ekleipsbook 26/06/2023
Uma das primeiras informações que se tem no livro ? e que me despertou interesse ? foi o fato de Sêneca ter sido o preceptor de Nero, que, por ter matado a própria mãe, sua esposa e castrado seu marido, é considerado o pior imperador já visto em Roma. Isso quer dizer, então, que a educação do mais infame governante de Roma, em algum momento, esteve nas mãos deste autor? Isso interferiu de algum modo em sua forma de pensar?
Sêneca redige ?Da Tranquilidade Da Alma? em exílio aos bens materiais de sua época. Convicto ao estoicismo, no decorrer do livro, troca diálogos com seu amigo, Aneu Sereno, seguidor do epicurismo.
Quando eu, Adrielle, olho ao meu redor, é possível perceber claramente a forma como estamos divididos enquanto sociedade. Nossos valores, dentro do modelo econômico capitalista, vêm sendo enraizados em consonância ao consumo e às aparências desde o fim do feudalismo. Gradativamente, com o decorrer dos séculos, o surgimento do liberalismo acarretou uma onda ainda maior do que viria a ser denominado de consumismo. Até porque, a mão-de-obra escrava só recebeu sua alforria quando os ingleses decidiram que só assim funcionaria o giro econômico: com trabalhadores assalariados que têm como motor de vida o desejo de ascenção.
Não muito diferente do que é hoje, na Antiguidade, Sêneca observava uma sociedade paralela. Naquela época, os esparciatas governavam a polis, eram donos de escravizados, terras e dedicavam-se à guerra. Em Atenas, os eupátridas eram os ditos ?bem-nascidos?, de famílias ricas e antigas. Sêneca enxergava essas organizações sociais como vazias e infelizes, uma vez que privilegiavam um grupo de pessoas em detrimento de outro de forma injusta e gananciosa.
Não mudamos tampouco fomos capazes de alcançar a paz e a felicidade mundial desde então. Nossa sociedade continua sendo perseguida e coagida pelo paradigma do desejo ao qual Sêneca tanto desprezava. O ideal seria que todos tivéssemos essa consciência, mas enquanto isso não ocorre, que pensemos.