Aâma - Volume 2

Aâma - Volume 2 Frederik Peeters




Resenhas - Aâma - Volume 2


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emmanuel_arankar 02/08/2023

"Aâma, Volume 2" de Frederik Peeters

"Aâma, Volume 2" é uma obra de ficção científica que se destaca por sua complexidade narrativa e pela habilidade de Frederik Peeters em criar um mundo rico em detalhes e questionamentos. Neste segundo volume da série, somos novamente transportados para um futuro distante, onde a tecnologia avançada convive com a preferência de Verloc Nim por um estilo de vida mais natural.

A trama começa com Verloc, o protagonista, resgatado por seu irmão Conrad para uma expedição interplanetária, quando ele se encontra no ponto mais baixo de sua vida. Verloc é um personagem que rejeita a tecnologia avançada de sua época, optando por uma vida mais simples e desconectada. No entanto, essa escolha o afasta de sua família e o leva à perda de seu emprego. Sua recusa em adotar implantes tecnológicos, comuns em sua sociedade, o torna um pária.

A narrativa é construída em três linhas do tempo interligadas. A primeira é o presente, onde Verloc, agora sofrendo de amnésia, caminha pelo planeta Ona(ji) ao lado de Churchill, um robô com a forma de um macaco. O segundo segmento se passa no passado recente, conforme Verloc lê diários que ele mesmo escreveu, recuperando suas memórias. O terceiro aspecto leva-nos mais profundamente em seu passado, explorando seu relacionamento com sua esposa e filha.

O mistério central da história gira em torno de Aâma, uma substância revolucionária que foi introduzida no planeta Ona(ji) como parte de um experimento. No entanto, devido a problemas de comunicação e a uma reviravolta financeira, os cientistas envolvidos no experimento se encontram isolados, sem instruções claras. Isso leva a uma divisão na equipe, com a saída do inventor da Aâma, Professor Woland, e seus seguidores para uma região diferente do planeta.

Conforme Verloc, Conrad e Churchill viajam de um acampamento para o outro, eles testemunham a evolução acelerada da vida no planeta, causada pela presença da Aâma. À medida que avançam, encontram formas de vida cada vez mais complexas e sofisticadas, nenhuma das quais é nativa do planeta. No entanto, a aparição de uma garota muda que se assemelha muito à filha de Verloc gera mais mistério, uma vez que ele não consegue entender sua origem.

A obra aborda uma série de questões complexas que vão desde a influência da tecnologia na vida cotidiana até a manipulação genética e as consequências de nossas escolhas. A história também faz uso de elementos espirituais, explorando as crenças pessoais dos personagens em um ambiente repleto de desafios.

Uma das questões centrais da história é o contraste entre a criação natural e a criação artificial da vida. A escolha de Verloc de ter uma filha de maneira tradicional, em vez de usar a fecundação assistida e o nivelamento genético comuns em sua sociedade, é um exemplo disso. Sua filha, Lilja, apresenta características incomuns desde o nascimento, o que causa preocupação e preconceito. Isso levanta questões sobre a manipulação genética e o papel da tecnologia na definição da normalidade.

Além disso, a obra explora o impacto da tecnologia no cotidiano, especialmente no que diz respeito aos implantes tecnológicos. Verloc representa a resistência a essa tecnologia, enquanto seu irmão Conrad a abraça plenamente. A discussão sobre o equilíbrio entre o avanço tecnológico e a manutenção de nossa conexão com a natureza é uma parte fundamental da narrativa.

A arte de Peeters é uma das características mais marcantes da obra. Seus desenhos detalhados capturam a complexidade das paisagens alienígenas de Ona(ji) e a evolução das formas de vida de maneira impressionante. Ele retrata veículos futuristas, cidades distantes e criaturas exóticas com um alto grau de realismo, tornando o mundo da história visualmente cativante.

A evolução acelerada das formas de vida no planeta é representada de maneira espetacular, com criaturas e ambientes que desafiam a imaginação. Peeters utiliza sua arte para transmitir a sensação de um mundo em constante transformação, onde cada página reserva novas descobertas e surpresas.

