Diálogos

Diálogos Platão
Platão




Resenhas - Diálogos


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Carla.Parreira 21/10/2023

Diálogos
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O livro é dividido em quatro partes (que em verdade são quatro livros em um).
Na primeira, chamada de O banquete, Socrates, Agatão, Alcibíades e outros conversam a respeito do amor. Para Sócrates o amor é um meio de atingir a visão do princípio eterno de todas as coisas belas.
A segunda parte é chamada de Fédon: Sócrates debate sobre a morte na prisão, à espera da cicuta. O diálogo relata o caminho socrático, retomado e desenvolvido por Platão: o conhecimento como reminiscência e a doutrina das ideias.
A terceira parte é chamada de Sofista: A oposição verdade-erro, inerente ao combate socrático-platônico aos sofistas (vistos como caçadores interesseiros de jovens ricos, comerciante em ciências, pequeno comerciante de primeira e segunda-mão, enfim, como mercadores de falsidades), renova-se nessa etapa final do platonismo.
Por ultimo vem a parte chamada Político onde Platão retoma um dos temas centrais de sua reflexão filosófica: a caracterização do político e da arte de governar. Eis um pouco do que achei mais interessante na leitura: Platão nasceu em Atenas em 428-7a.C. e morreu em 348-7a.C. Platão desenvolve, na fase inicial de sua filosofia, teses que tendem a sustentar a realidade no intemporal e no estático. Só posteriormente seu pensamento reabilitou e reabsorver o movimento e a transformação, tentando estabelecer a síntese entre a tradição eleática (que negava a racionalidade de qualquer mudança) e a heraclítica (que afirmava o fluxo contínuo de todas as coisas). Mas o grande acontecimento da mocidade de Platão foi o encontro com Sócrates, o qual foi acusado de corromper a juventude por difundir ideias contrárias à religião tradicional, sendo assim condenado a morrer bebendo cicuta. Platão, que seguira os debates de Sócrates e que o considerava o mais sábio e o mais justo dos homens, acompanhou de perto o tratamento que seu mestre recebeu das facções políticas. Platão narra no Fédon o último dia da vida de Sócrates. Em sua cela, travou uma intensa discussão com os pitagóricos Cébes e Símias para convencer aos seus ouvintes que a morte do corpo não é um terrível mal como a tradição homérica apregoava. Mas o homem que viveu em busca do conhecimento e se afastou dos prazeres corporais viverá a verdadeira vida no além-túmulo, Hades, porque a psykhé, o ser do homem, é imortal. Sócrates, em busca de provar a imortalidade, parte da tradição religiosa do orfismo conjugando-a com sua ?teoria? das Ideias e polemiza contra a tradição homérica dos naturalistas e de Filolau. Ao argumentar em favor da imortalidade, Platão propõe uma concepção ética que priorizava os valores ligados ao conhecimento e fundamenta uma nova interpretação da existência humana. Platão, para completar seu argumento, afirma que o corpo possui natureza para servir e obedecer, portanto se assemelha ao mortal. A psykhé, ao contrário, assemelha-se ao divino, pois sua natureza consigna comando e senhorio. Símias é o primeiro a levantar suas dúvidas. Influenciado pela doutrina pitagórica de Filolau, afirma que o argumento socrático pode ser aplicado como analogia à harmonia e à lira com suas cordas. A harmonia, segundo ele, é invisível, incorpórea, bela, divina; a lira e suas cordas são corpóreas, compostas, terrenas, aparentadas à natureza mortal. Quando se quebra a lira ou despedaçam-se suas cordas não é cabível sustentar que a harmonia continuaria a existir. Portanto, a analogia entre a harmonia e a psykhé demonstra que sua imortalidade não é concebível. Nesta visão, a psykhé emergiria da combinação harmônica entre vários elementos constitutivos do corpo. A psykhé, conclui Sócrates, não pode ser harmonia. Cébes elabora uma objeção complexa contra os argumentos socráticos. Parte da preexistência da psykhé, mas não admite sua capacidade de sobreviver após sucessivas reencarnações. A cada passagem por um corpo, a psykhé perderia paulatinamente a sua energia até se esgotar completamente, portanto ela