Brenda 13/04/2020
"é no silêncio que se pede perdão,
Bia, é no silêncio que podes descobrir nas tuas entranhas as minhas fragilidades, é nele,
no silêncio, que o nada se exalta, e a súplica se renova, e a opressão se dissolve, é no silêncio, Bia, que a memória resume as horas vividas, é no silêncio que o rio nos salpica o rosto com suas gotas, é no mais depurado silêncio que se irrigam os vazios, o silêncio, Bia, é que faz mais belo o luar, quietas são as carícias, as cores que calam na plumagem dos pássaros, as marcas na pele (embora abaixo dela a usina da vida continue a rugir sem cessar), é o silêncio que sempre sobra depois que a porta se fechou, é no silêncio que se mutilam as mentiras, que as cicatrizes se mostram, é no silêncio que tu sentistes o mundo pela primeira vez antes que a mão do médico estalasse em tuas costas pra que vomitastes o grito, é no silêncio que eu te inicio não no mundo, num caminho espiritual ou numa crença, é no silêncio que eu te inicio não num saber esotérico milenar, em jogos de ironia, em teoremas insolúveis, não, é no silêncio, Bia,
que eu te inicio em mim ? pisar no meu silêncio é o teu primeiro passo pra me conhecer ?, é no silêncio, filha, que eu te inicio em quem tu terás ? logo ? de assistir ao fim."