Ivan 13/08/2022
Em defesa da Teoria do Evolucionismo
William Paley, teólogo e filósofo que viveu no século XVIII, elaborou o seguinte argumento: imagine-se caminhando em um descampado e encontrando um relógio no chão. Diferente de uma pedra, por exemplo, um relógio seria um objeto necessariamente criado por alguém. A sua complexidade exigiria um projetista, sendo, portanto, uma prova inequívoca da existência de um criador que o tenha concebido com o propósito específico de ser um relógio.
Richard Dawkins, em “O Relojoeiro Cego", tem por objetivo desconstruir este argumento de Paley, provando que a conclusão dele está incorreta. E faz isso demonstrando a diferença entre um projetista consciente e a seleção natural (o processo natural pelo qual a evolução dos organismos vivos ocorre). E se a seleção natural faz o papel de um relojoeiro, de forma brilhante Dawkins o chama de relojoeiro cego (daí o título do livro!).
Este é possivelmente o mais apaixonado livro de Dawkins. Zoólogo de formação, ele desenvolveu um texto com humor e muita paixão para explicar a origem das espécies e a evolução. Ele confessa seu desejo já no início da obra: inspirar no leitor uma visão da existência como um mistério de dar frio na espinha, e entusiasmar com a apresentação de uma solução elegante e simples para a complexidade dos seres vivos.
Dawkins concebeu o livro com a objetivo de desvendar o enigma da origem da natureza e, claro, da nossa origem. É destinado a um público que , talvez limitado por sua crença criacionista, não acredita na evolução das espécies.
Em O Relojoeiro Cego, Dawkins visa desconstruir a Teoria do Design Inteligente (TDI), que credita a complexidade da vida na terra a um ser superior, alegando que o olho humano, por exemplo, por ser um órgão tão complexo, só poderia ter sido obra de alguma inteligência superior ou um projetista poderoso.
A seleção natural não projeta, não prevê e nem espera nada. Os genes, ao se multiplicarem, sofrem mutações que influenciarão fenotipicamente os indivíduos que os possuem, aumentando ou diminuindo a capacidade dos mesmos sobreviverem em um ambiente em constante mudança. A complexidade é formada na natureza através de numerosas e sucessivas pequenas modificações.
Para Dawkins, a seleção natural não apenas é verdadeira, mas a única solução possível para explicar como os seres vivos atingiram o nível de complexidade atual. Uma mecanismo evolutivo tão eficiente que certamente funcionaria em todo o universo, onde quer que existisse uma forma de vida.
Assim, o projetista é a força inexorável da natureza que se constrói e se desenvolve a partir dos elementos oferecidos pela própria natureza. O processo da evolução pode até ser considerado aleatório, mas cada passo evolutivo no tempo biológico ocorreu com precisão. Os que não se formaram com essa precisão foram "eliminados" através da seleção natural.
O livro possui muitos exemplos práticos e analogias que ajudam na compreensão das ideias. É possível concluir que a única explicação viável para a vida na Terra é a ocorrência da replicação com mutação aleatória cumulativa, em um período extremamente longo. Embora seja altamente improvável que uma característica Y tenha surgido a partir de uma característica X em um único passo, porém é possível conceber uma série de intermediários infinitesimalmente graduados que leve X a se tornar Y. Afinal diversas mudanças menores em sequência são menos improváveis do que uma grande mudança pontual.
Dawkins simula a aleatoriedade das mutações e o impacto nas gerações futuras através de um programa de computador, desenvolvido por ele mesmo. Ele cria uma espécie de mundo virtual, com regras para simular uma "seleção natural", que resulta em interessantes formas evoluídas, as quais ele chama de "biomorfos", simulando em computador o que acontece em escala muito maior na natureza.
Ele usa como exemplo a eco-localização dos morcegos e de outros animais, que evoluíram na mesma direção e desenvolveram paralelamente a mesma capacidade.
Embora esta obra exija do leitor um pouco mais que outros livros do autor, tornou-se um clássico instantâneo por ser bem escrita. Com uma linguagem muito acessível e didática, recheada de analogias que facilitam o entendimento, Dawkins explica o que é a Evolução. E, apesar da linguagem ser clara e simples, o assunto não deixa de ser abordado de forma profunda e completa.
Dawkins consegue ensinar um processo complexo sem se tornar chato ou cansativo. Ele escreve de forma fluída: você vai simplesmente lendo, refletindo e entendendo. E poucas coisas são mais prazerosas do que entender conceitos complexos e importantes.
Enfim, um livro importante para quem deseja conhecer os argumentos da Teoria da Evolução como explicação para a origem e evolução das espécies na terra. É a ferramenta adequada para entender melhor a Evolução antes de simplesmente descartá-la.