Luan 10/09/2015
Uma aula de história com um grande mestre: O garoto no convés é profundo, denso e ensina
Confesso que não conhecia - e não quis conhecer enquanto lia - a história do motim no navio brtânico Bounty. É um episódio histórico e que serviu - novamente - de pano de fundo para mais uma criação de John Boyne. Do mesmo autor de O menino do pijama listrado, o livro é muito mais profundo, intenso e até dramático - embora tenha vindo antes anos antes do que o outro. Bem, na verdade, eu sequer sabia que a obra se baseava em um episódio real. Apenas soube no momento em que peguei o livro na mão e descobri história.
John Jacob Turnstile é um jovem de 14 anos, órfão, que vive num instituto para crianças abandonadas, sob os cuidados do cruel Sr. Lewis. O homem obrigado os garotos que vivem com ele a roubarem. Sim, John é um mestre na arte do roubo. Mas além de obrigá-los a roubas, o homem também é cruel de outras formas, que não cabe aqui explicar ou estragará a surpresa. E numa dessas aventuras pelas ruas de Londres, eis que ele acaba sendo preso. Porém, a vítima do protagonista da história acaba mudando drasticamente o destino do jovem, mandando-o a um navio - Bounty - onde servirá ao capitão em uma expedição.
A partir daí, vamos acompanhar a aventura que vai durar mais de dois anos sob o oceano. E creio que, agora, tendo lido um pouco sobre o fato real, dá pra dizer que John Boyne fez uma releitura pontual, mas sob seu ponto de vista, deste episódio marcante para os ingleses. Ainda não sei exatamente se John Jacob Turnstile existiu realmente ou apenas foi uma criação para dar vida à obra de Boyne e leveza a uma história densa e carregada.
O livro se divide de certa forma em duas etapas: antes e depois do motim. Apesar de ter gostado bastante do livro, ter me envolvido com vários personagens, considero a primeira parte aquém da segunda. Lenta, com episódios um pouco arrastados e com alguns acontecimento mal planejados. Algumas passagens me pareceram súbitas, criadas do nada, pois mudavam em relação a algo citado anteriormente - não sei se me fiz entender. Já a segunda etapa, de nada posso reclamar. Depois do motim, a história ganha mais agilidade, mais tensão e ainda mais envolvimento. Pena é que essa parte tenha sido bem além da metade do livro.
Os personagens são baseados em figuras reais, mas com um olhar, obviamente, romanciado de Boyne. O protagonista é o tipo mais carismático possível - assim como foi possível ver em O menino do pijama listrado. Ele é inteligente, esperto, simples, não passa da conta. O autor acertou em cheio nessa criação. Os outros personagens, mesmo que baseados em personas de verdade, foram muito bem colocadas no livro - destaco o capitão William Bligh e o imediato Fletcher Christian, mas não desconsiderando os demais. O cenário, apesar de ser quase o tempo todo o mesmo, passou uma realidade bacana pro leitor. O autor também é ousado nas descrições, por exemplo, ao citar transformações e desejos que garotos da idade de Tutu - assim chamado durante o livro - sentem.
Não posso comemorar a edição. Embora a revisão seja das melhores - não praticamente erro algum -, e a tradução me pareça não ter atrapalhado a história, acabei comprando, sem saber, a edição econômica, com uma capa não tão bonita como a que eu vinha acompanhando, sem orelha, com um papel, mesmo que amarelado, com uma textura estranha e, por fim, com letras pequenas - o que sempre prejudica a experiência de leitura.
Enfim, de forma geral, um livro que vale muito pela leitura. O ponto mais positivo é que, por ser um livro baseado em fato histórico, e que isso possa parecer massante, Boyne conseguiu imprimir uma personalidade diferente, que não cansa e certamente ensina bastante as crianças britânicas. Estava inclinado em dar uma nota três, pela narrativa um pouco mais lenta e pelos pequenos problemas apontados, mas mudei de ideia por dois motivos: a segunda parte, pós-motim, ser extremamente interessante e por ter transformado um episódio real em uma história bacana e envolvente. E deixo registrado que sou fã do autor, a escrita dele é ótima, os diálogo os mais reais e coerente possíveis. Quero ler mais e mais obras de Boyne.