jota 29/01/2013Dilema muçulmanoEm Lahore, segunda maior cidade do Paquistão (distante da fronteira com a Índia apenas 16 quilômetros e zona de tensão e preocupação), dois homens conversam longamente. Embora, na verdade, o livro pareça ser um extenso monólogo conduzido por um jovem paquistanês.
Um dos homens é um misterioso norte-americano do qual vamos saber pouquíssima coisa. No livro, o personagem nem nome tem; no cinema, pelo que pesquisei, virou Bobby e é interpretado por Liev Schreiber.
O outro interlocutor é o personagem principal (que tem um pouco do próprio autor, Mohsin Hamid), o jovem paquistanês, Changez (no cinema, o inglês Riz Ahmed) que fala fluentemente inglês pois estudou (em Princeton) e trabalhou nos EUA durante algum tempo.
Todas as falas ou respostas do americano são fornecidas pelo próprio Changez, às vezes em forma de perguntas, outras vezes reafirmando o que o estrangeiro disse. Não que isso seja aborrecido; a historia flui muito bem assim, todas as coisas são explicadas ou reveladas lentamente e o romance é dramaticamente encerrado na última frase do parágrafo final.
Antes disso, na penúltima página, Changez lembra ao americano a situação de dois personagens de um livro muito conhecido de Joseph Conrad (que deixo para quem for ler descobrir então) que parece não ser muito diferente da que se passa agora com eles em Lahore.
Bem, no meio dessa conversação toda há também o generoso patrão americano de Changez, Jim (Kiefer Sutherland), uma bela e complicada mulher, Erica (Kate Hudson) por quem Changez se apaixona e nós também, seu finado namorado Chris (um fantasma entre Changez e Erica), e, claro, o acontecimento espetacular de 2001: a queda das Torres Gêmeas.
Com o ataque terrorista às torres, fato que norteia todo o romance de Hamid, então passamos a enxergar com claridade porque Changez é o tal fundamentalista relutante do título. E daí, acompanhar com mais atenção o que ele irá fazer em seguida para acabar de vez com sua relutância entre o amor e o ódio pela América.
Mohsin prende nossa atenção o tempo todo (você tem de ir até a última página para saber o que o americano faz ali, no Paquistão), nos entrega alguns personagens extremamente simpáticos, uma bela história de amor impossível (entre Changez e Erica) e tudo isso com a vantagem de que o livro é bastante curto, muito bem dividido em capítulos também curtos e escrito claramente.
De quebra, somos apresentados didaticamente a vários usos e costumes paquistaneses e islamitas, viajamos através dos olhos e da mente de Changez a diversos lugares - Lahore, Nova York, Manila (Filipinas), Valparaíso (Chile) e quando o livro termina naquela frase da página 171, bem, aí não há mais o que fazer, terminou. Devia ter lido este livro mais vagarosamente...
Uma história muito acima da média; então lá vão cinco estrelas, não tem jeito.
Lido entre 26 e 28/01/2013.