Liz 26/07/2022
“Para muitos, eu era um mito encarnado, a personificação de uma lenda magnífica, um conto de fadas. Alguns me consideravam um monstro, uma mutação. Para meu infortúnio, certa vez fui confundida com um anjo. Para minha mãe, eu era tudo. Para meu pai, absolutamente nada. Para minha avó, eu era um lembrete diário de amores havia muito tempo perdidos…”
E assim tem início “As estranhas e belas mágoas de Ava Lavander”. É impressionante, após ler o livro, retomar o prólogo e encontrar toda a história resumida neste parágrafo.
Toda a história é narrada por Ava, que tece comentários e considerações durante todo o livro. Em alguns momentos, achei as descrições um pouco exageradas e detalhistas demais, mas, de certa forma, isso dá um tom ao livro, permitindo que nos afeiçoemos aos personagens.
Ela começa pela família de sua avó materna, nos permitindo compreender quem é Ava e porque ela é o que é, já que nasceu com asas.
“Das histórias e dos mitos que cercavam minha família e minha vida - alguns deles cuidadosamente espalhados por você, talvez -, devo dizer que, no final, descobri que todos são estranha e até mesmo maravilhosamente verdadeiros.”
O enredo é bastante interessante e mescla o realismo fantástico em todas as suas partes. A história começa na França. Chamou a minha atenção o fato de ninguém saber o nome da bisavó de Ava, conhecida apenas como Maman. Com isso percebemos muitas histórias familiares, onde a mulher é quase apagada pela imagem do marido, mesmo ele sendo carinhoso e apegado a ela.
Cada membro da família possui habilidades que os distinguem dos demais e isso é apresentado com naturalidade e nos permite refletir sobre as características que, em nossa sociedade, trazem a diversidade e como elas são, muitas vezes, vistas com preconceito, motivo que leva a família a se proteger, evitando o contato com outras pessoas.
O momento de conflito decisivo acontece com a chegada de um jovem extremamente religioso, chamado Nataniel Sorrows, cujos pensamentos são conhecidos a partir de anotações feitas em seu diário, o que foi uma ideia particularmente interessante, considerando que ele não era da família e não havia como Ava conhecer intimamente seu ponto de vista.
O livro é ótimo e muito cativante. Vale muito a pena a leitura.