não seria imortal e indestrutível. A abordagem platônica distancia-se das explicações dos primeiros pensadores e abre a perspectiva para uma explicação metafísica da realidade na qual a psykhé é justificada pela existência de uma realidade transcendente e inteligível. No itinerário investigativo do Fédon distinguem-se duas fases: a) a física é percorrida segundo o método dos filósofos naturalistas; b) a metafísica segue um novo método e é descrita na emblemática metáfora da ?segunda navegação?. A fase física escalona-se, por sua vez, em dois momentos: o primeiro é inspirado nas doutrinas dos físicos em geral, dentre os quais se destaca Heráclito e o problema do movimento; o segundo é o encontro com a doutrina da ?Inteligência? de Anaxágoras, a mais elevada perspectiva lograda entre os naturalistas.
A ?segunda navegação?, uma travessia original, levou Platão a afastar-se do método naturalista fundado sobre os sentidos, com a ?descoberta? da realidade suprassensível: a existência das Ideias ou Formas. A ?segunda navegação? transcendia o nível do conhecimento físico dos naturalistas e levou Platão a alcançar a esfera do suprassensível onde fundamentou outro tipo de causa: as realidades inteligíveis. São estas causas que explicam a realidade sensível. Na visão platônica, o físico não pode ser considerado como ?causa verdadeira?, porque está sujeito ao movimento contínuo e, consequentemente, reduz o sensível ao meio e instrumento mediante o qual a ?causa verdadeira? atualiza-se. As Ideias, isto é, a realidade inteligível transcende as características dos corpos físicos, mas também a própria fonte material do que é físico. A transcendência das Ideias é o fundamento que as tornam a causa do sensível. A descoberta das realidades metafísicas como ?causa verdadeira? levou Platão a reconhecer a existência de dois planos da realidade: um fenomênico e captável através do corpo e outro plano suprassensível e captável apenas através da psykhé. Desta forma, as Ideias redimensionam a argumentação sobre a psykhé e sobre a imortalidade para um novo plano metafísico. A exclusão dos opostos, segundo Platão, abrange também todas as Ideias e coisas que, mesmo não sendo contrárias entre si, têm os contrários como atributos essenciais: o fogo nunca admite em si a Ideia de frio; quando este se aproxima, aquele foge. E a neve nunca admite a Ideia do quente. Dentro da lógica do argumento, à psykhé é impossível receber a Ideia contrária à vida, isto é, a Ideia de morte. A comparação entre corpo e prisão é caracterizada dentro do contexto do Fédon: por meio do corpo, o homem é inundado com sofrimentos, prazeres, dores, sensações incertas e todo o tipo de desejos, que atrapalham o conhecimento. Somente quando a psykhé estiver afastada do corpo poderá, com o puro raciocínio, conhecer o que cada coisa é em si: a Ideia. E somente com a morte do corpo, a psykhé estará complemente livre. Platão redimensiona o significado da morte: tradicionalmente acreditava-se nela como o maior dos males por privar o ser humano dos prazeres do corpo; mas, posteriormente, transforma-se em um bem, porque com a morte, a psykhé separa-se completamente do corpo, uma espécie de prisão, que a privara de contemplar a verdade. Platão, portanto, estabelece uma estreita relação entre filosofia e morte. O filósofo perscruta incansavelmente para encontrar a sabedoria, mas também é aquele que, enquanto estiver neste mundo, ?prepara-se para morrer e estar morto?. A morte é a separação entre as duas partes constituintes do homem: a psykhé inteligível e o corpo sensível. O orfismo redimensionou a visão sobre o homem: este possui uma parcela da divindade em si, que precisa ser purificada através de rituais e de suas escolhas na vida. Já na teoria de Platão, é através do exercício da filosofia em busca do conhecimento das formas perfeitas que a psykhé se purifica. Mas é somente com a morte do corpo que a psykhé será completamente libertada: se cumpriu seu dever, viverá no Hades ao lado dos deuses e dos melhores homens. A filosofia, portanto, é uma preparação para a morte.
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