spoiler visualizarGuilherme.Marques 05/12/2016
Decepcionantemente razoável
Quem me conhece, sabe que sou - ou era, não sei mais depois desse livro - fã da escrita do Cristovão Tezza, principalmente depois que li "Um erro emocional", que, na época, viajando de ônibus, não consegui largar até chegar ao ponto final da trama.
De certa forma, "O fotógrafo" compartilha algumas características com "Um erro emocional". Ambos são romances psicológicos, mais atentos aos sentimentos e pensamentos das personagens do que a uma sucessão épica, fantástica, ou misteriosa de acontecimentos. Tezza nos leva ao interior das psiques de cada voz presente nos romances, tensionando a dialogicidade no monólogo interno, misturando-os e elevando a um grau de impureza (não há monólogo sem diálogo nem diálogo sem monólogo - algo de dialogismo bakhtiniano, talvez) que nem sempre é visto nas obras de outros autores, afeitos a uma narrativa mais rápida, ou às vezes apressada.
"O fotógrafo", como dito em cima, conserva essas características, mas não imprime a elas a mesma qualidade presente em outros romances de Tezza. Apesar das personagens serem o ponto central, não se observa exatamente um desenvolvimento: o fotógrafo que inicia o romance é essencialmente o mesmo que o termina (talvez menos ressentido - "forma particular da solidão", ou seria o contrário - da esposa, mas pouca coisa); Lídia e Duarte permanecem muito semelhantes ao longo do livro; talvez Íris seja a que mais se transforma, decidida a não mais se prostituir, mas de uma forma ou de outra, a conclusão é a mesma. As personagens simplesmente derrapam ao longo das páginas, com frases e pensamentos incessantemente se repetindo, sem jamais se resolver, numa cacofonia monótona.
No final das contas, "O fotógrafo" é um livro razoável, decepcionantemente razoável, funcionando mais como exercício de escrita do que propriamente literatura.