Gabriela Araujo 16/11/2013
An Abundance of Katherines [Resenha]
Resenha postada no blog Equalize da Leitura.
Mais um livro do autor mais querido do momento, John Green – autor do fenômeno “A Culpa É das Estrelas”: P.S. Se você ainda não leu esse livro, pare de respirar e corra logo para compra-lo. Estou trabalhando mentalmente para tentar elaborar uma resenha sobre ele, mas me encontro sem palavras que o descrevam.
Bem, mas sobre este livro que é a bola da vez... Vou começar dizendo que eu gostei muito dele. Já li muitas opiniões a respeito ressaltando pontos com os quais discordei e concordei. Vamos dar início ao que a história se trata de fato: Colin, desde cedo considerado um prodígio pelos pais e comunidade em geral, não tinha sorte em relacionamentos – estes apenas com garotas chamadas Katherine – ‘Catherine’ não serviria e nem ‘Katherinne’, era K-a-t-h-e-r-i-n-e. Cansado de estar sempre do lado da balança do namoro “que levava o pé na bunda” e principalmente depois de ter o coração partido pela décima nona Katherine com quem namorou, ele saiu em uma road trip* com o amigo árabe Hassan (e não, ele não é um terrorista, LOL: piadinha interna) e no meio da viagem tem uma epifania sobre a solução ideal que o transformaria no gênio – não prodígio – que ele sempre desejou ser e de quebra ajudaria as pessoas em todo o globo que, como ele, estavam destinadas a serem os que “levavam o fora” a se preparem e não terem o coração partido todas as vezes: ele elaboraria um teorema de previsibilidade de relacionamentos, que, basicamente, iria prever o desfecho de toda e cada relação – sem exceções – entre duas pessoas, fossem elas quem fossem.
Deixe-me ressaltar que este livro tem uma característica que pode ser considerada positiva ou negativa dependendo da pessoa: ele é totalmente imprevisível. A verdade era que por mais que o livro avançasse, eu não conseguia de fato captar o que ele queria de fato. Você não sabia o que ia acontecer na página seguinte, assim como numa viagem mesmo: a cada dia você conhece uma pessoa, vê uma paisagem, experimenta uma comida, que muda um pouquinho quem você é por dentro e formula a pessoa que você será no futuro. Eu, particularmente, achei frustrante e fascinante. Por quê? Porque a vida é imprevisível e por mais que tentemos desvenda-la passo a passo - até por segurança – “não é assim que a banda toca”, como diria minha avó. E cada dia, Colin passou a considerar coisas que nem ele – com seu extenso conhecimento sobre informações detalhistas que escapam do cérebro comum em dois segundos – havia considerado.
"— Mas você será um vencedor — o pai dizia. — Precisa imaginar isso, Colin, que um dia eles todos vão olhar para trás, para a vida deles, e desejar ter sido você. No fim das contas, você terá o que todo mundo quer."
Este ritmo indefinível do livro foi considerado, por alguns, entediante e lento, ele foi lento no início sim e eu admito que haja cenas no livro em que eu parava e pensava ‘Mas por que ele está se dando o trabalho de falar sobre isso? Isso é só isso, afinal’. Mas o que mais gosto no modo de escrever de John Green, é que ‘o isso nunca é só isso. O mundano é sempre mais’. Ainda que eu não possa citar a relevância de cada pessoa e cada discurso e cada piada que aparecem na história, eu afirmo que tudo experimentado foi um somatório para o desfecho. É tão mágica essa capacidade de pegar a palavra ‘sorvete’, por ex., atribuir a ela um novo significado e criar um mundo onde só as pessoas que leram o livro conhecem intimamente os diversos significados da palavra que, para os outros, nada representa além de sorvete.
"(...) As Katherines terminavam porque simplesmente não gostavam dele. Todas chegavam precisamente à mesma conclusão. Ele não era maneiro o suficiente, ou bonito o suficiente, ou tão inteligente quanto esperavam — resumindo, ele não era importante o suficiente. E então isso foi acontecendo repetidas vezes, até que ficou chato. Contudo, monótono não é sinônimo de indolor. (...) autoridades romanas puniram Santa Apolônia quebrando e arrancando seus dentes, um a um, com alicate. De vez em quando Colin pensava na relação disso com a monotonia do "fora". Nós temos 32 dentes. Depois de um tempo, provavelmente, tê-los arrancados um a um se torna um fato repetitivo, enfadonho até. Mas nunca deixa de doer."
