Gleyse 03/07/2015Diferente Sarah Lotz conseguiu criar uma história totalmente insana, envolvendo acidentes aéreos, conspirações apocalípticas, alienígenas e cultos aos sobreviventes de uma tragédia que mudará o mundo. É até um pouco difícil fazer essa resenha, pois a trama foi tecida em forma de relatos, que foram compilados pela jornalista Elspet Martins em um livro, e cada capítulo narra os acontecimentos decorrentes do encontro das pessoas que tiveram algum contato com as crianças sobreviventes ou seus parentes e amigos próximos.
Como conta a sinopse, quatro aviões caem ao mesmo tempo em quatro continentes diferentes (América, Europa, África e Ásia), onde 3 crianças na casa dos 6 anos sobrevivem milagrosamente quase ilesas. Bobby é um garoto americano que perde a mãe no acidente e passa a viver com os avós em um pequeno condado nos EUA; Jess, a menina inglesa, perdeu os pais e sua irmã gêmea no acidente e fica sob a guarda do tio Paul, um ator homossexual atormentado pela má fama; e Hiro, um garoto japonês, filho de um conhecido engenheiro robótico; além de Pam, que sobrevive apenas o tempo de deixar uma mensagem assustadora em seu celular. E a partir da existência desses sobreviventes somada a essa mensagem que varias teorias e conspirações irão surgir, transformando o mundo em um verdadeiro caos.
A atmosfera da história é aterradora, pois a partir dessa tragédia, uma cadeia de acontecimentos vão se desdobrando, a partir do momento que o pastor, a quem a mensagem de Pam foi direcionada, começa a difundir uma teoria apocalíptica do fim do mundo, fazendo com que varias pessoas se voltem para a religião. Enquanto isso, desastres naturais e políticos dão suporte a tais teorias que são disseminadas pelo mundo nas mais diversas formas.
É difícil falar dos personagens, pois são muitos relatos, e-mails, transcrições de áudio e fóruns de discussão que pautam todo o enredo, que se divide em partes, que vão desde a queda do avião até o desfecho. Dessa forma, o livro é narrado por várias pessoas, nos dando uma visão dos vários vieses que a narrativa toma. É possível visualizar os acontecimentos como se olhássemos um gráfico. O que eu achei brilhante por parte da autora, e imagino o quanto foi difícil chegar a esse resultado tão real.
O que me incomodou na leitura e foi o que acabou a tornando um pouco lenta, foi exatamente a form como a história foi concebida, pois a gente tem um desastre aéreo de proporções gigantescas no início, mas após esse momento, temos apenas os relatos das pessoas, que mesmo sendo informações fundamentais para entendermos toda a complexidade da trama, a deixa um pouco arrastada. E somente quase na página 200 é que alguma coisa substancial começa a acontecer de fato.
Outro ponto que ressalto, é que mesmo se tratando de um acidente aéreo com centenas de mortes e muita comoção, isso não é tratado pela autora de forma tocante, o que faz com que a gente não sinta empatia pelos personagens, e suas histórias pouco nos comove. Apenas dois personagens me aproximaram mais da história, que foi um rapaz japonês que tem um relacionamento virtual com a prima do Hiro e Lilian Small, a avó do Bobby, que cuida do marido com Alzheimer, pois eles me pareceram mais humanos e mais sofridos, talvez.
Não dá para falar muito sobre o desfecho, pois os acontecimentos são bem intensos, mas posso dizer que nesse ponto a jornalista que escreve toda essa história, que até então só sabemos seu primeiro nome, surge como uma pessoa de verdade, indo em busca de mais informações que lhe foram negadas ou que passou despercebido no momento que ela começou a pesquisar tudo. Parece confuso, mas o que a gente lê é o livro escrito por ela, e só no final ela surge para fazer parte de sua própria história.
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