Valério 04/01/2018
Profundidade epistolar
Zygmunt Bauman e seu amigo Leonidas Donskis criaram um livro que nada mais é que uma troca de cartas entre eles, onde tratam dos mais diversos assuntos.
Em alguns momentos, senti aquela velha aversão aos novos tempos e novas tecnologias que todos sempre vemos os mais velhos debaterem. Como a internet e as redes sociais podem separar as pessoas e insensibilizá-las. Venhamos e convenhamos: Todas as tecnologias podem ser usadas para o bem e para o mal. Obviamente, o mal uso das redes sociais é nocivo. Mas, sabendo usar, mais aproxima que afasta, amplia o círculo de amizades e contatos, e reforça vínculos. Desde que, também obviamente, não se queira substituir as redes pelos encontros pessoais. A tecnologia é complementar. E não substitutiva.
Mas essa não foi a tônica do livro. Apenas uma breve impressão passageira.
O foco principal é sobre como hoje tendemos a ser superficiais em relação aos demais.
Como pessoas passaram a ser descartadas com muita facilidade.
Nos relacionamentos, enquanto as pessoas nos servem, nos animam, nos empolgam e divertem, os mantemos por perto. Se não nos forem úteis mais, as descartamos.
Assim como com objetos de desejo, estamos nos tornando consumistas em relacionamentos. Gostei? Compro, uso até cansar e depois abandono em um canto.
A linguagem é bem acessível e algumas das análises filosóficas empolgam.
Dentre elas, a forma como a privacidade, outrora tão valorizada, hoje é devassada e exposta por quem deveria ser o primeiro a resguardá-la. O próprio personagem.
Destaque especial sobre como as pessoas se vitimizam para poder ter mais views, mais seguidores. A auto-piedade como ferramenta para manter-se visível (Impossível não lembrar de Thais Araujo e Erika Januza - que se disse vítima de racismo porque ofereceram parcelamento na compra que fez).
Um mundo que vai ficando chato, quando há uma grande insensibilidade em relação ao sofrimento do próximo, que já virou banal, mas há uma hiper sensibilidade a coitadismos, como os citados.