas. O livro é uma denúncia e crítica à ONU e aos direitos humanos e uma defesa da Santa Sé.
Ambas autoras possuem doutorado. Roccella é doutora em letras moderna e, além disso, é política italiana. Scaraffia é doutora em história, é jornalista e trabalha junto com a cúria romana em um projeto de evangelização.
O livro é divido em duas partes. A primeira é uma introdução geral ao que é a ONU e o que são direitos humanos. A segunda parte é focada em discutir a questão das mulheres.
A primeira parte conta a história dos direitos humanos e seu desenvolvimento. Segundo as autores, a Declaração teria duas raízes: a cristã e a iluminista. Também comentam o apoio de papas aos direitos humanos, como João XXIII e são João Paulo II. Contudo, também alerta para os crescentes conflitos entre a ética da Igreja e a ética dos direitos humanos, inclusive com a percepção do santo papa João Paulo II.
Também há o questionamento sobre os direitos humanos serem ou não direitos naturais. A discussão é inconclusiva, porém, alguns autores (como Maritain e Lévinas)que defendem que sim são citados, porém, se objetifica dizendo que os direitos humanos são altamente abstratos e carentes de qualquer conteúdo positivo. Outro argumento a favor da separação é o abismo entre os direitos humanos e a ética cristã. Alias, vale lembrar que os defensores dos direitos humanos como direitos naturais são de épocas anteriores à declaração ou são da fase inicial dos direitos humanos.
Em seguida, comenta-se a relação entre religiões e direitos humanos. As autoras voltam até Madame Blavastky, nascida em 1831, e a teosofia para tentam entender a questão. Supostamente todas as religiões são boas, mas chegou a hora da revelação final em que se mostra a unidade de todas as religiões.Depois disso, mostra como do século XIX tal ideia chegou aos dias de hoje. A ideia de uma religião única que absorve a todos culmina, então, na URI, United Religions Initiative que coopera com a ONU. Em um dos momentos mais chocantes do livro, há a menção a Louis Dolan, coordenador da América Latina da URI. Ele diz que os textos da ONU são divinamente inspirados!
As escritoras citam alguns documentos para mostrarem os fundamentos dessa ideia. O resultado é uma religião sem Deus que chama a Terra sempre com "t" maiúsculo. Também comentam o esvaziamento sobrenatural das religiões nesse projeto. É tudo um projeto de poder.
Para fechar a primeira parte, comentam um pouco sobre as influências neomalthusianas da ONU.
Na segunda parte, comentam com profundidade a questão dos "direitos reprodutivos" e feminismo. Uma coisa que merece ser mostrada é que o feminismo se tornou abortista e antinatalidade graças a influências eugenistas.
O livro também conta alguns casos concretos para mostrar a finalidade meramente política da política antinatalidade. Por exemplo, quanto ao Irã. As nações unidas fizeram pressão para que liberassem o aborto e outros métodos anticonceptivos sob a desculpa de direitos das mulheres. Uma vez liberado, viraram a cara para os problemas femininos que continuam os mesmos nos países muçulmanos.
Para citar alguns argumentos diversos ao longo do livro, o feminismo atual toma por padrão o modelo masculino, negando as especifidades das mulheres. Os "direitos reprodutivos", ao contrário do que parece, mais reduzem a mulher ao biológico que a emancipa verdadeiramente. A maternidade é separada de suas características psicológicas e espirituais. Um verdadeiro direitos das mulheres, segundo as doutoras, consiste em exaltar as diferenças de cada sexo. Também não posso me esquecer que os direitos humanos são vendidos como universais, mas nada mais são do que uma oposição ocidental ao mundo.
Para fechar o livro, há alguns exemplos sobre a manipulação semântica dos direitos humanos. Três estratégias são citadas: eufemismo, "esterilização da linguagem" e deslizamento temático. Eufemismo, por exemplo, é não chamar o aborto de aborto, mas sim de "interrupção da gravidez". Esterilização da linguagem é excluir os papeis masculinos e feminismos. Não se fala mais, por exemplo, de pai ou mãe, mas de "parentalidade". O deslizamento temático é, para citar um caso, tentar vender a "saúde" reprodutiva como direitos das mulheres quando se trata de controle demográfico neomalthusiano.
Mais um livro recomendadíssimo.
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