Alguns ressaltaram que Colin foi irritante e insuficiente quanto às características que se espera de um protagonista. Em minha opinião, o mais fantástico do livro inteiro é exatamente Colin e as transformações que vemos nele. Gostei tanto do fato de que Green pegou o lado real da adolescência – não aquele estereótipo irritante que a maioria dos autores pega sobre pessoas autossuficientes e inconsequentes. Ele tinha uma capacidade de enlouquecer com a ínfima probabilidade de ser deixado de lado por alguém. Mas quem nunca teve medo de ser deixado? “Ninguém pode ser feliz sozinho”, mas o que podemos fazer para diminuir a probabilidade? Seja a melhor pessoa que pode ser e as melhores pessoas estarão ao seu lado.
Colin era único e especial pelo dom dado a ele, mas ao mesmo tempo ele tinha tantas inseguranças e desejos e incertezas como qualquer pessoa, e pensamentos com os quais eu me identifiquei.
O motivo principal por ele querer ser um “gênio” (alguém que criava coisas extraordinárias, não aquele que apenas reproduzia o conhecimento) era porque queria importar para os outros. Ele me lembrou de Gus, de “A Culpa é das Estrelas”, nesse aspecto, Gus não queria ser esquecido. Embora nem todos nós entremos para a história, sejamos mais do que muitos, se formos pessoas esforçadas a ser ótimas pessoas, não seremos esquecidos por quem importa. Como a frase dita num filme que gosto muito, “Lembranças” – sim, aquele mesmo com o meu amor chamado Robert Pattinson – “nossas digitais não se apagam da vida que tocamos”. E a vida não pode ser limitada a alguns gráficos bem elaborados, a vida é bem maior do que uma teoria.
Algo que eu não mencionei até agora: tem romance? Tem. Com uma menina não convencional – todos que aparecem no livro são irreverentes de algum modo – chamada Lindsey, quem ele conhece na cidade Gutshot, Tennessee, onde ele e o amigo se estabelecem. Ela e Colin têm um relacionamento gradual, de amizade a princípio. Não espere aquele encontro “oh-meu-Deus-ele-era-tudo-o-que-eu—tinha-esperado-por-toda-a-minha-vida”. Esse tipo de encontro nem cabia na história e na forma como se desenvolveu. De tudo, o romance foi – a meu ver – o que recebeu menos enfoque e embora tenha lá sua importância – e alguns momentos cute os quais eu dei sorrisinhos -, não é a parte relevante aqui. A relação entre eles, para mim, transcendeu um romance – eles tinham uma conexão maior, como pessoas mesmo, do que simplesmente “boy likes girl and girl likes boy”*.
"— Essas são as pessoas de quem a gente gosta de verdade. As pessoas com quem cê pode pensar alto.
— As pessoas que estiveram nos seus esconderijos.
— As pessoas com quem cê mordisca o polegar.
— Oi.
— Oi.
— ...
— ...
— Uau. Minha primeira Lindsey.
— Meu segundo Colin.
— Isso foi divertido. Vamos tentar de novo.
— Negócio fechado.
— ...
— ...
— ...
— ..."
Esse livro foi tão especial para mim por isso: aquela história que te faz pensar muito em coisas que nunca tinha pensado e coisas que você tinha pensado e serve para reafirma-las. Eu não sei se idealizei demais a história, ou se enxerguei demais onde não tinha tanto. De qualquer forma, a sensação que tive quando terminei foi linda. Este foi apenas o 2° livro de John Green que eu li, sem comentários sobre como procurarei ler todos, ele tem um dom com as palavras que eu acho incrível. A literatura é demasiadamente única para mim. Como disse uma professora que gosto muito da faculdade, “o meu mundo se abriu totalmente através das palavras”. Para mim, esse é um dos livros que reafirma isso.
*Road trip: “viagem pela estrada”. Comum nos Estados Unidos, as pessoas pegam o carro e seguem pela estrada sem rumo certo ou destino final.
*Boy likes girl and girl likes boy: “o garoto gosta da garota e a garota gosta do garoto”.