CooltureNews 22/07/2014
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Não é sempre que um livro começa deixando claro quem são os culpados do crime, e até mesmo provocando com cenas fortes o leitor, causando uma sensação de agonia e angústia. Os Assassinos do Cartão Postal é exatamente assim, uma provocação constante do autor para com quem está acompanhando a trajetória de Jacob Kanon e Dessie Larsson atrás dos criminosos que assassinaram jovens casais em várias partes da Europa.
O primeiro sentimento que tive ao abrir o livro de James Patterson foi uma urgência. Como diz na parte de trás do livro, na descrição do autor, “as páginas viram sozinhas”, cada parágrafo levava a outro com facilidade a agilidade, mas também pressa. O texto corre, os personagens correm, a trama corre, tudo é vertiginosamente rápido. Quando encontramos Jacob, policial de Nova York e pai de uma das vítimas, ele recém-chegou a Estocolmo e o caso dos assassinatos só piora. Ele já não aguenta mais ter que correr de país em país atrás dos bandidos que sempre se comunicam com os jornais enviando postais e polaroids das cenas de crime.
A jornalista que recebe a correspondência na Suécia é Dessie e assim que os dois protagonistas se cruzam a química acontece. É interessante ver o quanto Patterson força a dupla a se juntar para conduzir a história. Logo um passa a completar o outro, ela com os conhecimentos de línguas e artes, ele com a parte policial que parece faltar até mesmo aos vigilantes de Estocolmo que cometem vários erros, tanto por serem bem educados quanto por parecerem despreparados para algo desse tamanho.
A leitura fluiu bem melhor do que esperava e fui pego de surpresa por uma escolha curiosa do autor. Praticamente todos os “capítulos” se resumem a duas páginas, alguns poucos chegando ao assombroso número de três ou quatro páginas, vejam só! Isso dá uma sensação de quebra de narrativa forte ao texto do autor, já conhecido por seus suspenses. Aliás, é evidente que Patterson sabe bem como descrever um assassinato e uma discussão policial, mas senti falta de um clímax mais elaborado. As últimas páginas escorreram demais, sobrando água nesse caldo.
Outra questão interessante: O casal Rudolph, os grandes vilões aos quais somos apresentados logo na primeira página, se mostram tão insanos quanto metódicos, numa mistura de violentos psicopatas e apaixonados artistas. As grandes revelações entre eles, que depois da primeira não são assim tão fortes, só adicionam elementos de loucura e caos aos monstros que são. Patterson cria um difícil embate aqui entre a empatia pela conversa mole deles e o asco diante de suas ações.
Os Assassinos do Cartão Postal realmente foi um dos livros que matei mais rápido nestes anos todos que não foi de literatura infanto juvenil. Atribuo isso ao tamanho (bem menor do que a maioria dos livros que pego pra ler) mas também à facilidade de acompanhar o texto do autor. O que é uma grande qualidade. Claro, ainda assim tem três coisas que m incomodaram um pouco. A primeira é a incapacidade da maioria dos coadjuvantes, parte deles se mostrando grandes patetas cuja utilidade ali é só de ser um entrave. Matt Duvall, por exemplo, deveria engolir seu smartphone. Agora, por favor.
Outra é como o autor parece não dar grande importância ou talvez queira deixar isso para um livro futuro aos familiares de Dessie. Fica claro na parte final que há ali o espaço para uma grande narrativa sobre seus duvidosos tios e seu primo Robert, o personagem mais caricato de todos. E claro, mais uma vez o clímax. Fiquei surpreso com a quantidade de páginas que faltava quando chegamos ao confronto final. Do jeito que li, me soou que o autor foi bem fatalista. Aconteceu isso, isso e isso e pronto. Sem discussão. Apesar de ter gostado do desfecho, fiquei com a impressão de que algo sobrou ali a ser resolvido.
Um último detalhe e meu maior motivador ao recomendar este livro: Normalmente suspenses policiais ficam brincando com o truque feito pelos criminosos para se safarem. Passei várias páginas tentando entender porquê o autor deixou tudo tão mastigado já de início e, como Jacob, desconfiei da obviedade. Quando enfim os Rudolph soltaram seu coringa, admito, fiquei impressionado. Por este ás, pela grande jogada deles, quase compensa o livro todo.
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