J. J Coelho 26/09/2018
Dose dupla de perda de tempo.
Essa vai ser provavelmente a resenha mais preguiçosa que já escrevi até hoje. Mas, sinceramente, não ligo; afinal, com o tempo que eu estou gastando para ler essa série, eu me permito totalmente em redigir um texto desleixado sobre ela, uma vez que esse livro não vale nem o meu esforço de escrever uma resenha bem trabalhada.
Enredo: é tão simples avaliar esse quesito porque, seguinte, não tem enredo. O MÁXIMO que os livros da série After carregam é uma trama, e olhe lá. Eu sinceramente não vejo um problema em histórias que giram em torno dos personagens, se for uma coisa bem trabalhada e os personagens tiverem profundidade, facetas e ambições bem definidas, eu acho que um livro sem um enredo possa ser excelente, sim. No entanto, os personagens de Anna Todd em que a história dela gira em torno são bimensionais--Hardin é ora rude e abusivo, ora terno e um bom namorado; Tessa é ora inocente e boa moça, ora promíscua e deprimida. E é só isso que nós temos a ver sobre os personagens.
Essa falta de subsistência faz do livro quase impossível de desenvolver uma história que tem como base o relacionamento principal. A fórmula que a autora usa é pegar esses dois lados de cada personagem e ficar intercalando-os no decorrer da narrativa, com o único propósito de estender as páginas do livro e criar uma falsa percepção de "character development" ao leitor. Os personagens NÃO mudam, a única coisa que a escritora faz do começo ao meio de cada livro é basicamente ponderar entre: Hardin agora é bonzinho, Tessa ama ele, Hardin agora é maldoso, Tessa agora tá triste com ele... repita essa fórmula por volta de 500 páginas (literalmente) e chegamos ao final do volume--ah! O final! É nessa hora que vem o mais importante: criar um cliffhanger ou um plot-twist super novelesco e não-original (ciclano é pai de fulano, fulano é adotado, ciclano traiu fulano... e por aí vai).
Isso tudo cria um aspecto repetitivo no livro, assim como bem notado nas descrições das cenas eróticas dele, nas quais ela TODAS AS VEZES usa o termo "come undone" pra descrever um orgasmo. Todas as vezes. Podem conferir. Por falar nas cenas eróticas, eu nunca vi algo tão mal elaborado dentro do enredo assim. A autora faz os personagens dela transarem DO NADA, em qualquer lugar e em qualquer situação, fazendo o erotismo, ao invés de excitante, ser uma coisa que te deixa com a sensação de deslocamento, de perdição (no sentido ruim). Por exemplo: Hardin e Tessa estão brigados, cheios de problemas e frustrações, numa situação pesada mesmo, e o que eles fazem em seguida?????? Isso mesmo, sexo. Tão com raiva um do outro? Sexo. Tão tendo problemas com o relacionamento? Discutir sobre isso? Não, não, bora fuder que passa. O ar condicionado quebrou? Sexo (Sim, isso do ar condicionado aconteceu mesmo nesse livro). Descobriu que seu namorado fez uma aposta de que conseguia tirar sua virgindade, te fazendo de trouxa por um relacionamento inteiro? Vamo transar mais que passa. Quando você tá bêbada e com tesão e quer transar com o seu ex namorado mesmo com ele dizendo "não" várias vezes, o que você faz? ME COME, SEU CACHORRO. Isso mesmo. Obriga ele a transar, porque, afinal, ninguém se importa com estupro masculino e você certamente conseguirá se safar disso vendendo essa cena como um romance irrevogável e empoderamento da mulher.
A escrita: como citado anteriormente, a obra sofre de repetições, principalmente nas cenas eróticas (mais da metade delas não precisaria estar nesse livro, sendo que são sempre a mesma coisa com as mesmas palavras, a única diferença é a posição dos personagens e o local onde eles estão). No entanto, a escrita da Anna Todd é literalmente a única e verdadeira coisa boa que eu tenho pra falar sobre esse livro. A escrita dela não é nada super descritivo, poético ou artístico, mas mesmo assim, Todd mostra que não é necessário ser pretensiosa para criar uma boa lírica. A escrita dela é feita na medida certa, sem tirar nem pôr. Os sentimentos dos personagens são descritos de maneira clara, objetiva com, às vezes, um toque lúdico que faz a obra ser consideravelmente inebriante no meio de tantas outras no seu âmbito (fanfic). Pra isso eu realmente tiro o chapéu pra autora, eu adoro ler o jogo de palavras dela, mesmo que nesse volume eu tenha achado um pouco cansativo. Afinal, pra um livro que insiste em ter mais de 600 páginas (que, aliás, é só um dos volumes de uma série de quatro livros e dois spin-offs), é de se esperar que vai chegar uma hora em que as ideias para descrever a história vão acabando pro autor, eu só não esperava que seria tão cedo já que é só o segundo livro. Esse livro podia ter sido cortado ao meio e unido ao próximo volume que, ainda assim, não faria nenhuma diferença. Teve capítulos narrados pelo Hardin que puta que me pariu, como eu quis pular todos.
Eu achava que a Tessa era uma personagem sem sal até a história começar a ser narrada pelo ponto de vista do interesse amoroso. A Tessa chegou a ser, por incrível que pareça, a personagem mais interessante do livro depois disso.
"[...] he opens his mouth and wraps his lips around my finger. I gasp at the contact and try to convince myself this is just his method of removing the cookie dough . . . regardless of how he’s looking at me with dark eyes. No matter how he’s flicking his warm tongue over my finger. No matter how many degrees the temperature of the kitchen has seemed to have risen. No matter how my heart is beating out of my chest and my insides are igniting. 'I think that’s enough,' I croak and pull my finger from his mouth."
(Capítulo 34)
Considerações finais: não tem considerações finais. Até porque nunca teve uma consideração inicial pra começo de conversa. Se eu vou continuar a ler o resto? Não sei. Provavelmente sim, porque, como a personagem Tessa, eu sou trouxa e vou continuar insistindo naquilo que não vai me trazer nada de bom (*cofcof*Hessa*cofcof*). Não posso negar que mesmo sendo um compêndio de cultura inútil (ou nem isso, talvez nem esse tipo de cultura esse livro traga), esses livros têm uma elegância ímpar que sempre faz os leitores voltarem a eles, são um verdadeiro guilty pleasure. (Ou talvez esse só seja um daqueles livros que eu amo odiar, ou que eu amo falar mal e rir das suas falhas, ou até mesmo gostar deles de forma irônica.)
Mas, no final, ler a série After é tão produtivo quanto sentar numa praia e observar o movimento das ondas do mar: é lindo e divertido de assistir, porém não tem nenhum sentido e é uma perda de tempo.