"Aâma, Volume 2: A Multidão Invisível" não é uma história de ação, mas uma exploração profunda de questões complexas. O leitor é constantemente desafiado a pensar sobre a influência da tecnologia, a ética da manipulação genética e o papel da humanidade em um universo vasto e misterioso. A obra também toca em temas espirituais, pois os personagens lidam com crenças pessoais em um ambiente cheio de incertezas.

À medida que a história avança, as perguntas se acumulam, e o leitor é deixado ansioso por respostas. A mistura de elementos científicos, filosóficos e espirituais torna esta série uma leitura verdadeiramente envolvente e desafiadora. É uma narrativa que estimula a reflexão e a imaginação, convidando os leitores a explorar não apenas o mundo de Aâma, mas também suas próprias convicções e crenças.

Em resumo, "Aâma, Volume 2" é uma obra-prima da ficção científica em quadrinhos que merece ser apreciada por todos os fãs do gênero. Frederik Peeters demonstra seu talento excepcional como escritor e artista, criando um mundo cativante e repleto de complexidade. Com seu equilíbrio entre questionamentos científicos e existenciais, Aâma é uma leitura fascinante que continuará a intrigar os leitores à medida que a série se desenrola.
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Paulo 05/06/2021

Tem spoilers do volume anterior!!!

No final do primeiro volume, Verloc, Conrad e Churchill chegam até um acampamento onde viveria o povo de Woland, mas este não se encontra presente. Conrad quer saber o paradeiro de Aâma para poder retirá-lo do planeta Ona(ji). Só que eles descobrem que Woland e mais dois colonos desapareceram do assentamento e os companheiros deles não parecem estar sendo totalmente honestos com o paradeiro de Aâma. Verloc acaba se envolvendo com uma das moradoras locais, o que causa um tremendo problema já que Myo vivia junto de outra pessoa. A situação acaba insustentável e Myo acaba forçando a barra e integrando o grupo de Conrad e Verloc que parte da vila. A viagem é tumultuada principalmente pelo fato de que eles descobrem rapidamente que o planeta não é mais desabitado. Aâma forçou a evolução de diversas estranhas criaturas em Ona(ji) criando uma fauna e flora que parecem saídas de um filme de pesadelos. Resta saber até onde o artefato conseguiu chegar e o quanto essas espécies são desenvolvidas.

Esse volume está um baile de criatividade. Primeiro porque o roteiro é intrigante e mantém o leitor preso do começo ao fim. Peeters está com uma história tão pirada que é impossível a gente se conter e não sair avançando as páginas. Retomo o meu pensamento de que de forma alguma esse é um álbum pequeno (por quase da pouca quantidade de páginas). Acontece várias coisas, além da arte que está deslumbrante. Algumas perguntas são respondidas e outras deixam a gente ainda mais confuso. Isso porque o cerne da questão ainda é o que é Aâma. O que deu para entender é que parece ser um artefato ou um tipo de inteligência capaz de fomentar a evolução em ambientes desabitados. Aâma toma decisões por si própria e tenta criar as condições para o surgimento de criaturas que possam se adaptar às condições do planeta. Ao mesmo tempo isso representa uma espécie de terraformação que era o objetivo original dele. Mas, o roteiro não fica só nos aspectos de ficção científica: temos o caso de Myo, o passado de Verloc e Silice e até mesmo uma discussão sobre gravidez natural ou artificial. É um volume riquíssimo em informações. Meu único ponto negativo que vai fazer eu reduzir um pouco a nota desse segundo volume é o final abrupto. Quando a gente vê o capítulo se encerrou sem um gancho para o próximo.

Vou começar pelos assuntos mais comuns e depois a gente vai pirando na narrativa do Peeters. Queria chamar a atenção para Myo já que o envolvimento dela com Verloc pareceu meio saído do nada no volume anterior. Aqui a gente já começa a desenvolver mais a personagem e percebemos que a chegada de Conrad e Verloc deu a ela a possibilidade de tentar sair dali. E ela vai usar as armas que ela possui. Achei curioso que o protagonista percebe rapidamente que foi usado por Myo, diferente de outros personagens que levam uma vida até perceber este tipo de manipulação. Ele sabe que isso aconteceu, refletiu, ficou chateado com ela, mas a vida segue. Só que Myo avança ainda mais a mão e coloca a pequena menina que se parece com a filha de Verloc junto. E essa garota tem uma estranha afinidade com ele. Algo que ele não consegue descobrir o que é.

