Leila de Carvalho e Gonçalves 12/07/2018
Cerimônia De Adeus
Em seu quarto livro, o jornalista Edney Silvestre surpreende com uma construção dupla: novela e peça de teatro. Como ele mesmo afirma: trata-se de textos gêmeos, isto é, semelhantes, mas nada idênticos.
"Boa Noite a Todos" relata a vida de Maggie, uma mulher de idade indefinida que acaba de se hospedar num hotel com ideias suicidas. Sozinha, depressiva e passando por grave problemas financeiros, ela está perdendo a memória.
Maggie não se recorda de palavras, lugares e até mesmo do nome de familiares e amigos. O autor afirma que ela é a soma de várias pessoas que conheceu, sendo que todas tiveram em comum "um fim de forma inexorável, injusta, cruel e? precoce." Indubitavelmente, a personagem é resultado de uma cuidadosa construção e jamais pode ser encarada como um arremedo de alguém que já existiu.
Sua "cerimônia de adeus" numa suíte de gosto duvidoso e ironicamente denominada "Proust", foi escrita e reescrita inúmeras vezes. Aliás, desde a conclusão de seu primeiro livro, Maggie vinha assombrando Edney e é inegável seu acerto, inclusive, na escolha das músicas que fazem parte da história. Entre elas, está as "As Quatro Últimas Canções", de Strauss, uma obra póstuma que eu desconhecia.
Exibindo o final de uma jornada reduzida a inúmeras perdas, instabilidade, escolhas erradas e amores desastrosos, o crepúsculo de Maggie é comovente e atual, expondo uma condição que assusta e preocupa a todos nós.
Não deixe de ler o ensaio sobre a criação do livro e a ultima parte que reconstitui os lapsos de memória apresentados. Como leitura complementar, indico o conto "O Urso Atravessou a Montanha", de Alice Munro. Também não deixe de assistir o filme "Para Sempre Alice" com uma deslumbrante atuação de Julianne Moore no papel principal.