Matheus de Faria 11/01/2022
Muito bom e útil de diversas formas
Tal edição da Penguin traduzida por José Eduardo S. Lohner, traz dois compilados de epístolas: "Sobre a ira" e "Sobre a tranquilidade da alma". Sêneca foi um dos principais estoicos da civilização romana e além de escrever e vivenciar uma filosofia em sua maior parte prática, isto é, tangível no cotidiano, e não abstrata, relegada às ideias, às cogitações metafísicas, às problemáticas epistemológicas, etc. tem uma maestria de estilo literário, que ao meu ver, foi bem representada pelo tradutor, que utiliza em dados momentos palavras um tanto extraordinárias, porém que existem na língua portuguesa, e eu não consigo imaginar leitores comprometidos que achem ruim ter de se debruçar sobre o dicionário.
Neste livro veremos métodos para se lidar com aspectos do ser humano como a ira: o que fazer para refreá-la, abrandá-la em outrem, identificá-la, etc. afora exemplos de personagens históricos que lidaram "adequadamente" com suas paixões, dentre elas a iracúndia, bem como os personagens não exemplares dominados por tal vício. Na segunda parte, "Sobre a tranquilidade da alma", Sêneca discorre sobre características necessárias para se obter a sabedoria da qual viria a tranquilidade da alma ou da vida. Além de postular as características que precisam ser mudadas ou evitadas para se alcançar tal "estado de espírito".
Em suma, é um livro que vale a pena, está escrito de forma culta, bem gostoso de se ler (para quem aprecia uma leitura "floreada" mas nem tanto), com conceitos de mais de dois milênios que se coadunam perfeitamente aos tempos atuais (embora alguns reverberem a cultura romana antiga e por isto mesmo, a leitura de Sêneca é uma boa fonte para se conhecer Roma em seu apogeu), etc. etc. Podemos correlacionar Sêneca com diversas esferas do conhecimento desde o literário (teatro), filosófico, político (senado e império romano), científico (história antiga), religioso (estoicismo e suas relações com o judaico-cristianismo), etc. tudo se sobrepõe, na verdade. Tem muito o que se falar de tal autor e de sua escola, mas para isso tem que se escrever livros e não resenhas.
Ressalto que esta edição é comentada, há notas no final do livro que chegam a completar um pouco mais de 80 páginas (compreendendo ambos os ensaios), ou seja, praticamente em cada parágrafo o tradutor comenta alguma coisa, o que é muito bom ao meu ver. Afora uma introdução robusta de igualmente quase 80 páginas.