Laís Helena 29/08/2016
Resenha do blog Sonhos, Imaginação & Fantasia
Em um futuro distante, a América Latina foi tomada por uma névoa venenosa, que torna a vida inviável na superfície. Desse modo, todos têm de viver no alto dos megaedifícios — antigamente, partes de uma enorme cidade denominada Rio-Aires, agora, apartamentos abandonados que foram tomados pelo que restou da humanidade. Esse novo universo é controlado pela Torre, que detém boa parte dos recursos e é responsável por garantir a sobrevivência dessas pessoas, apesar da liderança inflexível.
Beca é uma dessas pessoas, e é uma saltadora — o resultado de uma mutação genética que a faz mais ágil e a torna capaz de pular muito mais alto do que um humano comum. Por esse motivo, trabalha resgatando recursos nos andares inferiores dos megaedifícios com a ajuda do pai e do irmão a serviço da Torre. É um trabalho perigoso, pois além de se pendurar pelos prédios e chegar perigosamente perto da névoa tóxica, ainda tem de lidar com a ameaça dos Sombras — pessoas que não morreram em contato com a névoa, mas se transformaram em monstros fortes e aparentemente irracionais. Um desses trabalhos, porém, envolve muito mais do que os riscos habituais (como se já não fossem o bastante), e é aí que a história começa.
Eu estava com um pé atrás com esse livro (li um conto da mesma autora em Um Dia das Bruxas Nem um Pouco Épico e não gostei), entretanto, a capa, o título e a premissa me saltaram aos olhos, e no fim decidi dar uma chance. E me diverti muito durante a leitura, embora o livro tenha alguns aspectos que poderiam ter sido melhor trabalhados.
Um deles é a narrativa. Ela me agradou durante a maior parte do tempo, mas em alguns trechos, faltou mostrar mais. Algumas cenas não alcançaram todo o potencial que poderiam ter. Outra coisa que em incomodou em relação à escrita foi que os sentimentos dos personagens são nomeados, em vez de deixar que o leitor os deduza a partir de pistas nos diálogos ou na linguagem corporal. Pode parecer um detalhe, mas é algo que quebra um pouco a imersão e também não deixa que a cena alcance todo o seu potencial. Mas, afora isso, a escrita me prendeu bastante à trama.
Trama que, aliás, é bastante interessante. Gostei do enfoque em coisas mais mundanas, com objetivos menos voltados a derrubar o governo e mais a sobreviver. E, claro, temos mistérios, reviravoltas, segredos e tudo o mais que tornam uma história ainda mais interessante e envolvente.
Outra coisa de que gostei foram os personagens. Talvez não tenham sido tão bem caracterizados ou explorados quanto podiam, mas a autora fugiu um pouco do óbvio, dando-nos personagens não tão maniqueístas — personagens que, com suas atitudes nem sempre tão nobres, são críveis dentro desse universo cheio de devastação e desesperança. As relações entre Beca e sua família (ela e o irmão são adotivos) é bem interessante, e, embora em certos momentos surja o romance, não foi algo que tomou mais espaço do que devia ou foi abordado de uma forma que me incomodou.
A forma como o mundo foi apresentado é interessante: a autora se utiliza de gravações que a Torre transmite para todos os cidadãos, e por meio dela conhecemos os fatos que levaram o mundo ao ponto em que está. Além disso, mais informações sobre a névoa e os Sombras são adicionadas aos poucos ao longo da trama, complementando a caracterização. Porém, creio que os poderes que algumas das pessoas têm (além dos saltadores, há os teleportadores e vários outros tipos de habilidades) poderiam ter sido melhor explicados e melhor explorados.
O final fecha a trama do livro, mas deixa algumas coisas em aberto — como se a autora tivesse a intenção de escrever uma continuação, ou outras histórias no mesmo universo, mas, que eu saiba, é volume único. A edição é muito bonita: além da ilustração da capa, há ilustrações internas e um mapa. Não lembro de ter visto problemas na revisão — se houve, foram erros de digitação que pouco influíram na leitura.
site: https://contosdemisterioeterror.blogspot.com.br/2016/08/resenha100.html