z..... 23/05/2017
A obra mostra um seringal no fim do áureo ciclo da borracha. Foi publicada em 1930, caracterizando-se por descrições minuciosas do cenário amazônico e percepção do homem baseando-se na vivência do autor na região.
Acredito que a descrição seja o aspecto mais marcante. Os relatos são enfáticos, descritos com entusiasmo de descobertas, expressando uma natureza selvagem, impactante e grandiosa. Esse aspecto se explica no protagonista, Alberto, um jovem português que parte do Maranhão rumo ao Amazonas para conhecer e trabalhar em seringal. O trajeto se deu a maior parte em navio gaiola e a viagem essencialmente é de contemplação e divagações sobre o cenário. Há uma variedades de curiosidades referentes à fauna, flora e observação do ribeirinho em seus hábitos. Textos instigantes e bonitos, com algumas partes exageradas, como se fosse a apresentação da Amazônia idealizada pelos gringos, algo para impressionar (tipo o registro de piraíbas com ações similares à tubarões e sucuris que reduzem cachorros à pasta - apesar de não conhecer terminologia de Portugal, hidrossauro me parece algo muito enfático também), refletindo relatos obtidos mais pela oralidade que pela observação, como de fato existem.
Nesse aspecto de Amazônia gringa, logo imaginei que a onça seria visada como besta fera maior, havendo um certo prazer na descrição de seu abatimento, e assim foi mostrado em dois momentos. E o boto, hein? Como o autor pode deixar de fora sendo um dos mais representativos símbolos de cá...
Sim, há exagero e valorização da visão estrangeira na minha opinião. Compreensível, mas que traduz também certo preconceito em divagações (como a crítica ao conceito ribeirinho de cidade e aos índios, que também prefiguram bestas humanas violentas às quais deveriam todos estar atentos com suas armas sem titubear - o livro ilustra com um episódio horrendo e bestial). Tudo mais ou menos nesse termos.
As descrições acompanham os hábitos do seringueiro, sua realidade e descobertas na floresta, mas o autor, daí em diante, passa a dar atenção maior ao homem, que é mostrado em uma realidade difícil, sujeita à injustiças, escravidão e desmandos. Além disso, duro para eles viverem sem mulheres por perto... O livro quase não as mostra entre as personagens.
A atenção ao final é ao homem e o protagonista acaba percebendo e vivenciando que a agressividade, força e imposições maior sobre as vidas não vem da selva que descobrira, mas das injustiças entre os homens ali assentados (quando do piorio!).
Não curti o final, mas está em acordo com o que o autor procurou retratar.
Foi o que se destacou em minha leitura, feita através de ebook no celular. Quase desisti, mas as peculiaridades, grandezas ou infimidades da obra me fizeram persistir.
Ora, pois pois! Um livro mesmo fixe!