Toni 02/05/2021
Leitura 21 de 2021
Jonathan Strange & Mr Norrell [2004]
Susanna Clarke (Inglaterra, 1959-)
Bloomsbury, 2015, 1024 p.
Mesmo tendo começado esta leitura em fevereiro de 2019, e ter tido duas longas pausas (de meses) no meio do caminho, nada foi capaz de diminuir a diversão proporcionada por JS & Mr N. O livro entrou em meu radar de leituras assim que foi lançado, mas só consegui comprá-lo baratinho muito tempo depois; e foi preciso ainda mais tempo e um doutorado sobre a ditadura no meio do processo para que esta aventura sobre magia na Inglaterra do início do séc. 19 (em meio às guerras napoleônicas) viesse a calhar como fonte de distração e leveza.
O ponto alto do romance, para amantes da prosa de Jane Austen, é o pastiche de estilo que incorpora as inversões, o fraseado desnecessariamente complexo, a afetação de classe/gênero e a ironia pervasiva que fazem qualquer incursão na obra da autora de Emma um deleite linguístico (ex. “They were Englishmen and, to them, the decline of other nations was the most natural thing in the world”). É no tom de Austen que Clarke narra a história de 2 grandes mágicos responsáveis por restaurar o uso da magia na Inglaterra (que por séculos havia se transformado em estudo anódino de uma classe de auto-intitulados “magicians” que nunca sequer haviam visto mágica em ação, quem dirá executá-la...).
A narrativa ganha pontos por não cair em uma rivalidade clichê entre Strange e Norrell, e o próprio desenlace é uma bem construída frustração de expectativas (o que considero positivo). Ambos são personagens um tanto quanto planas, uma vez que didaticamente representam as duas partes complementares do cérebro: Norrell sendo o lado analítico (muito conhecimento mas pouca adaptabilidade) e Strange, o criativo (passional e imprevisível). Nesta chave de leitura fica claro que um não pode ser bem sucedido sem o outro, mas quando o fator humano entra em cena, a equação deixa de ser tão simples. Não por acaso, as demais personagens em torno dos protagonistas são o que torna o livro + interessante.
Poderia ter menos de mil páginas? Sem dúvida. Mas para quem deseja fugir da realidade, mais mil seriam até bem-vindas.