Quem não gostou da ideia de levar Myo foi Conrad. Ele parece estar meio afetado pelos desdobramentos das descobertas que eles fizeram. Durante toda a jornada ele está mais irritadiço e nervoso, contrário àquele personagem mais equilibrado que contacta Verloc no primeiro volume. Conrad parece ser uma pessoa obcecada por ter controle sobre coisas, pessoas e acontecimentos. Ele precisa dessa sensação de estar no comando e saber de todas as possibilidades. Só que tudo parece estar fora disso nesse momento: o grupo não está do jeito que ele quer, ele não faz ideia do paradeiro de Woland e Aâma parece estar solta fazendo o que quer. Não sabemos ao certo se isso é o efeito da própria personalidade de Conrad ou se algo está acontecendo com ele. Frienko parece ter uma certa habilidade para acalmá-lo.

Ficamos sabendo mais sobre o passado de Verloc. E como ele se encontrou com Silice. E é curioso que o envolvimento dos dois acaba sendo influenciado pelo fato de Verloc ser dono de um antiquário. As visões um pouco diferenciadas dele regem a relação dos dois. Por exemplo, neste futuro, é bastante incomum os casais terem filhos de forma natural. A gravidez geralmente é in vitro manipulando a genética da futura criança de forma a protegê-la de doenças e outros problemas. Não é que a gravidez comum é criminalizada, ela só não é recomendada. Então Verloc convence Silice da importância de terem uma filha da forma como os filhos eram concebidos antes. E assim nasce Lilja. Mas, desde o primeiro momento a menina não parece normal. Não vou entrar em detalhes para não estragar a surpresa, mas toda a questão com a garota e o que fazer com ela é o que causa os problemas no casamento de Verloc. A busca por um tratamento médico que pudesse ajudá-la o leva a todo o tipo de médico. O preconceito contra Lilja causa também muitos transtornos para Silice. Um dia, ela simplesmente vai embora e Verloc fica sabendo alguns dias depois que ela havia se envolvido com outra pessoa. O personagem se viu sem chão e caiu em uma série de problemas que vieram depois. Ele simplesmente não conseguiu seguir em frente.

Voltando ao planeta Ona(ji) a evolução do planeta é simplesmente extraordinária. Peeters vai brincar com formas anteriores de vida. Protozoários, seres unicelulares, formas de vida simples. Só que imagine se essa evolução ocorresse em outro ambiente com outras condições. É isso o que o autor imagina aqui. Teremos seres que disparam enormes nuvens de pólen, medusas voadoras imensas, um ser que é uma espécie de sistema digestivo ao ar livre. Todo o ambiente foi modificado e se transformou em algo fascinante. É um cenário que vai encantar os personagens, ao mesmo tempo em que vai colocá-los em perigo. Eles vão precisar desenvolver estratégias diferentes para lidar com seres que eles jamais viram. Ao mesmo tempo eles vão se questionar como Aâma conseguiu chegar a essas conclusões sobre povoar o planeta de criaturas. E até se ainda é possível retirar a inteligência desse planeta ou se ela se integrou completamente a ele como algum tipo de divindade artificial.

Muitas questões ficaram no ar e este segundo volume levantou ainda mais a barra do quadrinho. Com mistérios crescentes, personagens ganhando mais e mais camadas, o leitor fica na expectativa sobre o próximo volume. Por exemplo, por que a pequena menina não fala e gosta de estar perto de Verloc? Ou as desconfianças de Churcill sobre uma possível integração entre carne e robôs. Aliás, as cenas de ação do Churchill estão entre as mais sinistras deste volume. E por fim o que Conrad e Verloc encontrarão depois do vale que eles atravessaram.

site: www.ficcoeshumanas.com.br
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