Tamirez | @resenhandosonhos 12/08/2016À SOMBRA DO MEU IRMÃO – UWE TIMMPor algum motivo que não sei explicar, tudo o que diz respeito à 2ª Guerra Mundial me chama a atenção. Gosto de acompanhar as histórias e saber sobre o que aconteceu, mesmo com todo o horror envolvido. Acho que é importante que compreendamos o que se passou naquela época para que jamais seja permitido que aconteça novamente. Porém, sempre me vi observando a história do outro lado, pelos olhos dos judeus, e pensando como foi possível que o povo e os soldados alemães não se opusessem ao que acontecia.
À Sombra do Meu Irmão traz exatamente isso, o ponto de vista de uma família alemã que perdeu o filho de ouro para a guerra e que só realmente percebeu tudo o que vinha acontecendo e os horrores dos fronts de batalha e campos de concentração depois que a guerra acabou. Ao mesmo tempo em que se confrontavam com a perda do filho e as barbáries praticadas pelo seu povo, também precisavam suportar “os invasores” americanos e ingleses circulando entre eles e impondo nos culturas.
“Uma geração inteira viu como lhe tiraram a autoridade política , militar e ideológica e respondeu ofendida, de uma forma orgulhosa e persistente. Mais tarde, com o começo da guerra fria, as forças de restauração foram recobradas, mas, nos primeiros anos depois da guerra perdida, a ânsia pelo poder existiu somente em casa, na esfera privada. E voltava-se contra a cultura do vencedor.”
A princípio achei que o livro seria sobre a sombra que esse jovem deixou no irmão, mas conforme fui lendo percebi que ela se estendia a toda a família, de formas diferentes. O pai perdeu o filho de ouro, aquele em quem depositava o futuro de seu negócio e de sua linhagem; a mãe perdeu o filho do meio, o menino introspectivo que adorava se esconder e que, apesar da personalidade arisca, sempre lhe tratou com amor; a irmã mais velha, sempre muito excluída pelo pai perdeu aquele que recebeu todo o amor; e o jovem Uwe cresceu à sombra de algo que ele nunca conseguiria alcançar ou substituir, já que todas as expectativas do pai nunca estiveram voltadas pra ele.
Ao invés de questionar os pais e a irmã sobre como se sentiam, o autor esperou para que ao escrever o livro colocasse nele somente a sua interpretação sobre os fatos, sem a influência de ninguém. Com isso, o que temos sobre cada uma das partes é a visão desse filho que herdou nas costas uma herança que não pediu. O receio dele com o pai e o amor pela mãe são coisas bem visíveis no livro. Seu pai nunca foi o mesmo e consequentemente isso refletiu na forma como tratou o filho remanescente, enquanto a mãe se manteve amorosa até o seu último dia.
“É difícil compreender como foi possível separar ou reprimir a compaixão durante o sofrimento, como ocorreu essa divisão entre o que é desumano em casa e o que é desumano na Rússia. Como longe de casa o assassinato de civis era uma coisa normal, corriqueira, sem ter o valor necessário para ser citada uma única vez, enquanto que, em casa, significava a morte.”
Além do problema com o pai é bem difícil captar os sentimentos do livro, já que a narrativa se apresenta de forma bem introspectiva. Karl sempre foi um garoto quieto e que gostava de se esconder em seu próprio mundo, sendo seu alistamento uma grande surpresa. Porém, mesmo seus diários são curtos e secos, fazendo com que seja quase impossível compreender exatamente o que o jovem passou ou sentiu enquanto cumpria seu dever.
O livro é escrito em uma narrativa contínua, sem divisão de capítulos e sem manter uma linha temporal constante. Isso acabou deixando a leitura um pouco cansativa, mesmo a obra contendo apenas 150 páginas. Mesmo assim, por ser um livro pequeno, proporciona que seja lido rapidamente.
Conhecer todos os pontos de vista de uma história real é sempre importante para que possamos alcançar uma melhor compreensão sobre o assunto. Lendo esse livro descobri que os alemães confiavam muito em seu governo e na grandeza do seu país. Mesmo depois, após descobrir tudo e se confrontar com os horrores, não foi fácil abandonar o orgulho de ser alemão e de se perguntar se não havia algum mal entendido. O questionamento de como eles não viram aquilo acontecer se responde ao perceber que, devido a toda a confiança que depositavam em sua pátria, cegavam-se ao que de errado acontecia. Não é uma justificativa, mas serve para entendermos um pouco mais sobre o assunto.
À Sombra do Meu Imão foi uma leitura diferente e esclarecedora em vários aspectos. A todos aqueles que gostam de ler sobre esse período ou se interessam pela temática, eis aqui uma oportunidade de ver as coisas por um outro ângulo e acrescentar um pouco mais de esclarecimento a uma época tão triste da nossa história.
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